Dois roubos e réplica ao campeão: conheça a história do troféu da Copa
Em sua 20ª edição, o troféu da Fifa entregue ao campeão do mundo já foi roubado duas vezes e teve nome e formato alterado
atualizado
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A tão desejada taça de campeão do mundo entregue pela Fifa possui uma curiosa história — talvez mais que o próprio torneio. Com quase 100 anos de Copa do Mundo, o Metrópoles conta sobre o surgimento do troféu, os seus dois roubos e como a sua atual e conhecida versão foi criada.
A primeira Copa do Mundo aconteceu em 1930, no Uruguai. O evento foi criado por Jules Rimet, então presidente da Fifa. À época, ele também criou um troféu que deveria premiar o ganhador da competição: a Victory!
A primeira taça foi feita em prata esterlina banhada a ouro e com base de mármore branco e amarelo. A primeira seleção a conquistar o título foi a mesma que também sediou a primeira Copa: o Uruguai.
Nos torneios seguintes, nos anos de 1934 e 1938, a Itália foi quem a conquistou a Copa e se tornou bicampeã do mundial de futebol. Com a próxima edição marcada para acontecer em 1942, o torneio, porém, precisou ser interrompido devido à Segunda Guerra Mundial.
À época, com medo de que os nazistas pudessem roubar o troféu, a Victory precisou ser escondida na Itália — sob os cuidados da atual campeã do mundo. Ottorino Brassi, vice-presidente da Fifa e presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC), tirou a taça de um banco em Roma escondida em uma caixa de sapatos, onde a manteve debaixo da sua cama por algum tempo.
De Victory à Jules Rimet
Em 1946, a taça teve seu nome substituído em homenagem ao presidente da Fifa. De Victory, o troféu passou a ser chamado de Jules Rimet, como ficou amplamente conhecido. A competição só voltou a acontecer em 1956, mas dois anos antes disso, a taça foi repaginada antes de ser entregue ao novo campeão.
Em 1954 a base da taça Jules Rimet foi substituída por uma mais alta, que foi feita de lápis-lazúli. Ela tinha 35 centímetros de altura e pesava 3,8 quilos. Compreendia uma xícara decagonal, apoiada por uma figura alada representando Nice, a deusa grega da vitória.
“Levanta o caneco”
Apesar de ser uma tradição comum dos campeões, nem sempre quem ganhava uma taça tinha o hábito de levantá-la. Em 1958, quando o Brasil conquistou o primeiro título da Copa do Mundo, o capitão da seleção Brasileira à época, Hilderaldo Bellini, atendeu a uma súplica dos fotógrafos: levantar a taça para que eles pudessem fazer registros melhores.
Bellini não sabia, no entanto, que daria início a uma tradição até hoje aclamada por jogadores e torcedores. Desde então, todos os demais campeões do mundo repetiram o gesto ao angariarem a desejada taça.
Primeiro roubo
Não só pelos jogadores, mas a taça Jules Rimet era um objeto de desejo de qualquer amante do futebol. Em março de 1966, faltando apenas quatro meses para a oitava edição do torneio, o troféu foi roubado enquanto era exibido em uma exposição pública em Westminster Central Hall, na Inglaterra.
A peça foi encontrada apenas sete dias depois de ser roubada e de forma inusitada: o cachorro do responsável pelo roubo a encontrou em seu jardim. Chamado de Pickles, o cão cavou a área do terreno em que morava e se deparou com a Jules Rimet enterrada e embrulhada em uma folha de jornal.
O caso aconteceu em Beulah Hill, Upper Norwood, no sul de Londres. O cão responsável pela descoberta foi enaltecido pela polícia londrina. Seu tutor, no entanto, foi preso pelo crime cometido.
Réplica da taça
Como medida de segurança, a The Football Association (FA) criou, de forma secreta, uma réplica da taça para ser usada em exposições ao público. A peça foi usada em diversos momentos até o ano de 1970, quando a verdadeira precisou ser devolvida à Fifa para a nova edição da Copa do Mundo.
Com a Federação negando uma possível autorização para que a FA criasse um troféu “fake”, a réplica também ficou escondida por alguns anos.
Roubo no Brasil
Em 1970, quando o Brasil conquistou o tricampeonato da Copa do Mundo, a Fifa concordou que a taça ficasse no país permanentemente, conforme dizia o regulamento da competição. Foi quando a peça foi colocada em exibição na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, em um gabinete com vidro à prova de balas.
Foi então que algo incomum aconteceu: em 19 de dezembro de 1983 a taça desapareceu no local. A parte traseira do gabinete feito com madeira, havia sido aberto à força com um pé de cabra e a peça roubada mais uma vez. Quatro homem foram julgados à revelia pelo roubo da troféu — a polícia, contudo, não encontrou a Jules Rimet.
Na esperança de tê-la encontrado, a Fifa pagou, em 1997, mais de R$ 250 mil libras em uma taça Rimet acreditando que fosse o troféu furtado 27 anos antes. Mais tarde a associação comprovou que se tratava da réplica produzida pela FA.
Ou seja, a taça roubada no Brasil nunca foi encontrada e, por conta disso, acredita-se que ela tenha sido derretida. Essa boato, no entanto, nunca foi comprovado.
A taça de hoje
A taça que conhecemos hoje só foi confeccionada em 1974, quando a Fifa preparou uma espécie de “concurso” para a fabricação de uma nova. O italiano Silvio Gazzaniga foi o premiado e confeccionou o troféu que conhecemos e utilizamos até hoje.
Feito com 5 kg de ouro 18 quilates, a peça tem 35,8 centímetros de altura e possui uma base de 13 centímetros de diâmetro com duas camadas de pedra malaquita. Sua base tem gravado “Copa do Mundo da FIFA” e, após edição de 1994, o país campeão do torneio tem seu nome e ano da conquista gravado na parte inferior da peça.
A taça parece ser esculpida com duas pessoas erguendo os braços enquanto seguram o mundo. Apesar do que aparenta, a taça é oca por dentro e pesa 6,175 kg. Caso fosse maciça, ela poderia pesar mais 70 kg e impossibilitaria que os campeões do mundo a carregassem. Em 2018 ela era estimada em US$ 161 mil.
Ainda visando a segurança do troféu, a taça original não é entregue aos campeões do torneio. O vencedor da Copa do Mundo ganha uma réplica exata da taça feita em bronze e banhada a ouro. Atualmente, o troféu original só é entregue durante a cerimônia de premiação e, logo em seguida, recolhida pela Fifa e guardada na sede da Federação em Zurique, na Suíça.