Em Doha, corrida de camelos tem robô como jóquei e prêmios milionários
Metrópoles foi conferir o tradicional evento no circuito de Al Shahanyia, a 40km do centro de Doha
atualizado
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Doha (Catar) – As arquibancadas estão vazias. Apenas alguns jornalistas e a equipe de manutenção caminham por ali e pelo gramado, que é separado de um circuito oval de 8km por uma grade, onde estão pregadas placas com os dizeres: “Hejen Racing Comittee”. O silêncio é afastado por televisores e um telão, que transmitem dois homens debatendo animadamente em árabe, com fotos de camelos nas paredes do estúdio.
Hejen é a palavra em árabe para camelo, a principal atração do circuito de Al Shahanyia, local a 40km do centro de Doha, uma área desértica, que promove corridas envolvendo os animais. As arquibancadas estão vazias não porque o evento não goze de prestígio, e sim porque a ação ocorre, literalmente, ao lado da prova.
Há duas pistas, um anel exterior, destinado para os torcedores e jornalistas que vão cobrir o evento, e um anel mais próximo do circuito, para os donos dos camelos e treinadores, que utilizam radiotransmissores para “falar” com os animais.
Os camelos não são montados por jóqueis. Eles são guiados por drones, ou robôs, que retransmitem as palavras de encorajamento e motivação dos treinadores, que acompanham toda a prova de seus carros. Antigamente, os camelos eram montados por crianças, porém, por óbvios motivos de segurança, a prática recebeu esse upgrade tecnológico.
Premiações
Os camelos mais rápidos podem atingir uma velocidade máxima de 60km/h. Após a prova, que dura cerca de 12 minutos cada — em uma tarde, podem ser realizadas cerca de 10 corridas –, os camelos são encaminhados para uma área especial, onde são cobertos por túnicas por dezenas de cuidadores e levados de volta para os seus donos.
Os primeiros colocados são empapuçados por uma espécie de lama laranja.
Em depoimento ao Metrópoles, um dos cuidadores afirmou que a substância se trata de um perfume, que serve para aproximar a pessoa/animal dos anjos, emissários de Alá, de acordo com a crença local.
E não é o único tratamento especial destinado aos vencedores. Há um prêmio generoso em dinheiro em jogo, e cada corrida tem valores diferentes. Em uma das provas, o dono do animal que foi o primeiro colocado recebeu 250 mil ryals (cerca de R$ 360 mil).
De acordo com o guia Basel Jabi, de Alepo, na Síria, um prêmio de 5 milhões de ryals (R$ 7 milhões) foi entregue no ano passado, o maior valor de 2021.
Com tamanhos valores em jogo, é de se esperar que, além de turistas, o esporte seja “praticado” por membros da elite local, que investem pesado nos treinamentos e cuidados de seus preciosos camelos. Toda a região de Al Shahanyia, aliás, é dedicada aos animais, com diversas lojas de produtos destinados aos seus cuidados.