Apenas Serejão e Mané Garrincha estão aptos a receber jogos na capital

O alvoroço para obter os laudos de vistoria do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil às vésperas do clássico Vasco x Flamengo, disputado no último dia 17, não se limita ao Estádio Mané Garrincha. A liberação às pressas e somente no dia do confronto que recebeu o público de 65.418 pessoas – recorde do Campeonato Brasileiro 2019 – evidencia um problema crônico nas arenas esportivas do Distrito Federal.

Conforme apurou o Metrópoles, dos 12 estádios mapeados pela Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) como possíveis sedes para o futebol profissional, somente dois detêm todos os documentos necessários para receber uma partida hoje: o Mané Garrincha e o Serejão, em Taguatinga.

Uma arena está apta a receber uma partida quando conquista os quatro laudos: segurança, emitido pela Polícia Militar Estadual; condições sanitárias e de higiene, emitido pela Vigilância Sanitária; prevenção e combate a incêndio e pânico, emitido pelo Corpo de Bombeiros Estadual; e o de vistoria de engenharia, acessibilidade e conforto, feito pelo Emissor Credenciado para Engenharia.

A lista de fatores de impedimento para a abertura dos portões nos espaços esportivos do DF vão de pequenos a grandes problemas. Entre outras falhas, estão a ausência de vestiários, como no Estádio do Cave, no Guará, fechado desde 2014, quando se tornou um dos campos de treinamento para as seleções da Copa do Mundo, mas jamais foi utilizado. O gramado colocado no local é considerado um dos melhores para a prática do do futebol, mas a estrutura restante não permite a realização de uma partida. Em outras praças, no entanto, a exigência é bem menor, como o isolamento de uma área ou colocação de banheiros químicos.

Na opinião do diretor técnico da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Marcio Coutinho, a situação alarmante se dá por falta de atenção dos órgãos competentes. “Todos os estádios do Distrito Federal pertencem ao GDF, a gente quer contar com o apoio deles. Esse apoio significaria fazer as pequenas melhorias nos estádios. Quando não se faz o mínimo, acontece o que está acontecendo. Não é possível os times de Brasília terem que ir jogar no entorno porque não têm um estádio aqui. Temos 12. Não é possível”, desabafa o diretor.

Marcio Coutinho recorda que em 19 de julho deste ano, o Banco de Brasília (BRB) anunciou patrocínio milionário ao time de basquete do Flamengo – R$ 2,5 milhões. “Se o Governo usar 10% dessa quantia para fazer as melhorias dos estádios, a gente já não tem mais essa situação”, compara. “Podem argumentar que o público nos estádios de Brasília é pequeno, mas não é só isso. A cada partida são gerados empregos diretos e indiretos, movimenta a economia das cidades. Não é pedir muito”, completa.

O estádio Bezerrão e o Mané Garrincha são os únicos  administrados pela Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer. Os outros 10 estádios do DF são de responsabilidade das administrações regionais de cada cidade.

A falta de laudos pode ser determinante, por exemplo, para o adiamento de várias partidas da Segunda Divisão de Brasília. A competição teve início no sábado (23/08/2019), com a partida entre Paranoá e CFZ. O problema é que o estádio escolhido, o JK, no Paranoá, não detinha um laudo sequer até a última quarta-feira (21/08/2019). Vistorias estavam agendados no local para tentar a liberação.

O Grupo Esportivo Brazlândia (GEB) desistiu da competição oficialmente em 5 de agosto. O principal motivo alegado pelo presidente do time, Reginaldo Bacci Acunha, foi a ausência de um estádio para mandar os jogos, “apesar de todo o empenho da direção do GEB e da Administração Regional de Brazlândia no sentido de liberar o Estádio Chapadinha para que o clube pudesse mandar seus jogos em casa”, conforme consta no documento oficial de desistência. No lugar do Brazlândia, entra o Samambaia Futebol Clube.

