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No Dia do Orgulho LGBT, homofobia ainda marca presença no futebol

Após o ex-jogador Richarlyson se assumir bissexual e a a discussão ter movimentado as redes, o futebol brasileiro ainda não é tão inclusivo

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Rafael Ribeiro/Vasco
Cano levanta bandeirinha LGBT - Metrópoles
1 de 1 Cano levanta bandeirinha LGBT - Metrópoles - Foto: Rafael Ribeiro/Vasco

O Dia do Orgulho LGBTQIA+, celebrado nesta terça-feira (28/6) em todo mundo, coloca luz em debates que ficam apagados durante o resto do ano. O futebol brasileiro, um desses espaços onde a homofobia é recorrente, ganhou um novo episódio na última semana após o ex-jogador Richarlyson se assumir bissexual.

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Além disso, trata-se de um movimento que tem como um dos principais objetivos lutar por direitos, por novas formas de identificação e contra qualquer tipo de discriminação
Segundo integrantes da comunidade, a sigla representa posicionamento de luta, resistência e orgulho
A letra L faz menção às lésbicas, ou seja, mulheres que se relacionam com mulheres
A letra G refere-se a palavra Gay, utilizada para descrever homens que se sentem atraídos por outros homens. Assim como no caso de pessoas lésbicas, não precisa ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do mesmo sexo para se identificar como gay
A letra B representa os bissexuais, pessoas que se relacionam tanto com pessoas do mesmo gênero quanto do gênero oposto
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A sigla LGBTQIAPN+ é utilizada para representar pessoas que são lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuais, pansexuais e não-binárias, por exemplo, em uma só comunidade

Giovanna Bembom/Metrópoles
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Além disso, trata-se de um movimento que tem como um dos principais objetivos lutar por direitos, por novas formas de identificação e contra qualquer tipo de discriminação

Marc Bruxelle / EyeEm/ Getty Images
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Segundo integrantes da comunidade, a sigla representa posicionamento de luta, resistência e orgulho

Carmen Martínez Torrón/ Getty Images
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A letra L faz menção às lésbicas, ou seja, mulheres que se relacionam com mulheres

Jon Vallejo/ Getty Images
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A letra G refere-se a palavra Gay, utilizada para descrever homens que se sentem atraídos por outros homens. Assim como no caso de pessoas lésbicas, não precisa ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do mesmo sexo para se identificar como gay

Pollyana Ventura/ Getty Images
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A letra B representa os bissexuais, pessoas que se relacionam tanto com pessoas do mesmo gênero quanto do gênero oposto

Matt Jeacock / EyeEm/ Getty Images
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A letra T refere-se aos transsexuais, transgêneros e travestis, que não se identificam com o gênero pelo qual foi determinado ao nascimento

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A letra Q faz alusão às pessoas Queer, termo inicialmente utilizado de forma pejorativa, mas que acabou sendo adotado pela comunidade de forma a abraçar todos que não se encaixem dentro da heterocisnormatividade

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A letra I representa as pessoas diagnosticadas como intersexo. O termo é utilizado para descrever pessoas que nascem com características genéticas e físicas diferentes das definições biológicas comuns

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A letra A faz menção às pessoas assexuais, que não sentem atração sexual por outras pessoas, mas podem sentir interesse afetivo e namorar, por exemplo

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A letra P refere-se aos pansexuais, pessoas que desenvolvem atração física e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero

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A letra N representa os não-binários, ou seja, que não se identificam com um gênero específico ou que não têm gênero

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O símbolo + é utilizado para abranger pessoas não-cis que não se consideram trans ou não-binárias, por exemplo, e por todas as outras orientações que não são hétero

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A notícia movimentou as redes e o debate sobre a homofobia dentro dos gramados se reacendeu, principalmente pelo fato de o ídolo do São Paulo ter sido o primeiro astro da modalidade a se assumir no Brasil.

