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Jogadoras do Gama acusam empresário de deixá-las sem comida enquanto ostenta vida de luxo

De acordo com atletas, Ítalo Batista chegou a esbanjar dinheiro em festas recentes, não cumpriu os pagamentos e sumiu após as denúncias

atualizado

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David Pena/Divulgação
Time feminino do Gama
1 de 1 Time feminino do Gama - Foto: David Pena/Divulgação

O futebol feminino do Gama terminou sua participação no Campeonato Candango 2020 no último domingo (22/11). A derrota por 4 x 0 para o Cresspom foi dolorida, mas não passou nem perto da tristeza que acompanha as jogadoras desde o início da competição. Um vídeo postado por parte do elenco na rede social denuncia calote de um empresário, campos impróprios para treinos e até falta de comida na preparação para os jogos.

A situação de calamidade foi externada por quatro jogadoras durante uma transmissão ao vivo no Instagram do time. Juntas no sofá da casa onde ainda vivem sete atletas, Ludymila Bárbara, Jade Cristina, Lorena Gonçalves e Cíntia Silva pedem ajuda. “Uma pessoa destruiu nossos sonhos. Temos passado momentos difíceis aqui na casa. A gente chegou a jogar com oito, porque ele sumiu com o dinheiro da inscrição das atletas. Tivemos danos físicos e mentais. Muitas vezes ficamos preocupadas se ia ter o que comer antes dos treinos. A gente não sabe para onde ele levou esse dinheiro”, desabafa Ludymila.

O homem citado por elas é Ítalo Batista Teodoro Rodrigues. O empresário esteve à frente do futebol feminino do Gama durante o Candangão. Dono de um “projeto social” chamado União Gamense FC – criado em 2017, suspenso em 2019 e retomado em 2020 -, ele costurou acordo com a Sociedade Esportiva do Gama para utilizar a marca do time na competição.

Desde então, em setembro, Ítalo passou a negociar contratos, inclusive com jogadoras de fora do Distrito Federal. Segundo as várias atletas ouvidas pelo Metrópoles, nenhuma recebeu auxílio ou salário prometido por ele. Ao contrário, desconfiaram de algo errado quando notaram a vida de ostentação do empresário.

“O Ítalo me mandou uma mensagem e pediu para fechar com o time. Eu ia para o Cresspom, mas tinha amigas no Gama e aceitei. Mas comecei a achar estranho na primeira semana. Ele indo para churrascaria com as meninas, dando bebida para menores de idade, R$ 100 para quem virasse uma dose. A partir daí, comecei a achar esquisito. Não estava pagando nem minha passagem e dando festa. Falei que não iria mais e ele prometeu acertar”, relata Dayara Bispo, que registrou Boletim de Ocorrência da situação.

Sem cumprir o acordo com as jogadoras, Ítalo passou a ser cobrado também em outras áreas. Para se ter uma ideia, o Gama atuou na primeira rodada com apenas oito jogadoras. Isso ocorreu porque o empresário não registrou as contratadas a tempo. A comissão técnica, liderada por Singo Santos, e companheiras de time fizeram uma vaquinha para inscrever o restante das atletas.

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A súmula da partida com apenas 8 atletas
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A estreia do time foi com apenas oito atletas, já que as demais não haviam sido registradas pelo empresário

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A súmula da partida com apenas 8 atletas

Dayara afirma que chegou a ir à casa de Ítalo Batista cobrar a dívida. A mãe dele, no entanto, afirmou que não sabia da situação e informou que ele havia feito empréstimo em nome da avó. A história foi confirmada pelo técnico Singo. “O Ítalo foi uma pessoa que decepcionou todo mundo. Fui atrás da mãe dele, ele fez esse empréstimo consignado em nome da avó de 82 anos”, ratificou.

O dinheiro consignado, no entanto, também não foi empregado no Gama. “Ele aparecia (nos treinos) de vez em quando. Quando faltava alimentação para as meninas, ele não aparecia. Depois que as meninas perceberam (o calote), ele passou a pedir dinheiro para elas. Ele usava a grana em benefício próprio. Para a filha dele”, conta Singo.

Insegurança desde o início

Kamily Vitória chegou ao time montado por Ítalo ainda no União Gamense, no início do ano. Entre as mais antigas do elenco, ela conta que Ítalo jamais soube explicar o motivo da interrupção do projeto em 2019. “Fui uma das primeiras a fechar com o time dele, no União Gamense. Um amigo meu já tinha falado para não confiar nele. Tinha história de pegar dinheiro emprestado e não pagar. Ele falava: ‘Foi para o Piauí e voltou gordo e casado.’ Esse time de 2020 não tinha muito dinheiro, mas não era projeto social. Quando colocou os patrocínios do profissional, ele gastava com festa, consertava o celular das jogadoras. Todo fim de semana e no meio de semana era pagode”, relata Kamily.

