Argentina mostra que é preciso mudar, mas sem “perder a ternura”

Doha (Catar) – Bem à maneira Argentina, os comandados de Lionel Scaloni confirmaram a classificação para as oitavas de final da Copa do Mundo do Catar com uma vitória magra por 2 x 0, gols de Mac Allister e Álvarez, no estádio 974.

O time que começou jogando contra a Polônia é bem diferente daquele que iniciou a Copa do Mundo, perdendo de forma surpreendente para a Arábia Saudita, duelo que abalou as bases emocionais dos hermanos e obrigou o técnico Lionel Scaloni a cambiar la Scaloneta, algo impensável a poucas semanas do Mundial começar.

Afinal, foi a tradicional escalação de Martínez; Montiel, Romero, Otamendi e Acuna; Dí Maria, De Paul, Paredes e Lo Celso; Messi e Lautaro que levou a Argentina a sair de uma fila de 27 anos, batendo o Brasil na final da Copa América, em pleno Maracanã, e depois ganhar momentum para somar incríveis 36 partidas invictas, incluindo, no caminho, um triunfo dominante sobre a Itália.

No entanto, como “futebol é momento”, e o momento às vezes passa em um piscar de olhos, toda a fortaleza de Scaloni e Cia. ruiu no primeiro compromisso da Copa, a tal derrota para os sauditas. O resultado levou Scaloni a mexer na preciosa Scaloneta, que já havia sido alterada, com o corte de Giovanni Lo Celso, por lesão, antes mesmo do Mundial começar. Para enfrentar, e vencer, o México, Scaloni promoveu três mudanças: Molina saiu para dar lugar a Montiel; Acuna voltou, no lugar de Tagliafico; Rodriguez entrou, para saída de Paredes; e Papo Gomez deu lugar a Mac Allister.

Para o duelo decisivo desta quarta, contra a Polônia, nova alteração: a estrela Lautaro Martínez foi sacada para a entrada de Julián Álvarez. E os gols da vitória foram marcados por dois “membros não originais da Scaloneta”.

A disposição de Scaloni em mudar algo que vinha dando tão certo — e a consequente recompensa por isso — demonstra que, em Copas do Mundo, convicções e entrar na competição em “excelente fase” são falácias do futebol que vão perdendo força a cada edição, demonstrando o quão pouco significam.

Vale lembrar do Brasil de 2014, que chegou embalado ao Mundial em casa ainda credenciado pelo excelente futebol apresentado na Copa das Confederações um anos antes, que assegurou o título com uma vitória dominante sobre a badalada Espanha da época. Deu no que deu.

Em um exemplo mais recente, Tite foi muito criticado em 2018 por insistir em Gabriel Jesus, jogador que se mostrou pouco eficaz durante o torneio. O próprio Tite parece ter aprendido a lição. O experimento com Paquetá e Fred no meio-campo durou apenas 45 minutos da partida contra a Suíça. O treinador brasileiro tirou o meia do West Ham já no intervalo, algo impensável há quatro anos.

E mudar não significa necessariamente abandonar as suas convicções ao primeiro sinal de complicação. Scaloni explicou melhor antes do duelo contra o México. “Não vamos mudar nossa maneira de jogar por causa do que aconteceu na terça-feira (jogo contra a Arábia Saudita). (…) Temos pensado em jogar da mesma maneira e os intérpretes, os jogadores para isso, vamos decidir no último treinamento”.

Ou seja, é possível — e preciso — mudar, sem perder a ternura.