Ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira é banido pela Fifa
A suspensão definitiva ocorre porque o ex-dirigente cometeu o crime de corrupção em suas ações no esporte entre 2006 e 2012
atualizado
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A Fifa anunciou nesta sexta-feira (29/11/2019) a suspensão definitiva de Ricardo Teixeira do futebol. Presidente da CBF entre 1989 e 2012 e ex-membro do antigo Comitê Executivo da entidade que rege o futebol mundial, o ex-dirigente foi banido por decisão do Comitê de Ética, que chegou à conclusão de que o brasileiro cometeu o crime de corrupção em suas ações no esporte entre 2006 e 2012.
De acordo com a Fifa, Teixeira esteve envolvido em “esquemas de suborno” neste período, quando teve relação direta com as negociações da CBF, Conmebol e Concacaf com empresas de marketing esportivo. A maioria dos contratos se referia à venda de direitos de transmissão das competições organizadas por estas entidades.
O Comitê de Ética, em suas investigações, concluiu que o ex-dirigente de 72 anos infringiu o artigo 27 do Código de Ética da Fifa, ao receber propina. E, como consequência, foi punido com o banimento definitivo do futebol. Assim, Teixeira não pode exercer qualquer atividade relacionada ao esporte, tanto em nível nacional quanto em internacional.
Além disso, o ex-presidente da CBF foi multado em 1 milhão de francos suíços, equivalente a R$ 4,2 milhões. “O Sr. Teixeira foi notificado sobre esta decisão hoje [sexta], data em que teve início o seu banimento”, informou a Fifa, em comunicado oficial.
Em sua decisão, a Fifa citou material investigado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que veio à tona em maio de 2015 e causou seguidas denúncias e prisões de cartolas do futebol mundial, principalmente da América do Sul. O Comitê de Ética citou também as suspeitas de corrupção na organização da Copa do Mundo de 2014. Teixeira, antes de deixar a CBF, era presidente do Comitê Organizador Local (COL) daquele Mundial.
Mas a punição aplicada pela Fifa está mais relacionada ao recebimento de propina em contratos envolvendo a Copa Libertadores, a Copa América e a Copa do Brasil. “O Comitê conclui que o Sr. Teixeira sistematicamente/repetidamente aceitou ofertas e promessas de seguidos subornos no valor aproximado de US$ 7,7 milhões (cerca de R$ 32,6 milhões)”, explica a Fifa, em sua decisão final.
Mais especificamente, seu Comitê de Ética aponta que o ex-presidente da CBF recebeu US$ 600 mil por ano entre 2006 e 2012 em contratos ligados à Libertadores. No caso da Copa América, “há igualmente evidência suficiente na conexão de que o Sr. Teixeira aceitou o pagamento de US$ 1 milhão por ter assinado o contrato entre a Conmebol e a [empresa 4], em 2010”, diz a Fifa, sem revelar o nome da companhia citada.
“Por fim, também para o caso da Copa do Brasil, há evidências suficientes, na visão da câmara julgadora, de que o Sr. Teixeira aceitou receber os pagamentos de R$ 2 milhões por ano, compartilhados com outros dois funcionários (Marin e Del Nero)”, afirma a entidade, ao citar José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Ambos sucederam Teixeira na presidência da CBF. Esta suposta divisão de propinas teria duração estabelecida entre 2012 e 2022, totalizando R$ 10 milhões.
Defesa
Ao Estado, o advogado Michel Assef Filho, que fez a defesa de Teixeira junto à Fifa, criticou a decisão e indicou que vai recorrer junto à Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês). “Esse resultado no âmbito da Fifa era previsível, por ter havido cerceamento de defesa. Estou certo de que o Tribunal de Justiça Suíço reformará a decisão para absolvê-lo”, declarou. Teixeira pode recorrer à CAS em um período de até 21 dias após a decisão anunciada nesta sexta.
Diante do Comitê de Ética da Fifa, o advogado negou todas as acusações que pesam contra o ex-presidente da CBF e afirmou que não há provas ou evidências contra o seu cliente. Segundo a defesa, a entidade que rege o futebol mundial apenas se apropriou das conclusões dos procuradores dos Estados Unidos.
“Ele nunca recebeu propinas ou se envolveu em ato de corrupção. As acusações não são nada mais que suposições criadas por aqueles, que politicamente, tinham um interesse na posição do Sr Teixeira ou por pessoas que queriam prejudicá-lo”, relatou a defesa, em documento disponibilizado pela Fifa.
A defesa ainda contestou a veracidade e a legitimidade das evidências apresentadas pela Justiça dos EUA e alegou que a Fifa não tem jurisdição no caso porque os fatos alegados pela entidade não teriam sido praticados por Teixeira exercendo alguma função na Fifa ou aconteceram após 2012, quando ele já havia renunciado aos seus cargos no futebol brasileiro e internacional.
Teixeira foi presidente da CBF entre 1989 e 2012. A carreira como dirigente começou graças à amizade com João Havelange, ex-presidente da Fifa e da própria CBF. A saída do comando da entidade que comandou durante 23 anos se deu após ter o nome envolvido em diversas denúncias de corrupção. O substituto dele no cargo foi um dos seus antigos vices, José Maria Marin. Desde então, o ex-dirigente mora nos Estados Unidos.
Ele também foi integrante do Comitê Executivo da Conmebol, que organiza o futebol sul-americano, e da Fifa. Hoje desintegrado, o Comitê Executivo da entidade máxima do futebol mundial era o principal órgão de gestão da Fifa na época.