Obras de revitalização
A reportagem entrou em contato com o GDF e, segundo a Secretaria Executiva das Cidades, vistorias têm sido feitas nos estádios e diversas obras de revitalização já tiveram início. Já a Secretaria de Esporte e Lazer afirmou que os laudos são emitidos pelos órgãos competentes, especificamente para cada evento a ser realizado no Estádio Nacional Mané Garrincha e no Bezerrão.

Veja a situação de cada um dos 12 estádios de Brasília:
Adonir José Guimarães (Adonir Guimarães), em Planaltina
Inaugurado em 19 de agosto de 1978, o Estádio de Planaltina vive situação de completo abandono.
Atualmente, não possui nenhum dos quatro laudos necessários.

Antônio Otoni Filho (Cave), no Guará:
Inaugurado em 16 de abril de 1978, o Estádio do Guará está fechado desde 2014.
Atualmente, não possui nenhum dos quatro laudos necessários.

Augustinho Pires de Lima (Augustinho Lima), em Sobradinho:
Inaugurado em 13 de maio de 1978, o Estádio de Sobradinho recebeu partidas da Primeira Divisão do Campeonato Brasiliense em 2019.
Atualmente, detém apenas dois laudos de funcionamento: engenharia e vigilância sanitária.

Chapadinha, em Brazlândia:
Inaugurado em 5 de junho de 1970, o Chapadinha passou por melhorias ainda este ano, mas está fora do calendário em 2019.
Atualmente, não possui nenhum dos quatro laudos necessários.

Elmo Serejo Farias (Serejão/Boca do Jacaré), em Taguatinga:
Inaugurado em 23 de janeiro de 1978, o estádio tem sido constantemente utilizado e passou por melhorias recentes. O gramado também recebeu atenção especial.
Atualmente, possui todos os quatro laudos necessários para receber uma partida oficial.

Joaquim Domingos Roriz (Rorizão), em Samambaia
Reinaugurado em 30 de julho de 2017, o Estádio Rorizão tem vistorias agendadas e conta com apoio da administração para ficar apto.
Atualmente, possui apenas o lado de engenharia.

Juscelino Kubitschek (JK), no Paranoá: 
Inaugurado em 12 de dezembro de 2002, o Estádio JK está em fase de retirada dos laudos.
Atualmente, não possui nenhum dos quatro laudos necessários.

Mané Garrincha, em Brasília:
Reinaugurado em 18 de maio de 2013, o Estádio Mané Garrincha é a arena mais moderna de Brasília, mas sofreu para obter os quatro laudos necessários no duelo entre Vasco x Flamengo, em 18 de agosto, válido pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Atualmente, possui os quatro laudos necessários.

Maria de Lourdes Abadia (Abadião), em Ceilândia:
Inaugurado em 17 de julho de 1983, o Estádio Abadião é um dos mais utilizados pelo futebol local e foi sede da Primeira Divisão do Campeonato Brasiliense em 2019.
Atualmente, não possui nenhum dos quatro laudos necessários.

Ninho do Carcará, no Cruzeiro:
Inaugurado em 8 de agosto de 2004, o estádio é utilizado apenas para o futebol amador e precisaria passar por reformas para ser uma das opções de uso.
Atualmente, não possui nenhum dos quatro laudos necessários.

Vasco Viana de Andrade (Metropolitana), no Núcleo Bandeirante
Não há um registro exato da data de inauguração do estádio, que hoje se encontra em situação precária.
Atualmente, não possui nenhum dos quatro laudos necessários.

Walmir Campelo Bezerra (Bezerrão), no Gama:
Reinaugurado em 19 de novembro de 2008 após grande reforma, o Bezerrão será sede da Copa do Mundo Sub-17. A partir de 20 de setembro, estará sob cuidados do Comitê Organizador Local (COL).
Atualmente, possui somente o laudo da vigilância sanitária, válido até  21 de janeiro de 2020.