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Copa do mundo 2022

Marrocos na Copa: eles vieram, eles viram e (quase) conquistaram

Apesar da derrota para a França, os primeiros africanos a chegarem a uma semi deixarão legado para o continente nas próximas Copas

atualizado

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Marrocos comemora durante a Copa do Mundo
1 de 1 Marrocos comemora durante a Copa do Mundo - Foto: MB Media/Getty Images

Doha (Catar) – A organização da Copa do Mundo do Catar nem precisou inflar os números desta vez. Bastava observar as arquibancadas do encantador, mas nada pragmático Al-Bayt, para entender a configuração: cerca de 90% de vermelho, em apoio à seleção de Marrocos, contra 10% (se muito), de azul branco e vermelho, torcedores da França, no encontro entre as duas nações pela semifinal do Mundial.

A esta altura, você já sabe: Marrocos foi a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal de Copa do Mundo. O time comandado pelo técnico Walid Regragui contou com as lideranças técnicas de Achraf Hakimi e Hakim Ziyech, com as ascenções dos meias Amrabat, Ouhani e Boufal e a solidez de Bounou, Saiss e El Yamiq para liderar o Grupo F da competição e passar por gigantes como Espanha e Portugal. Predicados que logo foram derrubados pela França.

Até a semifinal do torneio, Marrocos só havia levado um gol. O lateral Theo Hernández precisou de apenas cinco minutos para abrir o placar no Al-Bayt. A pancada, no entanto, não pareceu ter sido sentida pela equipe, que continuou sendo empurrada pelos marroquinos.

As vaias quando a França dominava a posse de bola; os gritos de guerra e as palmas, incessantes durante todo o duelo, mesmo quando estava claro que o avanço de Marrocos no Mundial terminaria nesta fria noite desértica de quarta-feira (14/12).

Desértica, claro, só pela região onde está localizado o estádio de Al-Bayt. Apesar de Marrocos não ter figurado nem entre as 10 nações que mais compraram ingressos para o Mundial, de acordo com informações divulgadas pela Fifa, a presença de seus torcedores foi sendo mais sentida nas ruas e metrôs de Doha à medida que o time de Regragui avançava na competição.

Além dos cerca de 20 mil marroquinos que vivem no Catar, a seleção africana foi sendo apoiada por torcedores árabes de diferentes nacionalidades, além de um reforço que poderia ter vindo de casa. A Royal Air Maroc havia prometido disponibilizar 30 voos que levariam torcedores até o Catar para a partida decisiva contra a França, mas teve que voltar atrás devido ao medo das autoridades do país em receber um alto volume de fãs sem ingresso para o duelo.

“Após as últimas restrições impostas pelas autoridades do Catar, a Royal Air Maroc lamenta informar os clientes sobre o cancelamento de seus voos operados pela Qatar Airways”, disse a companhia aérea em comunicado por e-mail.

Sem problemas. Mesmo que grande parte dos marroquinos não tenham podido estar no Al-Bayt, talvez só a Argentina possa se gabar de ter recebido tanto apoio durante a sua campanha, com vídeos viralizando de festas em Doha, Casablanca, passando por Marrakech, Fez, Tangier e Rabat.

“Quando você assiste o Rocky, você quer torcer para ele por causa de sua determinação e compromisso. Eu acredito que sejamos o Rocky desta Copa do Mundo”, disse Walid Regragui em coletiva de imprensa antes da partida contra a França. “Quando você é um time menor, você precisa sonhar, acreditar. Eu acho que é uma mensagem importante para o mundo. Eu acredito que o mundo, agora, esteja com Marrocos”.
No islamismo, a palavra para crer em um sonho aparentemente impossível é “nyyah”, algo que Regragui tem sabido infligir muito bem em seus jogadores e, consequentemente, em todo o povo marroquino. “Nós não somos favoritos, mas estamos confiantes — talvez isso me torne um pouco louco? Um pouco de loucura pode ser bom”, afirmou, sorrindo, na mesma coletiva.

A loucura final, derrotar a França e chegar a uma decisão de Copa do Mundo, ficou a um passo de acontecer. Marrocos lutou bravamente, chegou a assustar os europeus, mas o gol de Theo Hernández ainda no 1º tempo acabou se provando o decisivo (a França ampliou no 2º tempo, com Muani). No entanto, uma loucura ainda maior está nos planos da nação.

Marrocos pretende lançar sua candidatura para sediar a Copa do Mundo de 2030 após ter falhado nas campanhas de 1994, 1998 e 2010. E o futuro parece brilhante, em campo, também para sua seleção.

Times marroquinos venceram tanto as categorias masculina e feminina da Champions League e da Copa das Confederações (o equivalente à Europa League ou Copa Sul-Americana) africanas. E com o exemplo dado por Ouhani, Hakimi e Ziyech no Catar, uma nação apaixonada por futebol como Marrocos continuará produzindo jogadores de talento, inspirados pelos comandados de Regragui.

Marrocos foi a primeira seleção africana a se classificar para uma Copa, em 1970. Em 1986, foram também os primeiros africanos a conseguir sobreviver à fase de grupos. O último título foi conquistado há 46 anos, a Copa Africana de Nações de 1976. Nesta quarta, Marrocos foi derrotado, mas com a estrutura montada e a campanha no Catar, é provável que o futuro seja mais bem-sucedido não só para Marrocos, como para todo o futebol do continente. Afinal, Rocky não fica nas lonas por muito tempo.

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