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As jogadoras criaram uma vaquinha virtual para tentar amenizar as dívidas
Mesmo com calote, comissão técnica e jogadoras ficaram até o final da competição
Elas relatam que a união entre elas ajudou a manter a vontade de jogar
Grupo seguiu firme até a rodada final
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Os treinos eram realizados em um campo público e sintético no Gama

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As jogadoras criaram uma vaquinha virtual para tentar amenizar as dívidas

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Mesmo com calote, comissão técnica e jogadoras ficaram até o final da competição

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Elas relatam que a união entre elas ajudou a manter a vontade de jogar

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Grupo seguiu firme até a rodada final

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A atleta Susan Cortes também pretende registrar ocorrência e acionou um advogado. De acordo com ela, o início parecia ser promissor, mas rapidamente “as coisas foram tomando outro rumo”. “Teve um jogo que ele pediu para ninguém ir embora, que as coisas iam melhorar e que era para confiar nele”, conta a atleta. As promessas jamais foram cumpridas. Ítalo teria deixado de pagar três parcelas de R$ 600 para ela.

Gama se isenta de culpa e tenta ajudar

Embora tenha emprestado o nome para a disputa da competição desde outubro, o Gama informa que desconhecia os problemas vividos pelas jogadoras. O clube alega que tomou ciência do caso na semana passada. De antemão, expulsou Ítalo do CT. De acordo com o diretor jurídico do time, Wendel Lopes, Ítalo tinha um projeto social e queria dar oportunidade para as jogadoras atuarem no profissional.

“Ele nos pediu o nome do Gama para colocar essas meninas para jogar. Mas não tinha autorização para negociar contratos, fazer dívidas e compras em nome do Gama. O Gama teve seu nome utilizado indevidamente por uma pessoa que não tinha poderes para isso”, argumenta Wendel.

De acordo com o que apurou o Metrópoles, Ítalo teria levantado cerca de R$ 25 mil em patrocínios. Além disso, chegou a cobrar R$ 200 de cada jogadora para receberem o uniforme, além de se beneficiar de vaquinhas entre elas e a comissão técnica.

Ítalo Batista também não teria pago os fornecedores de material esportivo, o restaurante em que encomendava marmitas para as atletas, além de taxas de arbitragem e condução. Segundo o diretor jurídico do Gama, despesas como taxa de arbitragem e condução estão sendo acertadas pelo próprio clube. Além disso, o Gama informa que já comprou passagens para o retorno das atletas de fora do DF para suas casas.

“A partir do momento que o Gama ficou sabendo disso, assumiu as rédeas. Agora, alguns problemas nem sequer chegaram para a gente. Ainda estamos tomando conhecimento. Nossa preocupação é com vidas, humanos. Nunca vamos ver usarem o nome do Gama para prejudicar alguém e ficar parados. Nós sentimos e nos colocamos ao lado das pessoas. O Gama, como instituição, está ao lado dessas pessoas”, diz Wendel.

O Metrópoles tentou inúmeros contatos telefônicos com Ítalo Batista, mas o telefone celular do empresário está “bloqueado para este tipo de chamada”. Comissão técnica, jogadoras e a Sociedade Esportiva do Gama não têm contato com Ítalo há pelo menos uma semana.

Explicações à Polícia duas vezes em 2020

Além de ser acusado de dar calote nas jogadoras, Ítalo também teve que prestar esclarecimentos à Polícia duas vezes este ano.

A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi acionada por meio do 190 para averiguar duas denúncias que envolviam o empresário em 2020. A primeira, no dia 2 de março, tratava-se de caso de violência doméstica – a mãe e a avó estavam no local e negaram as acusações. A outra denúncia, de perturbação da ordem, foi feita por vizinhos de uma chácara na Ponte Alta, no Gama. Ítalo prestou esclarecimentos e foi alertado sobre a aglomeração de pessoas no evento durante a pandemia do novo coronavírus e se comprometeu a tomar as devidas providências.

Em nenhuma das situações, porém, Ítalo precisou ser conduzido para a delegacia e as ocorrências não foram confeccionadas, tendo o problema sido resolvido pela PM no local.

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