Manifesto e “ameaças”: as falas de Tite e atletas sobre a Copa América
Acabaram os compromissos da Seleção Brasileira pelas Eliminatórias da Copa do Mundo e agora o foco será voltado totalmente para o torneio
atualizado
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Acabaram os compromissos da Seleção Brasileira pelas Eliminatórias da Copa do Mundo e agora o foco será voltado totalmente para a Copa América. Se é que isso é possível. A decisão de fazer a competição no Brasil gerou tantos debates e manifestações, que será difícil se concentrar somente no futebol.
Há nove dias a Conmebol anunciava a mudança de sede da Copa América: saia Colômbia e Argentina, e entrava o Brasil. Esta decisão foi bastante questionada e criticada entre atletas e treinadores de diferentes seleções, além do público, políticos e médicos.
Foram muitas palavras, desabafos, “ameaças”, indignações, boatos, mas parece não ter mais jeito. A copa começa no próximo domingo (13/6) e não há o que possa ser feito para mudar isso. Mas, o Metrópoles lembra aqui tudo que foi dito antes da bola rolar.
No dia 3, Tite confirmou que houve uma reunião com os atletas na qual foi externada a opinião de todas ao presidente da CBF, Rogério Caboclo, sobre a realização da competição no país:
“Temos uma opinião muito clara e fomos lealmente, numa sequência cronológica, eu e Juninho, externando ao presidente qual a nossa opinião. Depois, pedimos aos atletas para focarem apenas no jogo contra o Equador. Na sequência, solicitaram uma conversa direta ao presidente. Foi uma conversa muito clara, direta. A partir daí, a posição dos atletas também ficou clara. Temos uma posição, mas não vamos externar isso agora. Temos uma prioridade agora de jogar bem e ganhar o jogo contra o Equador. Entendemos que depois dessa Data Fifa as situações vão ficar claras. Depois desses dois jogos, vou externar a minha posição”, afirmou o treinador.
No dia seguinte, o jornal espanhol As publicou que os jogadores da Seleção teriam se sentido traídos pela direção da CBF, pois, segundo eles, poderiam ser vistos como insensíveis por disputarem uma competição desnecessária num país que vive uma grave crise sanitária, com quase 500 mil mortos vitimados pelo coronavírus. E, assim, eles já teriam decidido não jogar a Copa América.
Ainda em 4 de junho, o O Globo noticiou a possibilidade de Tite deixar o comando depois do jogo contra o Paraguai dessa terça, acompanhado do rumor de que Renato Gaúcho assumiria o cargo. No mesmo dia, o Brasil entrou em campo para enfrentar o Equador pelas Eliminatórias e ao fim da partida, Casemiro deu entrevista.
O capitão da Seleção driblou as perguntas do repórter da Globo, Eric Faria, como pôde, mas confirmou as informações anteriores: “Nosso posicionamento todo mundo sabe, mais claro impossível, Tite deixou claro nosso posicionamento e o que nós pensamos sobre a Copa do Brasil. Existe respeito e uma hierarquia que temos que respeitar, e claro que queremos dar nossa posição.”
“Queremos falar. Não queremos desviar o foco, porque isso (Eliminatórias) para nós é a Copa do Mundo. Mas queremos falar, expressar a nossa opinião, se é certo ou não, cada um vai determinar, mas queremos expressar nossa opinião, sim”, constou Casemiro.
A chance da saída de Tite, bem como a dúvida quanto a participação do Brasil na Copa América, foi descartada no dia 7, depois do afastamento de Caboclo da presidência da CBF. O diretor foi retirado pelo Conselho de Ética após a denúncia de assédio sexual e moral feita por uma funcionária da entidade.
Mesmo evitando polêmicas, Tite comenta momento turbulento
No meio da tarde do dia 7, às vésperas da partida contra o Paraguai, Tite e seu auxiliar Cleber Xavier deram entrevista coletiva. Mesmo sem se aprofundar nas questões mais delicadas, Tite não deixou de responder sobre a situação envolvendo Rogério Caboclo e a campanha realizada por aliados ao Governo Federal que pediam sua saída.
Com relação à denúncia de assédio sexual, o treinador da seleção reconheceu a gravidade do caso, mas evitou se prolongar . “Existe um Comitê de Ética da CBF que toma as devidas providências. Não é de nossa alçada”, concluiu o treinador.
Ele ainda revelou a dificuldade de afastar o momento turbulento fora de campo na preparação para os compromissos contra Equador e Paraguai.
“Nós temos dito que temos uma capacidade e inteligência emocionais muito grandes, para saber filtrar as situações, ter tranquilidade, sensatez, apesar das provocações que fazem. Claro que atrapalha, sim, é desafiador. Vamos precisar disso de novo no jogo contra o Paraguai, essa abstração e foco. Externo isso de forma pública o que falei a eles”, revelou o treinador.
Sobre o tom político que o debate sobre a realização da Copa América passou a ter, com manifestações do vice-presidente Hamilton Mourão, e do filho do presidente, Flávio Bolsonaro, Tite evitou rebater as falas. O treinador se limitou a dizer em qual seria seu foco neste momento.
“Vou falar sobre o meu juízo e o que a minha escala de valores dizem. Tenho muito respeito ao meu trabalho, à seleção brasileira, a esse momento da Copa do Mundo e de Eliminatórias. E a melhor maneira de retribuir o carinho das pessoas que me apoiam e ao respeito do que estão contra é fazer o meu melhor trabalho possível. É nisso que vou me ater”, afirmou o Tite.
Questionado sobre uma possível necessidade de alinhamento entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, Tite foi mais direto. “Tenho que estar alinhado com futebol”, se limitou a comentar.
Manifesto
Após a vitória sobre o Paraguai, o zagueiro Marquinhos concedeu entrevista ainda no campo de jogo. O zagueiro não confirmou a participação da equipe na Copa América, mas afirmou que os jogadores nunca disseram não à camisa da Seleção Brasileira.
Porém, por volta de uma hora após o triunfo sobre os paraguaios, os jogadores se manifestaram nas redes sociais. Os atletas não concordam como a competição vem sendo conduzida, mas que não deixarão de vestir a camisa do Brasil. Leia a publicação na íntegra:
“Quando nasce um brasileiro, nasce um torcedor. E para os mais de 200 milhões de torcedores escrevemos essa carta para expor nossa opinião quanto a realização da Copa América.
Somos um grupo coeso, porém com ideias distintas. Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil.
É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia mídia estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros.
Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira”, encerra o texto.
Embora os jogadores afirmem que não se recusariam a vestir a camisa da Seleção Brasileira, ainda não há, de fato, uma confirmação ou posição oficial da CBF, nem dos jogadores e da comissão técnica, sobre a participação na Copa América.
Caso a presença do Brasil seja confirmada, os comandados de Tite encaram a Venezuela no próximo domingo (13/6), na abertura da competição continental. A partida será disputada no Mané Garrincha, às 18h.