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Em 1918, times paulistas souberam esperar pelo fim da Gripe Espanhola

Com a pandemia, o Paulistão ficou paralisado por 3 meses e, quando retomado, apenas os times que tinham chance de título estavam na disputa

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A Gripe Espanhola matou cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, 35 mil no Brasil e 5.331 na cidade de São Paulo, o equivalente a 1% da população da capital paulista entre 13 de outubro a 20 de dezembro de 1918. Assim como acontece nos dias atuais com a Covid-19, o futebol foi um dos eventos afetados pela pandemia. Nove dos 10 clubes que disputaram a sexta edição do Campeonato Paulista precisaram ter paciência para esperar o surto passar, deixar de disputar algumas partidas e só voltar a campo quando houvesse condições seguras de saúde tanto para os jogadores como para a torcida. O Palestra Itália abandonou a disputa na sexta rodada, descontente com a atuação da arbitragem.

O campeonato, disputado de 27 de abril de 1918 a 19 de janeiro de 1919, foi vencido pelo Clube Athletico Paulistano, liderado pelo astro Friedenreich, que completou o tricampeonato e ainda seria tetra na edição seguinte – aliás, o único time a conquistar quatro taças consecutivas. O CAP, que nos dias atuais não possui um time profissional, soma 11 títulos e só fica atrás dos grandes Corinthians (30), Santos, Palmeiras (ambos com 22) e São Paulo (21).

Com a pandemia, o Paulistão ficou paralisado por três meses e quando os jogos foram retomados apenas os times que tinham chance de título seguiram na disputa. O Paulistano terminou com os mesmos 26 pontos do Corinthians, mas disputou 16 jogos contra 17 do rival, além de ter maior número de vitórias (13), mais gols marcados (68), menos gols sofridos (14) e melhor saldo (54) No confronto direto, cada time venceu uma vez.

Hospital

A sede social do Paulistano, além de receber a taça pelo título paulista, também foi usada como hospital de campanha para ajudar a cuidar da enorme quantidade de doentes na cidade, mesma atitude tomada pelo Palestra Itália.

“O vírus da Gripe Espanhola teria vindo ao Brasil e chegado ao Rio de Janeiro pelo navio Demerara, vindo de Liverpool, com escalas em Lisboa, Recife e Salvador”, conta Ronan de Oliveira Cordeiro, de 35 anos, professor de História, com bacharelado e licenciatura pela USP e pós-graduação pela PUC-SP.

“A chegada da doença em São Paulo possui algumas versões. Teria chegado por um estudante vindo do Rio, por um time amador de futebol ou pelo porto de Santos”, continuou o professor do Colégio Madre Alix.

Segundo Ronan, isolamento social, fechamento do comércio, de clubes, teatros, restaurantes e proibição de reuniões também foram adotados naquela época. Os gelados, precursores do sorvete, não eram indicados. “Várias empresas de remédios aproveitaram o momento para vender milagres. Como as Cápsulas Vita e o Xarope São João ou um médico, que havia estudado em Paris, que indicava o uso preventivo de mercúrio via injeção por 20 dias seguidos.” Os cemitérios do Araça, Penha, Brás e Consolação tiveram iluminação para que os coveiros pudessem trabalhar à noite.

Apesar da diferença no tratamento das doenças, graças à evolução da medicina, é importante notar que nossos antecessores souberam esperar o momento certo para voltar aos gramados. Lógico que o interesse pelo futebol é muito maior e a parte econômica conta muito, mas o valor da vida continua insuperável.

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