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Copa América faz crescer pressão sobre o Campeonato Brasileiro. Qual a diferença?

Críticas suscitaram questionamentos ao Brasileirão, à Libertadores e à Sul-Americana, torneios nos quais dezenas de atletas tiveram Covid-19

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Diego Vara -Pool/Getty Images
Covid-19 Conmebol
1 de 1 Covid-19 Conmebol - Foto: Diego Vara -Pool/Getty Images

A possibilidade de que a Copa América seja realizada no Brasil, em um dos momentos mais alarmantes da pandemia de Covid-19 no país, gerou reações inflamadas e aumentou a pressão sobre outro torneio: o Campeonato Brasileiro.

O questionamento, que avançou nas redes sociais e envolve diferentes segmentos da sociedade, ocorre em função das brechas de segurança sanitária no Brasileirão e, também, na Libertadores e na Copa Sul-Americana. Embora as partidas estejam sendo disputadas sem público presencial, dezenas de atletas e dirigentes já se infectaram com a doença do novo coronavírus.

É o caso de Thiago Neves, do Sport; Raphael Veiga, do Palmeiras; Renato Gaúcho, quando ainda estava à frente do Grêmio; e outros jogadores do Tricolor. O Corinthians também passou por um surto de contaminação que impactou 10 jogadores do elenco; e o River Plate, que sofreu as consequências da infecção de um grande grupo, precisou jogar com um meio-campista na posição de goleiro em 19 de maio.

Além disso, mesmo sem torcedores nos estádios, milhares de pessoas costumam acompanhar a transmissão de partidas em bares país afora, causando aglomeração e favorecendo o contágio por coronavírus. Em alguns casos, a proposta de realizar os jogos com público reduzido não foi suficiente para evitar a propagação da doença, tanto no Brasileirão como em campeonatos estaduais.

As finais da Libertadores, no Maracanã; da Recopa Sul-Americana, no Mané Garrincha, em Brasília; da Supercopa do Brasil, também na capital; e o jogo de ida da decisão do Campeonato Carioca, entre Flamengo e Fluminense, no Rio de Janeiro, contaram com a presença de público, em meses nos quais foram observados altos índices de infecção por Covid-19, com média móvel diária em torno de 2 mil mortes.

Uma pequena parte dos estádios foi liberada para receber as torcidas, observadas todas as medidas de segurança sanitária, mas era de se esperar que essa iniciativa não desse certo. Na decisão da Libertadores, por exemplo, no jogo entre Palmeiras e Santos, o público deveria respeitar um distanciamento de 2 metros, além de outros protocolos; em vez disso, os torcedores estavam abraçados, tirando selfies e conversando sem máscara, bem próximos uns dos outros.

Por essas razões, as críticas de que a Copa América pode se tornar um “celeiro” de novas variantes da Covid-19, especialmente com a quantidade de estrangeiros circulando no país, levantaram os questionamentos sobre o Campeonato Brasileiro.

Entre os críticos da incoerência, está o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que publicou post sobre o assunto na noite de segunda-feira (31/5).

Veja a repercussão no Twitter:

Opiniões diversas

Entre os defensores da paralisação do Brasileiro, está o narrador Luís Roberto, que não só criticou a realização da Copa América no Brasil, como também se manifestou contra a retomada de jogos de futebol no país. Em junho de 2020, o comentarista esportivo deu a seguinte declaração:

“Eu acho que forçaram a barra. Na Europa, os caras voltaram a jogar 70 dias depois do pico. Ou seja, quando os casos e as mortes começaram a cair. Depois desse pico, o futebol voltou na Europa”, afirmou.

Os atletas têm opinião dividida. Alexandre Pato, por exemplo, que no ano passado estava no São Paulo, escreveu no Twitter: “Estou com saudades, sim, de jogar, mas ao mesmo tempo sei o quanto prezo a minha saúde”. Em contrapartida, na mesma época, Felipe Melo apoiou o retorno do futebol, alegando que iria “ajudar as pessoas a ficarem em casa”.

Ao fazer o anúncio da mudança de sede para o Brasil – antes, a Copa América seria na Argentina e na Colômbia –, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) citou o presidente Jair Bolsonaro e agradeceu ao país por sediar o evento.

Na manhã desta terça-feira (1º/6), Bolsonaro falou sobre o torneio e defendeu que a competição seja sediada no país. Para o chefe do Executivo federal, é possível assegurar a segurança sanitária do evento: “No que depender de mim e de todos os ministros, inclusive o da Saúde – já tá acertado –, haverá. O protocolo é o mesmo da Libertadores, é o mesmo da Sul-Americana, é a mesma coisa”.

Cenário

Ainda assim, a preocupação com a transmissão do coronavírus em eventos esportivos, como o Brasileirão, é justificada quando se compara a situação do país com a de outras nações.

Diferentemente do que apresentam os países europeus e os Estados Unidos, o Brasil ainda não tem um percentual considerável da população vacinada. Segundo dados mais recentes do consórcio de veículos de imprensa*, no último sábado (29/5), 10,4% dos brasileiros tinham recebido a primeira e a segunda dose do imunizante. Para efeitos de comparação, nos EUA, por exemplo, 41,2% dos norte-americanos foram vacinados, de acordo com a organização internacional Our World in Data.

Com a alta taxa de imunização, as arenas estadunidenses e europeias já estão começando a receber público. Os campeonatos europeus terminaram a temporada com parte dos estádios ocupados, mas as pessoas tinham que apresentar teste negativo da Covid-19 e o comprovante de vacinação.

Na NBA, no confronto entre Los Angeles Lakers e Phoenix Suns, na semana passada, 11.824 torcedores compareceram ao ginásio. O Madison Square Garden recebeu mais de 15 mil pessoas na vitória do Atlanta Haws sobre o time da casa, New York Knicks.

Possível solução

Na temporada passada, a NBA e a Champions League criaram bolhas em cidades específicas, Orlando e Lisboa, respectivamente, para receber todos os times e delegações e, da maneira mais segura possível, fazer as competições acontecerem. Os resultados foram positivos: não houve surto, apenas pouquíssimos casos de contaminação.

Essa poderia ser uma opção para a Copa América: definir uma cidade-sede que tenha pelo menos dois estádios para receber as partidas e organizar o calendário de jogos dentro da bolha, com as medidas de segurança necessárias.

* O consórcio de veículos de imprensa é formado por G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL

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