Escaladores pedem fim da proibição noturna do esporte em parque de Pirenópolis
Área conhecida nacionalmente por praticantes de escalada não permite treinos noturnos, essenciais para alto rendimento e Olimpíadas
atualizado
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Goiânia – A proibição de atividades noturnas dentro do Parque Estadual dos Pirineus, em Goiás, está colocando em risco a prática da escalada, que teve sua estreia olímpica em Tóquio 2020. Escaladores organizaram um abaixo-assinado para garantir a entrada no local durante a noite para treinamentos.
Famoso por suas formações rochosas, o Parque dos Pirineus abrange os municípios de Pirenópolis, Cocalzinho e Corumbá de Goiás. Escaladas acontecem dentro de seu território desde pelo menos 1992, segundo o presidente da Associação de Escaladores da Serra dos Pirineus (AESP), Lucas Mesquita.
Veja fotos da prática:
O parque foi fechado no início da pandemia da Covid-19 e quando voltou a abrir, um decreto estadual de maio de 2021 restringiu seu funcionamento até as 17 horas. Acontece que a prática da escalada de maior intensidade precisa ser praticada no horário noturno, quando há menor calor, suor escorregadio e as pedras estão menos quentes.
“Isso é muito prejudicial para os atletas de escalada. Têm pedras que ficam viradas para o Norte, então pega sol o dia inteiro, fica impossibilitado de escalar durante o dia. Hoje a escalada tem potencial de ter atleta olímpico e sair um deles daqui. É a mesma coisa de estar em Bariloche e proibir de esquiar”, avalia Lucas, que vive em Pirenópolis.
Fama nacional
A fama do Parque dos Pirineus entre os escaladores é tanta, que o escalador brasileiro de renome internacional Felipe Camargo apontou Cocalzinho de Goiás como um possível destino para explorar escaladas de alta dificuldade. No entanto, só depois de liberar treinos noturnos.
“A galera fala que em Cocal tem uns projetos bem difíceis. É um local que quero muito voltar. Muitos anos que eu não vou. Agora sei que só está podendo escalar de dia. Então, isso dificulta um pouco, mas a gente espera que em breve isso volte ao normal e eles liberem a escalada de noite lá de novo”, declarou Felipe no podcast Café com Magnésio.
Lucas Mesquita, da AESP, explica que os atletas viajam pelo país tentando descobrir locais inéditos de escalada, com níveis de dificuldade altíssimos.
Desafio inédito interrompido
O escalador profissional americano Daniel Woods, por exemplo, visitou Goiás em 2019 e escalou uma nova linha inédita, de nível de dificuldade V14, em uma graduação que vai até v17., sendo uma das linhas mais difíceis do Brasil.
“É um dos únicos do estado nesta escala. Ninguém mais conseguiu subir. Ele visitou o parque à noite”, aponta Lucas Mesquita.
O abaixo-assinado para o livre acesso dos escaladores já reúne 834 assinaturas. Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) disse que compreende os anseios de desportistas, mas que é preciso estabelecer critérios de segurança para a presença humana dentro do parque.
Segundo o órgão estadual, está em desenvolvimento um plano de manejo e de uso público do Parque Estadual dos Pirineus, que vai prever as atividades e a forma que poderão ser desenvolvidas na unidade de conservação. A Semad informou que o plano começará a ser executado no início de 2022.