Argentina faz “documentário antes do fato” e leva choque de realidade
Hermanos chegaram ao Catar com confiança elevada por série invicta e Messi em grande momento, mas saíram derrotados pela Arábia Saudita
atualizado
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Doha (Catar) – “Es imposible. Es imposible Argentina no salir campeón“. A frase foi dita por Diego, um argentino confiante, em entrevista ao Metrópoles. Assim como ele, milhares de seus conterrâneos que invadiram o Catar para a Copa do Mundo de 2022 apresentavam postura e sentimentos semelhantes.
Afinal, o time de Lionel Scaloni, apelidado de “Scaloneta”, vinha de um sonhado título da Copa América, batendo a Seleção Brasileira na final, no Maracanã, vitória que deu confiança para uma série de 36 partidas invictas e uma espécie de celebração à vida e obra de Lionel Messi, que chegou ao Mundial como um de seus principais personagens, líder e em excelente momento na carreira. O que poderia dar errado?
Bem, aparentemente, tudo. Contra a Arábia Saudita, na estreia da Copa, em duelo válido pelo Grupo C, os hermanos até começaram bem. Messi marcou o seu sétimo gol em Mundiais, de pênalti. Depois, o camisa 10 atuou como um maestro, achando Lautaro com passes precisos, os quais o artilheiro da Inter de Milão converteu, balançando as redes. Quer dizer, quase precisos. O VAR foi acionado, anulando os dois tentos argentinos.
Sem problemas. A frágil Arábia Saudita, cujo treinador Hervé Renard havia dito no dia anterior que seria “muito difícil passar de fase”, não apresentava muita resistência e a Argentina, certamente, resolveria o jogo no segundo tempo e ampliaria o placar, certo?
Novamente, errado. Com uma postura diferente para a segunda etapa, os sauditas surpreendentemente passaram a saber o que fazer com a bola ofensivamente, marcando gols aos 48 e 51. Defensivamente, a linha alta adversário deixou os argentinos em impedimento nada menos que 10 vezes durante a partida.
Clima pós-jogo
Após a partida, na zona mista, as faces argentinas eram de abatimento. As declarações, as poucas dadas, foram de abatimento. “Estamos mortos. É um golpe muito duro”, disse o capitão e craque da equipe, Lionel Messi. “Queríamos vencer, para dar tranquilidade. Esse momento é de focar na fortaleza, na união do grupo. É o momento de estarmos mais unidos do que nunca”.
“Tivemos muitas possibilidades de ter a bola, mas não foi o que aconteceu. Sabíamos que eles jogavam dessa maneira. Trabalhamos para isso. Eles jogam dessa maneira. Já sabíamos. Poderíamos ter feito cinco, seis, facilmente”, completou outra referência argentina, Dí María.
A Argentina talvez tenha padecido em sua estreia do mal que acometeu outra seleção que chegou a um Mundial celebrada, antes de ser coroada. Em 2010, na África do Sul, a Espanha também perdeu seu jogo de estreia, por 1 x 0, contra a esforçada Suíça. Recuperou-se a tempo, e confirmou o seu favoritismo, se sagrando campeã.
Da mesma forma que a inesquecível geração de Iniesta, Xavi, Casillas e Sergio Ramos ganhará seu documentário, Michael Jordan e seu Chicago Bulls foram relembrados no The Last Dance após terem vencido seis títulos; Tom Brady foi a estrela de Man in The Arena após conquistar sete anéis de campeão do Super Bowl; Ronaldo Fenômeno, Ayrton Senna, o time de futebol feminino dos Estados Unidos, todos foram eternizados em documentários após grandes histórias de redenção e perseverança, que resultaram no lugar mais alto do pódio.
Talvez a “Scaloneta” seja digna de um registro para a história. Mas apenas se a derrota para a Arábia Saudita tiver servido como um lembrete de que grandes documentários acontecem apenas depois de grandes jornadas.