Esporte e política se misturam em protestos no Brasil e no exterior
Manifestação marcada para este domingo (07/06) terá a presença de torcedores de clubes variados e que são contrários ao governo brasileiro
atualizado
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A onda de protestos antifascistas que ocorreram em São Paulo no último fim de semana terá adesão também em Brasília. Neste domingo (07/06), a Esplanada dos Ministérios será palco de mais uma manifestação com o mesmo teor. A exemplo do que ocorreu na capital paulista, o movimento terá uma grande adesão de torcedores de futebol. Para entender a relação entre política e esporte no país, entretanto, é preciso entrar fundo em algumas questões.
A relação entre esportes e política é antiga. Em muitos regimes totalitários, por exemplo, o futebol é usado para dar ao país um ar de normalidade. O cientista político Leandro Gabiati afirma que já há um movimento transversal às torcidas organizadas que supera rivalidades e une rivais numa luta contra o fascismo. Ele aponta ainda que, embora muitos jogadores apoiem o governo, é possível que haja uma mudança, mesmo que, para isso, seja necessário um importante fator.
Desde 2017, este tipo de ramificação das torcidas organizadas tem ganhado força no Brasil, acompanhando um movimento que já era comum na Europa, onde muitos países foram governados a mão de ferro por ditadores.
“Geralmente quem defende e apoia o governo, entende que o presidente é uma figura que chegou para mudar a forma de fazer política no Brasil, mas o ‘establishment’ lhe opõe resistência para manter privilégios e prebendas. Isso só poderá mudar se houver forte evidência material de que o presidente acabou sendo ‘mais do mesmo’”, ressalta Gabiati.
Sem o dedo das organizadas
Ao contrário do que se pensa, porém, o protesto deste domingo não terá a coordenação de torcidas organizadas. Membros dela, aliás, tratam de deixar claro que elas nada têm a ver com as ações que já ocorreram em São Paulo e devem ocorrer nacionalmente.
A preocupação para não se vincular a imagem das organizadas no protesto é tanta que a manifestação virou uma espécie de tabu entre os torcedores. Muitas das torcidas proibiram os membros de falarem de assuntos políticos publicamente. Desta forma, o que se vê é mais uma junção de pessoas com pensamentos semelhantes. Em condição de anonimato, um torcedor relembrou o movimento da Democracia Corinthiana para ressaltar os eventos recentes no Brasil.
“As opiniões podem ser diferentes. Mas o Corinthians daquela época mostrou que é possível lutar por aquilo que se acredita quando não se concorda com algo”, recordou.
O time paulista aliás, deve contar com representantes na manifestação deste domingo. Na semana passada, com palavras de ordem, torcedores de Corinthians e Santos se reuniram na Avenida Paulista para se manifestarem a favor da democracia.
Apesar de contar com aficionados de times variados, o que tornaria o ambiente propício para confusões e brigas, um torcedor afirmou que, neste domingo, as rivalidades das arquibancadas serão deixadas de lado durante o ato.
“Nesse momento, o único propósito é lutar contra o fascismo, contra esse governo ditatorial que não merece mais nenhum pingo de respeito. A prioridade única é pela democracia”, disparou, em condição de anonimato.
Nos Estados Unidos…
O caso recente do assassinato de George Floyd, um homem negro asfixiado por um policial branco, também gerou debate. Em meio a protestos diários em várias cidades como Nova York, esporte, política e outros assuntos podem, sim, estar intimamente ligados.
Muitos atletas, como o astro LeBron James, se posicionaram pedindo justiça. Por outro lado, Drew Brees, quarterback do New Orleans Saints, criticou quem, na visão dele, “desrespeitava a bandeira dos EUA ou o hino nacional” do país. A declaração repercutiu muito mal, especialmente com a comunidade negra. Isso porque Colin Kaepernick, outro conhecido quarterback da NFL, costumava se ajoelhar durante a execução do hino norte-americano. Era a forma do camisa 7 protestar contra a violência policial contra negros no país.
Outro torcedor, que também falou na condição de anonimato, afirma que é possível que protestos semelhantes no Brasil.
“O racismo sem dúvida é uma pauta muito forte no mundo inteiro. Com certeza o Miguel e o João Pedro, que morreram, que foram mortos recentemente pela elite branca racista brasileira deem a tônica dessa questão de não mais se naturalizar o racismo institucional no Brasil”, destacou.
A repercussão da fala de Brees foi tanta que o jogador não demorou a se desculpar. Segundo o jogador, ele não imaginava a dor que causaria em tantas pessoas.