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Blatter cobra reforma da CBF e culpa “Américas” por corrupção

Em envento, ele insistiu que não sabia de nada sobre os escândalos e acusou diretamente os “dirigentes sul-americanos” pelos problemas

atualizado

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Steffen Schmidt/AP/Estadão Conteúdo
Blatter
1 de 1 Blatter - Foto: Steffen Schmidt/AP/Estadão Conteúdo

O ex-presidente da Fifa Joseph Blatter ironizou, nesta sexta-feira (15/4), a situação da presidência da CBF e mandou seu recado: a entidade já teria de ter passado por reformas, com maior transparência, ficha limpa e um comitê de ética independente.

O ex-cartola foi convidado pela Universidade da Basileia para debater a crise da Fifa com acadêmicos e estudantes. Combativo, Blatter insistiu que não sabia de nada sobre a corrupção de seus membros e acusou diretamente os “dirigentes sul-americanos” pelos problemas. Mas o evento terminou com um momento de tensão, quando um ex-procurador da ONU, Luis Ocampo, o acusou de saber de tudo e nunca ter agido para afastar os corruptos.

Questionado pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre o fato de a CBF ainda ser presidida por um dos cartolas indiciados nos Estados Unidos, Marco Polo Del Nero, Blatter foi irônico. “Quem é mesmo o presidente da CBF? “, perguntou, sorrindo. Ao ouvir o nome de Del Nero, ele apenas brincou. “Ele é o presidente?”. Depois, já em um tom sério, indicou que a Justiça “fará seu trabalho”.

O brasileiro voltou a assumir a CBF na semana passada, depois de um período de licença. Se nos EUA ele foi indiciado pelo FBI por corrupção e lavagem de dinheiro, o caso que já completa um ano ainda não teve consequências para Del Nero, salvo sua impossibilidade de deixar o Brasil.

Nesta sexta, em seu discurso perante um auditório lotado, Blatter fez questão de apontar que os responsáveis pela corrupção no futebol estavam na América Latina. “Todos os indiciados são das Américas. E os supostos crimes ocorreram lá. Por enquanto, não existem europeus, asiáticos ou africanos envolvidos”, disse.

Questionado se a responsabilidade pelos escândalos envolvendo o futebol brasileiro seria de Ricardo Teixeira ou José Maria Marin, ele preferiu não responder. “Os tribunais dirão”, alertou “Não tenho como controlá-los moralmente”.

Blatter, porém, deixou claro que não bastará a Fifa passar por reformas como a adoção da ficha limpa para os novos dirigentes e um órgão judiciário independente. “A federação brasileira é uma das maiores do mundo. Eles precisam fazer essa reforma”, insistiu.

Segundo ele, porém, a resistência em mudar e adotar leis mais transparentes não ocorreu dentro da Fifa, mas sim nas entidades regionais e nacionais. “Todos aqueles que foram presos em Zurique eram americanos”, insistiu. “Do Sul ou do Norte. Mas americanos”. “As acusações apontam para a corrupção em suas confederações”, disse. “Se uma entidade não é capaz de limpar sua casa, alguém tem de entrar. O FBI e a intervenção americana ocorreram a partir das Américas”, insistiu.

No caso dos brasileiros, Blatter deixa claro que o centro do esquema era o que teriam recebido para os direitos da Copa América. “Não são questões da Fifa”, disse. “Na Fifa existiam barreiras sobre a corrupção. Mas não nas federações e o futebol apenas vai mudar se todos fizeram suas reformas”, afirmou, lembrando que a ideia da ficha limpa para cartolas jamais foi aprovada.

Sua primeira aparição pública em meses foi marcada por momentos de tensão, protestos e mesmo acusações. Ao entrar no auditório, saudou o público de sua velha maneira, como um chefe de estado ovacionado. Neste caso, porém, sem a ovação.

Durante duas horas, contou histórias, filosofou, fez o público rir e chamou de “vergonhosa” sua suspensão da Fifa. “Eu também estou lutando contra corrupção. Mas fui impedido de fazer meu trabalho. Fui afastado”, afirmou o ex-dirigente. Minutos depois de começa a falar, Blatter foi interrompido por manifestantes que, aos berros, foram retirados do local.

Em outro trecho, um grupo identificado como “associação marxista” acusou a Universidade de ter “trazido um criminoso para falar”. Blatter respondeu que não está sendo acusado de corrupção.

Blatter também defendeu a Fifa quando o assunto foi a escolha das sedes das Copas. “As Copas não são decididas pela Fifa. Na maioria das vezes, são decididas por pressão dos diferentes governos”, revelou, apontando que a última escolha, em 2010, levou para Zurique praticamente o Conselho de Segurança da ONU.

Segundo Blatter, o que fez o Catar ganhar foi a decisão do ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, de fechar um entendimento com o emir e sugerir a Michel Platini que votasse pelo Oriente Médio. “Se não fosse isso, a Copa teria sido nos EUA”.

O suíço, investigado pelo Ministério Público da Suíça por má gestão, não abriu mão de seu lugar na história. “Quando eu assumi a Fifa, começamos do menos zero”, declarou. “Ela se transformou em uma grande empresa. Não lamento nada. Só lamento o que eu não fiz. Lamento não ter levado a Fifa ao bom caminho depois do ataque que sofreu. Mas não me deixaram trabalhar “, disse.

O evento ainda terminou com um momento de tensão. Luis Ocampo, que investigou genocídios na África e violações de direitos humanos, concluiu os debates indicando que Blatter, mesmo sem ter sido acusado de corrupção, teria de ser responsabilizado pelo silêncio que manteve por anos diante dos esquemas que ocorriam com seus membros.

“É inaceitável que Ocampo diga isso”, respondeu Blatter, irritado após passar duas horas dando sua versão dos fatos numa sala da Faculdade de Medicina e com tapumes que escondiam um esqueleto usado para as aulas regulares.

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