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Fortaleza coroa reconstrução com presença inédita na Libertadores

Entre 2006 e 2009, o clube despencou da Série A para a terceira divisão. Nos oito longos anos na Série C, conviveu com quatro eliminações

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WILIAN OLIVEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Fortaleza
1 de 1 Fortaleza - Foto: WILIAN OLIVEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O torcedor do Fortaleza, que ouviu por muitos anos um canto da torcida do rival Ceará de que o time tricolor “iria morrer na Série C”, hoje vê a equipe garantir vaga na fase de grupos da Copa Libertadores pela primeira vez em sua história. A grande campanha no Brasileirão 2021 não é fruto do acaso, mas de um processo de reconstrução de um clube que, há quatro anos, disputava a terceira divisão do futebol nacional.

“Nesse período, o Fortaleza investiu em profissionalismo, com diretoria remunerada, metas e objetivos bem definidos, além de um planejamento estratégico. Investimos muito em infraestrutura, em espaço de treinamento e qualificamos profissionais. A marca foi fortalecendo, atraindo mais investimentos e mantivemos os pés no chão”, diz o presidente Marcelo Paz, que há quatro anos ocupava a vice-presidência.

Entre 2006 e 2009, o clube despencou da Série A para a terceira divisão. Nos oito longos anos na Série C, conviveu com quatro eliminações dolorosas. O roteiro parecia se repetir de forma trágica para o torcedor. Em 2012, 2014, 2015 e 2016, a equipe liderou a primeira fase da competição, mas foi eliminada no mata-mata, sendo todos os jogos em um lotado Castelão.

Já em 2017, a história foi diferente. O Fortaleza foi apenas o terceiro colocado da primeira etapa, mas superou o Botafogo-PB na soma dos dois jogos e garantiu vaga na Série B do ano seguinte. O técnico Antônio Carlos Zago, responsável pelo acesso, deixou o clube para treinar o Juventude, o que fez o Fortaleza buscar um novo treinador.

Títulos da Série B e da Copa do Nordeste

O substituto era Rogério Ceni, que iniciava sua carreira de treinador e havia treinado apenas o São Paulo. A volta à Série B, com Ceni no comando, não poderia ser melhor. Logo no ano do retorno à segunda divisão, foi líder durante grande parte da competição e campeão antes mesmo da última rodada.

Aos poucos, o clube foi investindo mais em infraestrutura sem esquecer do equilíbrio financeiro. Em 2019, realizou obras de melhoria no Centro de Excelência do Fortaleza, o estádio-sede do Fortaleza. A diretoria também aumentou o investimento em outras áreas, como no Centro de Inteligência (Cifec), que analisa o mercado de jogadores e técnicos para o departamento de futebol como forma de obter bons reforços mas com baixo custo. Não gastar sem necessidade é um lema no clube.

Em 2019, a equipe conquistou de forma inédita a Copa do Nordeste e, no ano passado, participou pela primeira vez em sua história de uma competição internacional ao disputar a Copa Sul-Americana Com as novas competições, também passaram a entrar no clube um novo dinheiro. Isso ajudou muito. Mas o ano de 2020 quase terminou melancolicamente quando o Fortaleza caiu de rendimento e escapou por pouco do rebaixamento.

A diretoria resolveu fazer ajustes na formação do elenco para realizar uma campanha segura no Brasileirão e nas demais competições. Foram mais de dez contratações para essa temporada. O time tricolor apostou em alguns jogadores rodados, mas que vinham de atuações ruins por seus clubes como o lateral e meia Yago Pikachu, do Vasco, o zagueiro Marcelo Benevenuto, do Botafogo, e o meia Éderson, do Corinthians.

“A campanha atual excedeu as expectativas. Nosso objetivo era uma vaga na Sul-Americana, significa ficar na 13ª ou 12ª posição Nós já estaríamos satisfeitos, mas vimos que poderíamos sonhar mais. Ano passado, quase caímos. Foi no sufoco. Entendemos que tínhamos que finalizar o ciclo de alguns jogadores e rejuvenescer o elenco. Apostamos também nesse perfil em jogadores que tinham talento, mas estavam em baixa nos seus clubes”, explica Paz.

O sucesso do “desconhecido Vojvoda

O Fortaleza também foi atrás de um perfil de técnico com proposta ofensiva e de intensidade. Tinha em mente uma ideia de treinador que se encaixava com a filosofia traçada pela diretoria. Tentou Fernando Diniz, mas não houve acerto e, então, procurou opções no mercado internacional.

O nome do argentino Juan Pablo Vojvoda foi sugerido dentro do departamento de futebol pelo diretor de futebol, Alex Santiago. As primeiras referências indicavam um técnico jovem com alguns bons trabalhos em times de menor orçamento, mas ainda pouco conhecido.

O Cifec foi acionado para colher informações detalhadas do seu histórico e o relatório agradou a diretoria, que fechou sua contratação. Vojvoda, de 46 anos, começou sua carreira na base do Newell’s Old Boys em 2016, e, no ano seguinte, assumiu a equipe principal do Defensa y Justicia. Também acumulou passagens por Talleres – eliminando o São Paulo na pré-Libertadores 2019 – e Huracán, além do La Calera, do Chile.

A fácil e rápida adaptação de Vojvoda à capital cearense e ao futebol brasileiro chamaram atenção. Vojvoda recusou a proposta da diretoria de residir em um apartamento com vista para o mar e mora em uma acomodação no centro de treinamento. É visto internamente como um homem simples, que vive o dia a dia do clube e querido pelos funcionários. Existe a expectativa de que sua família venha morar no Brasil em definitivo no início de 2022.

O primeiro ano do argentino no futebol brasileiro foi excelente. O Fortaleza foi uma das grandes surpresas do ano, não só por garantir vaga na fase de grupos da Copa Libertadores. “O trabalho do Vojvoda é excelente, fomos campeões estaduais, semifinalistas na Copa do Brasil pela primeira vez e tivemos a melhor campanha do clube na Série A. É um profissional comprometido, veio para vencer, muito humilde, troca ideias e também está feliz com tudo que ele encontrou aqui”, avalia Paz, que confia na permanência do treinador. “O assédio é natural. Eu acredito na permanência dele por mais um ano”. Seu contrato tem multa rescisória.

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