Conheça a história de Karen, goleira do Minas convocada para a Seleção
Em seu primeiro ano no clube candango, ela se destacou o suficiente para chamar a atenção de Pia Sundhage
atualizado
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A Seleção Brasileira feminina tem dois amistosos marcados contra a Austrália neste mês de outubro e a lista de convocadas tem algumas caras novas, entre elas, a goleira do Minas Brasília, Karen Hipólito. Em seu primeiro ano no clube candango, ela se destacou o suficiente para chamar a atenção de Pia Sundhage.
Nascida em São Paulo, Karen Xavier Hipólito, 28 anos, cresceu no bairro de São Mateus, na Zona Leste da capital, e começou a jogar futebol aos 8. “Eu gostava de praticar esportes desde a época de escola e pedi pro meu pai e minha mãe me colocarem numa escolinha, mas não tinha uma só para meninas e aí eles conseguiram me colocar pra jogar society, que era junto dos meninos. Eu jogava de zagueira, mas não era muito fã”, contou.
A primeira experiência debaixo das traves foi para quebrar o galho e salvar o time. “Nós fomos disputar um campeonato, a nossa goleira passou mal e eu tomei coragem e assumi a responsabilidade. Eu acabei ficando, gostaram do meu desempenho e eu fui criando gosto, só que não era nada sério. Eu fui aperfeiçoando, mas eu gostava de jogar futsal. Eu não tinha conhecimento do campo.”
Desde o começo, Karen teve como inspiração seu pai, Sidnei. “Eu acompanhava muito o meu pai, que jogava tanto futsal quanto campo. Eu olhava as defesas que ele fazia, comecei a assistir mais jogos do campeonato masculino, a prestar mais atenção nos goleiros e acabei pegando gosto pelo esporte e pelo gol.”
Ela cita Marcos e Fernando Prass, ex-goleiros do Palmeiras, Neuer e Ederson como modelos, mas o patriarca é o número 1. “Foi ele que, querendo ou não, me inspirou de certa forma, mas trazendo pro lado profissional, eu assistia muitos jogos do Marcos, do Fernando Prass, do Neuer… são goleiros que me inspiram bastante. Agora estou assistindo um pouco mais do Ederson, que é um goleiro muito ágil, além do Weverton, que está sendo destaque na equipe que ele defende (Palmeiras) e na Seleção.”
Como ídolo feminino, Karen exalta a importância de Marlisa Wahlbrink, a Maravilha, para a ascensão da posição. “Na época dela não tinha um preparador de goleiros específico. Tinha às vezes uma pessoa que gostava de ajudar, mas não era adequado totalmente para aquele trabalho. Ela se sobressaiu diante das dificuldades, ajudou a Seleção até quando pôde e trouxe inspiração para muitas atletas.”
Primeira vez como profissional
“Quando eu tinha 18 anos, surgiu uma peneira na Portuguesa e uma amiga minha me chamou pra ir e eu não quis ir porque só jogava futsal, não tinha noção do campo, mas ela insistiu falando da minha estatura, disse que o time estava precisando (de goleira). Eu fui e acabei ficando. Não pela técnica, porque pouco tinha, mas mais pela minha altura mesmo”, lembrou a goleira.
“Com o tempo, eu fui me adaptando, fui gostando e, aos 18 anos, em 2012, eu disputei o meu primeiro Paulista. Sem experiência nenhuma, praticamente caí de paraquedas no campeonato. Depois disso, eu nunca mais parei.” Karen estava no time do Centro Olímpico, em 2013, e foi campeã da primeira edição do Campeonato Brasileiro feminino.
Quase deixou o sonho pra trás
Formada em Educação Física, Karen chegou a exercer a profissão por um período para terminar o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e passou pela sua cabeça desistir de seguir carreira como atleta. “Parecia que estava tudo muito complicado e eu comecei a atuar na área. Fiz alguns trabalhos em escolinhas da periferia, onde eu auxiliava os goleiros, sempre foi a minha paixão.”
Escolha por Brasília
Antes de aceitar a proposta do Minas, Karen passou pelo Ceilândia e diz que esta passagem a ajudou a escolher voltar para a capital. “Eu passei no Ceilândia de 2018 para 2019, tivemos a oportunidade de fazer a semifinal contra o próprio Minas e nesses jogos tanto o pessoal do Minas quanto o Gabriel (preparador) me elogiaram muito pela partida e o Gabriel começou a me seguir e conversar comigo”, relatou.
