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Corinthians, Santos e São Paulo terminam gestões com endividamento

O ano da pandemia encerra o ciclo de Andrés Sanchez, José Carlos Peres e Leco, respectivamente

atualizado

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Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Andrés Sanchez em coletiva do Corinthians
1 de 1 Andrés Sanchez em coletiva do Corinthians - Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Corinthians, Santos e São Paulo terão novos presidentes na próxima temporada. O ano da pandemia encerra o ciclo de Andrés Sanchez, José Carlos Peres e Leco, respectivamente. Em comum, os três dirigentes não conseguiram resolver o problema das dívidas dos clubes, conviveram com atrasos de salários e tiveram dificuldades em formar equipes competitivas e vitoriosas.

Andrés ao menos deverá entregar o que prometeu quando assumiu o posto pela segunda vez: solucionar o problema do endividamento da arena do clube. Ele teve sucesso em negociar os naming rights do estádio e batizou o campo de Neo Química Arena, em um contrato que renderá R$ 300 milhões em 20 anos ao clube. Antes de sair de cena, deve confirmar o acordo do financiamento com a Caixa Econômica Federal também. Mas a dívida disparou.

A diretoria, de olho nas eleições deste sábado para a presidência, tenta acelerar o processo, que é tratado de forma mais comedida pelo banco estatal. O pagamento das parcelas do estádio corintiano em Itaquera está suspenso desde outubro do ano passado, quando a Caixa executou o clube na Justiça, cobrando uma dívida de R$ 536 milhões.

O novo contrato deve prolongar o prazo de financiamento até 2040 e alterar as formas de pagamento. A intenção do Corinthians é usar o dinheiro dos naming rights para quitar parte da dívida. O restante será financiado em parcelas pelos próximos anos. Para a assinatura do contrato falta definir a porcentagem do reajuste anual e quando as parcelas começarão a ser cobradas – o clube pede que sejam debitadas a partir de 2022, com prestações quitadas de forma anual e não mais mensal, como era no contrato anterior.

Andrés prometeu resolver os problemas financeiros da arena até este mês. Além da dívida com a Caixa, falta achar encaminhamentos também para a pendência financeira com a construtora Odebrecht. A tendência é de que o valor seja abatido com repasse dos CIDs, os Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento. Apesar de tornar viável o estádio, não conseguiu equilibrar as contas do Corinthians. Ele assumiu o clube com uma dívida de R$ 425 milhões e até o última atualização, no ano passado, o saldo negativo passava dos R$ 765 milhões. Em julho, a diretoria publicou um balancete com os resultados do primeiro semestre de 2020, com dívida de R$ 902 milhões.

“Mesmo com contrato do naming rights, as finanças nunca estiveram tão ruins. A dívida aumentou muito nessa última gestão É o ponto de alerta para quem for assumir a presidência. Mesmo tendo investido bastante no time, não teve retorno em relação a títulos nacional e internacional”, destacou o professor de marketing esportivo da ESPM, Ivan Martinho.

Dentro de campo, sob o comando de Vagner Mancini após a demissão de Tiago Nunes e a passagem de Coelho, o time luta para se distanciar da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Na semana passada, foi acionado pela Fifa a pagar R$ 18 milhões pela compra de Jô do Japão.

Andrés se despedirá dessa sua segunda passagem pela presidência corintiana com dois títulos estaduais, em 2018 e 2019. No entanto, colecionou maus resultados, como a queda precoce na segunda fase da Copa Libertadores deste ano e a briga para fugir das últimas colocações no Brasileiro de 2019 e na atual edição.

São Paulo

Leco assumiu de maneira interina o clube do Morumbi há cinco anos para tentar “apagar o incêndio” da gestão de Carlos Miguel Aidar, marcada por escândalos de corrupção. Durante esse período, o mandatário conseguiu ser reeleito, mas não cumpriu o prometido. Questionado pelos torcedores, o dirigente deixará o São Paulo com o jejum de oito anos sem conquistas, com aumento significativo da dívida e com problemas na gestão semelhantes ao de seu antecessor. O déficit do clube, que era de R$ 284 milhões em 2015, subiu para R$ 538 milhões no último balanço, divulgado em 2019.

“Dos quatro grandes do Estado, o que apresenta o maior declínio de captação de receita é o São Paulo, também pela diminuição da venda de jogadores comparado com outros anos da mesma gestão, mas também de queda acentuada na receita comercial”, declarou Gustavo Herbetta, fundador da LMiD, agência de marketing esportivo. Nesse período, conviveu com cobranças de torcida, trocas de treinadores e a falta de taças.

