“Ou encaro ou me afundo na depressão”, diz Neto da Chapecoense
Um dos sobreviventes da tragédia disse que a opção de estar junto dos jogadores é uma saída pra representar os que faleceram
atualizado
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Pouco mais de um mês depois de sobreviver ao acidente aéreo na Colômbia, o zagueiro Neto esteve na reapresentação do elenco da Chapecoense para 2017. O retorno ao futebol ainda é um objetivo distante para o jogador, mas ele optou por estar junto de seus novos companheiros nesta sexta-feira (6/1). E após se juntar a eles, explicou por que decidiu ir ao clube.
“Tenho que encarar, não tenho para onde correr. Ou encaro, vou representar aqueles caras como merecem, ou me afundo na depressão. Eu lembro das coisas como aconteceram até a batida do avião. Está muito fresco na minha mente ainda. A minha mente tinha bloqueado tudo que tinha passado, perguntei o que tinha acontecido comigo, se eu tinha machucado no jogo…”, lembrou.
Neto foi o sobrevivente que viveu estado mais crítico após a queda do avião da Chapecoense na madrugada de 28 para 29 de novembro do ano passado. O acidente deixou 71 mortos, sendo boa parte deles integrantes da delegação do clube, que ia para a Colômbia disputar a decisão da Sul-Americana, contra o Atlético Nacional. O zagueiro foi o último resgatado com vida, chegou a ficar em coma nos primeiros dias no hospital, mas evolui rapidamente desde então.
“É uma situação muito diferente da que sempre vivi. Entrar num clube que estava na final, em que tinha muitos amigos há anos. É uma situação diferente, mas a gente tem que crer que Deus tem um propósito para todas as coisas. Tenho que recuperar, né? Tenho algumas lesões importantes. Uma hora ou outra ia ter que vir para cá e dar de frente com isso. É duro, tinha gente que conhecia desde os 17 anos, pessoas que me ajudaram. Mas tem uma hora que a gente tem que encarar a realidade”, comentou.
Apesar da boa evolução física, a recuperação não está sendo nada fácil para Neto. Ele explicou que ainda tem dificuldades psicológicas para lidar com o acidente, uma vez que só ficou sabendo do ocorrido dias depois de ser acordado. Além disso, ainda sofre com lesões que limitam suas atividades diárias.“Quando eu falo que estou um caco, minha esposa fala que eu não me vi antes. Para mim, eu estou muito mal. Não era para eu estar aqui. Tenho quase 10 quilos para recuperar ainda. Eu me sinto frágil, lesão no pulso. Ninguém imagina estar em uma situação dessas. Eu não sabia nem ficar em pé e engolir comida. Quando entrei no chuveiro pela primeira vez, parecia o mar do Caribe de tão bom”, contou.
Neto também comentou sobre a diferença de tratamento que tem sentido dos torcedores da cidade. “Muita gente veio me dar um abraço, dizer que eu estava vivo. A gente agradece o carinho de todos. Alguns eu não conheço, mas eles me conhecem. Quero ajudar o clube de alguma forma. Estando aqui, acho que posso agregar de alguma forma para quem está chegando. Me viam como ídolo, agora me veem como um milagre, não acreditam que eu sobrevivi. Nossa vida é assim, uma luta constante.”
Com a recuperação evoluindo bem, o prognóstico é de que Neto possa voltar a atuar em cerca de 120 dias. O desejo do jogador é este, mas antes ele quer deixar para trás de vez os traumas do acidente. “Primeiro tenho que recuperar minha saúde, minha mente, vir aqui é o que vai me dar força. Eu fiquei 10 dias apagado, em coma, então para me contarem a verdade foram mais 5 dias. 15 dias depois eu não sabia de nada. Para mim está sendo tudo meio novo.”