O Big Brother Brasil é o novo futebol (para o bem e para o mal)
Com a maioria dos campeonatos suspensos, brasileiro abraçou o reality da Globo como um Fla x Flu, e incluiu os melhores e piores aspectos
atualizado
Compartilhar notícia
Terça-feira, 31 de março de 2020. É próximo da meia-noite. Da janela dos prédios em bairros de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e sabe-se lá onde mais, é possível ouvir gritos empolgados. Pronunciamento do presidente? Gol da Seleção Brasileira? Libertadores? Nada disso, era só o apresentador Tiago Leifert anunciando que o participante Felipe Prior havia sido eliminado no paredão contra Manu Gavassi, no Big Brother Brasil 20.
Desde o início da atração, que estreou no dia 21 de janeiro, o reality show demonstrou afinidade com o esporte preferido do brasileiro. A começar pela escolha de participantes: Hadson Nery, o Hadybala, foi jogador profissional. Ele surgiu na base do Corinthians, passou por clubes pequenos do Brasil e foi treinado por Jorge Jesus, no União Leiria.
Além dele, a dupla Felipe Prior e Babu, corintiano e flamenguista roxos, respectivamente, volta e meia relembravam grandes momentos e jogadores do esporte, especulavam sobre as atuais fases de suas equipes e usavam analogias futebolísticas para discutir suas estratégias de jogo.
A empolgação da dupla PriBu com o esporte foi tanta, que contagiou a classe boleira brasileira. Neymar, Gabigol, Richarlison e Vinicius Jr. foram apenas alguns dos principais nomes que utilizaram suas redes sociais para prestar apoio aos seus participantes preferidos, fazer campanha e até sortear camisetas caso eles permanecessem no programa.
“Acho que os jogadores curtiram bastante o Prior, pelo jeito dele, tem muito a ver com a gente, de falar o que pensa, ser explosivo às vezes”, teoriza Zé Love, atualmente no Brasiliense, outro atleta que vem acompanhando com afinco a 20ª edição do Big Brother.
Para Fabio Calo, psicólogo, mestre em Análise do Comportamento e diretor do Inpa (Instituto de Psicologia Aplicada), essa “transferência de paixões”, principalmente no momento em que estamos vivendo, em um isolamento social, é perfeitamente natural.
“O homem é um ser social e, diante desse contexto da sociedade, ele vive o que aproxima, o algo comum e que o afasta dos demais, as diferenças. Seja em relação à política, religião, time de futebol, ideologia, personagem controverso de filme ou integrante de BBB. Em cada uma dessas expressões humanas, as pessoas se expõem, se manifestam juntas aos seus e obtêm reforço social para essas manifestações”, explica.
Rivalidade acirrada
Assim como acontece no futebol, a rivalidade e as brigas de torcida saíram da disputa e foram parar nas “arquibancadas virtuais”. A situação ficou ainda mais flagrante no último paredão, que contou com mais de 1 bilhão e meio de votos para eliminar Felipe Prior, Manu Gavassi ou Mari González.
Como participantes de torcidas organizadas rivais que se encontram em metrôs e ruas nas imediações dos estádios para expressar fisicamente o seu desprezo pelo outro, fãs de Prior e Manu se encontraram nos replies e retuítes para trocarem acusações de cunho moral e ético.
“Assim como citamos o futebol, a religião, a ideologia e vemos os conflitos que aparecem entre grupos com pensamentos diferentes, o mesmo tem acontecido com os personagens do BBB e suas torcidas. As pessoas se identificam com ideias, com postura e passam a defender esses avatares como se fossem membros da família. Soma-se a isso a sensação de anonimidade que a internet fornece e vira uma tempestade perfeita para condutas mais reprováveis”, esclarece Fábio Caló.
Com a eliminação de Prior no último paredão, a classe futebolística promete debandar em massa da audiência do programa. Neymar já avisou que não pretende mais assistir, e Zé Love também já afirmou que não vai mais acompanhar como antes. Porém, com a presença do flamenguista Babu na casa, é possível que as torcidas permaneçam juntas em prol da causa do intérprete de Tim Maia. Resta saber se a disputa ficará só em campo, ou melhor, na casa.
Denúncia
Na última sexta-feira (03/04), uma reportagem da Marie Claire denunciou atos de violência sexual estupro que o participante Felipe Prior teria cometido antes de entrar na casa. O paulista, obviamente, perdeu parte de seus apoiadores. Entre os jogadores de futebol que o apoiavam, até a data de publicação desta matéria apenas o jogador Richarlison, do Everton e da Seleção Brasileira, se manifestou.
Fala, pessoal! Eu não sou juiz, mas também não passo pano pra ninguém. Violência contra a mulher é abominável, não importa quem cometeu e nem porquê, não existe motivo no mundo pra que isso aconteça. Aprendi isso desde cedo.
— Richarlison Andrade (@richarlison97) April 3, 2020
Utilizando suas redes sociais, o jogador afirmou que não é juiz, mas também não “passaria pano” e condenou a violência contra a mulher.