O que salvou a gestão de Leco foi a manutenção dos investimentos na base. Graças aos jogadores formados no CT de Cotia, o time atualmente briga pelas primeiras colocações na tabela do Brasileirão deste ano e também evitou um prejuízo maior ao caixa do clube com as vendas de Antony por R$ 74 milhões e David Neres por R$ 50 milhões, ambos para o Ajax. Fora as dívidas, o sucessor, que pode ser Julio Casares ou Roberto Natel, tem a possibilidade de assumir com uma conquista em fevereiro de 2021. O time comandado por Fernando Diniz tem chance de ganhar o Brasileirão e a Copa do Brasil.

SANTOS – No Santos, José Carlos Peres sofreu impeachment no último dia 23 e deu lugar ao vice, Orlando Rollo, de quem é inimigo. O ex-presidente teve enorme dificuldade para administrar a parte política do clube. Um exemplo foi o número de gerentes de futebol contratados e que pediram demissão: Gustavo Vieira de Oliveira, Paulo Autuori, William Machado, William Thomas e Ricardo Gomes.

Peres acertou ao contratar o técnico Jorge Sampaoli, que levou o time ao vice do Brasileiro do ano passado. Mas o ambiente político inviabilizou a permanência do treinador. A dívida total é praticamente a mesma de quando Peres assumiu, algo em torno de R$ 320 milhões. Não aumentou principalmente pela venda do atacante Rodrygo para o Real Madrid por R$ 172 milhões. Havia ainda a expectativa de erguer um novo estádio onde está a Vila Belmiro, mas o projeto foi barrado após a saída de Peres.

A queda de Peres aconteceu após o Conselho Fiscal do Santos emitir relatório com uma série de irregularidades financeiras, como o pagamento de comissões na transferência de Bruno Henrique ao Flamengo e uso pessoal de cartão corporativo pelo presidente José Carlos Peres. “A questão política foi emblemática. E agora no fim, a gestão fica marcada também pela questão do Robinho. O clube tentou defender o jogador no começo e entrou em uma briga que não era dele. Ao se colocar de escudo do jogador, acabou prejudicando sua imagem e perdendo patrocinadores”, lembrou Martinho.

Em campo, com a chegada de Cuca, o time se livrou de toda a confusão política. O elenco é pequeno, sem muitas reposições, mas há um grupo interessado na Vila, com destaque para dois jogadores: Soteldo e Marinho. O Santos é um time apenas razoável, mas que não tem decepcionado no Brasileirão. O novo presidente será definido em 12 de dezembro. Até lá, Rollo tenta ajeitar a casa, pagar os salários e manter o clube na parte de cima da tabela do Nacional.

O que os eleitos podem fazer

Martinho apresentou quatro pilares de investimento para uma gestão mais equilibrada dos clubes. A primeira coisa a fazer, na opinião do professor da ESPM, é se organizarem e acertarem um novo modelo de arrecadação dos direitos de transmissão. O segundo passo é investir na produção de conteúdo. Também lembrou que hoje é importante a equipe estar ligada às causas humanitárias.

“Isso atrai marcas, atrai a simpatia dos torcedores do clube e dos adversários. O Bahia é um clube que entendeu o que uma entidade esportiva representa e dá aula ao falar de igualdade de gênero, sustentabilidade, racismo. Alguns clubes ainda não entenderam seu papel na sociedade como formador de opinião e como pode ajudar a ser agente de mudança e colher os frutos ao apoiar movimentos humanitários.”

Por fim, destacou a necessidade de o novo mandatário conseguir identificar melhor seu torcedor. “Se você vai na farmácia, pedem seu CPF e eles sabem o que você está consumindo, sabem seu comportamento, seu endereço, seus gastos, tem seu e-mail… Quando você olha para a base de torcedores que o clube tem cadastrado, vê que é um número muito pequeno em relação ao número total. Passou da hora dos clubes entenderem que seus torcedores são seus potenciais clientes. Quando uma marca se atrela a ele é com esse público que ela está querendo falar. Torcedor não abandona o clube nunca. Ninguém troca de time. Se você acompanhar o torcedor desde o início, você poderá oferecer desde o berço até o caixão”, declarou.

Herbetta analisou as possibilidades de geração de receita com o que já existe nos clubes. “O Corinthians iniciará com uma ótima noticia pois terá de volta 50% de sua bilheteria. Mas assim como o São Paulo, precisa reconquistar o mercado. Já no Santos, o desafio será de aumentar o faturamento médio dando continuidade no que vem sendo feito em termos de marketing.”

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