“Ele falava que queria que eu trabalhasse com ele e eu dizia ‘quem sabe um dia’. Sempre que eles tentavam entrar em contato comigo ou eu já estava fechada com algum clube ou eu já estava interessada em algum clube, e nunca dava certo. No final do ano passado, eles já entraram antes em contato comigo e falaram: ‘A gente faz questão da sua presença aqui. Queremos você conosco. Sabemos do seu potencial. Sabemos do seu trabalho. E a gente pede uma oportunidade.’ Eu falei que ia analisar a proposta e não pensei acho que duas vezes para fechar com o Minas. Claro que eu tive que brincar com o Gabriel um pouco, disse que não fechei com o Minas, que escolhi outro clube, e do nada ele me vê no grupo do Minas e já veio no particular me xingando (riu).”
Apesar do seu grande desempenho e do esforço de todo o time, o Minas não resistiu à queda para a série A2 do Brasileirão. “Foi um baque. Não é fácil, mas a gente entende que tem todo um investimento, tem toda uma estrutura. O campeonato, graças a Deus, está ficando cada vez mais forte, cada vez mais disputado e mais bonito de ser ver. A gente sabe que o investimento tem que existir, tem que ser dobrado para conseguir se manter. A gente sabe que a gente tem jogos que poderíamos ter nos doado mais, nos entregado mais e poderia ter feito a diferença no final”, lamentou.
“Caímos, mas nada impede que a gente esteja de volta ano que vem. Nada impede que o clube se fortaleça, que o clube consiga um investimento que precisa. A gente sabe das dificuldades, sabemos que é um clube que não tem o investimento do time masculino por trás — como acontece na maioria dos clubes —, é um clube totalmente independente, e assim as coisas ficam um pouco mais complicadas. A gente tem a parceria do BRB que nos ajuda bastante, é um investimento muito bom, ainda mais para o futebol feminino”, ressaltou Karen.
O chamado de Pia
Ao lembrar da convocação, que é a primeira de sua carreira, a atleta chega se arrepiar. “Nós atletas trabalhamos muito para que esse momento chegue, a gente acaba criando uma expectativa, mas a gente nunca sabe se isso vai acontecer ou se teremos essa oportunidade”, afirmou.
“Esse Campeonato Brasileiro (2021) foi muito disputado, foi muito forte e, graças a Deus, junto com as goleiras e o Gabriel Ribeiro (preparador), nós fizemos uma excelente temporada e teoricamente eu acabei sendo o destaque do Minas e do campeonato. Então, tinha aquela expectativa”, recordou Karen.
“Quando saíram as primeiras convocações, que meu nome não estava, foi um momento frustrante porque a gente cria expectativa, a gente sonha, e eu pensei que ainda não fosse a minha hora. No domingo à noite, a Nayeri e fala ‘tenho uma boa notícia pra você. Você acabou de ser convocada pela Seleção’.”
“Eu achei que fosse mentira, já estava tremendo e ela disse que tinha acabado de receber o ofício e que eu fui convocada pela Seleção Brasileira e ia representar o nosso clube. Eu não acreditei e já comecei a agradecer por tudo.”
“Confesso que a ficha caiu só quando eu assisti a live e a Pia citou o meu nome e o nome do clube. ‘Agora eu sei que eu fui convocada. Agora eu sei que o sonho é verdadeiro mesmo, que o meu nome está lá e eu vou viajar mesmo para representar o meu país’”, pensou Karen.
Hora de treinar o inglês
Esta será a primeira vez que a arqueira vai conhecer a treinadora sueca e confessou estar ansiosa e nervosa pelo encontro. “É estranho olhar para ele e pensar ‘é você mesma’, que já tem uma história linda, já tem uma carreira incrível, e ter a possibilidade de estar ao lado de pessoas assim, tão grandiosas, que batalharam tanto para chegar ali, é sensacional”, celebrou.
“Estou até treinando um pouquinho o inglês pra ver se eu consigo pelo menos falar um ‘oi’ decente. Não posso travar e não sair nem um ‘oi’ e virar as costas morrendo de vergonha”, brincou Karen.
A goleira do Minas ressaltou também o trabalho feito pela comandante. “Ela está fazendo algo diferente, está dando uma cara nova para a Seleção. Ela está fazendo as renovações, está trazendo atletas jovens, está dando oportunidades e era isso que nós atletas esperávamos em convocações anteriores”, analisou.
Quando o assunto são as companheiras com quem ela vai dividir o campo, Karen quer “sugar” o que elas têm de melhor. “Cada uma tem uma bagagem diferente, cada uma tem uma coisa pra passar que você pode acrescentar na sua vida. Cada uma tem uma história de vida, cada uma tem uma história a ser contada”, reconheceu.
Ela se apresentará à Seleção no próximo dia 18 e pegará um avião com direção à Sydney, na Austrália, onde a equipe brasileira encara as donas da casa nos dias 23 e 26, às 5h50 e 6h05, horário de Brasília.
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