Em entrevista ao podcast Nos Armários dos Vestiários, série jornalística que detalha a homofobia e o machismo no futebol brasileiro, o jogador, que passou a maior parte da sua carreira tendo de lidar com episódios preconceituosos e comentários sobre seu “jeito”, afirmou que o maior debate deve ser sobre os problemas no futebol, e não sobre a sexualidade do atleta. 

“Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso”, pontuou ele.

Ainda que a discussão tenha movimentado cada vez mais as redes sociais, o futebol masculino no Brasil não é tão inclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, o primeiro jogador a assumir sua homossexualidade foi Justin Fashanu, 1990. Foram mais 32 anos até que o próximo jogador britânico também falasse sobre sua verdadeira orientação sexual, Jake Daniels, do Blackpool, tomou os noticiários do mundo depois de dizer ser gay.

Enquanto a passos lentos eles tomam a iniciativa de enfrentar o preconceito, episódios de homofobia acontecem constantemente dentro dos estádios. Um exemplo recente é o grito das torcidas, que ainda insistem em utilizar termos pejorativos para provocar os adversários.

Esse tipo de violência é a mais sofrida pela comunidade LGBTQIA+. De acordo com relatório divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), baseado em dados obtidos pelo Disque 100 em 2017, cerca de 35% das denúncias eram relacionadas a agressões psicológicas, representando a maior parcela dos registros.

O fato se torna ainda mais importante quando um levantamento feito pelo portal O Contra Ataque é observado. De acordo com os dados, até 2016 não existia qualquer menção dos clubes de futebol brasileiros aos torcedores LGBTs. O posicionamento só começou a partir de 2017.

Além disso, o levantamento mostra que, em 2020, 17 dos 20 times de maiores torcidas no país decidiram fazer publicações sobre o Dia do Orgulho LGBTQIA+ e sobre o Dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia, que acontece no dia 17 de maio.

Um olhar clínico

A psicóloga Clara Parente explica que o tabu relacionado à sexualidade dos jogadores de futebol acontece por conta da modalidade carregar historicamente “uma pedagogia de gênero e sexualidade muito forte, que incentiva e reproduz discursos sobre o comportamento esperado dos atletas e, consequentemente, de seus torcedores”.

Esses discursos, atravessados por diversas concepções de masculinidade e feminilidade e partindo de uma lógica heterocentrada, sexista e homofóbica, podem inclusive ser instrumentos de repressão, dominação e violência“, pontua ela.

Parente também aponta que esse tabu acaba criando um medo nos jogadores. O temor, por sua vez, pode afetar de maneira negativa a saúde mental dos atletas e prejudicá-los em inúmeras áreas da vida.

“Esconder-se de sua sexualidade ou não se assumir, muito mais do que apenas controlar os próprios comportamentos, também traz o medo de vivenciar diversas violências nas suas mais diversas modalidades – física, psicológica, moral, institucional. Mais do que o medo de ser quem realmente é, o medo constante da violência faz muito mal e pode sim trazer prejuízos à saúde mental”, explica a especialista.

Segundo a psicóloga, é importante lembrar que a sexualidade “é um elemento constituinte da identidade” e que reprimir uma parte que faz parte da sua essência “pode ser uma necessidade de proteção”, mas também é “uma forma de nos violentar e trazer uma série de consequências para o desenvolvimento psíquico e identitário”.

Clara Parente lembra que, quanto mais jogadores LGBTs conseguirem utilizar os espaços de visibilidade a seu favor, mais crianças e jovens da comunidade vão encontrar, ao lado de suas famílias, possibilidades palpáveis de futuro e de pertencimento a espaços esportivos.

Apesar de o futebol brasileiro estar pedindo por reformulações profundas em sua cultura, o processo nem sempre é rápido e tranquilo. Mesmo assim, com uma construção lenta, difícil e cheia de disputas, a mudança é extremamente necessária.

“Não é fácil, mas precisamos estar juntos e trazer para o debate público questões relevantes como essa. Não é preciso ser especialista em saúde mental para entender os prejuízos que a violência causa. Mas é preciso estar disposto a questionar os próprios ideais para acolher os outros e construir um mundo melhor, dentro e fora do campo”, finaliza ela.

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