Eleita melhor jogadora do mundo de handebol, Duda Amorim vê Brasil com chances de bicampeonato
Ao Metrópoles, atleta fala sobre o torneio que começa neste sábado (5/12) na Dinamarca
atualizado
Compartilhar notícia
O handebol feminino brasileiro vive uma ascensão nestes últimos quatro anos. Após o país ter sediado o Mundial em 2011, viu Alexandra Nascimento ser a melhor atleta do mundo em 2012, conquistar a Copa do Mundo em 2013, contra a Sérvia, em território inimigo. No ano seguinte, Duda Amorim conquistou o trono de melhor atleta do mundo.
E antes da delegação embarcar para a Dinamarca para mais um mundial, que começa neste sábado, contra a Coreia do Sul, às 17h15, com transmissão do SporTV, a melhor jogadora do mundo conversou com o Metrópoles.
Ela vê o Brasil em condições do bicampeonato, apesar da pressão ainda maior para a conquista do título, compara a atual geração com a do vôlei masculino, como a melhor da história brasileira, e sonha com medalha olímpica.
Confira a entrevista
Como você tem visto o crescimento do esporte de 2011 para cá?
Em nível nacional, não tenho tanto conhecimento. Na seleção, só estamos subindo, chegamos ao topo e queremos nos manter lá. Essa é a parte mais difícil. Desde 2011, mudou o nosso foco, ficamos convencidas de que poderíamos ganhar uma medalha, e isso foi um fator decisivo para a nossa evolução. Agora é “só” manter, pois é muito difícil, mas nós podemos. Temos um time muito bom, com mistura de gente nova e mais experiente. Estamos motivadas e com uma atmosfera muito boa.
Em 2013, vocês não tinham tanta cobrança, e a transmissão dos jogos era praticamente nula. Agora é bem diferente. A pressão aumentou. Como estão lidando com isso?
A expectativa aumenta por parte não só da imprensa, mas de todo o público. A nossa, não muito. Estamos com a mesma sede de ganhar medalha. Conseguimos nos manter com o mesmo foco e a mesma gana. Temos condições de vencer.
Esse Mundial será na casa do Morten Soubak (técnico da seleção). Como você acha que ele lidará com isso?
Ele tem uma motivação maior, principalmente se tiver um encontro com a Dinamarca. Ele vai ficar bem doido. Mas a pressão para ele é bem maior. Ele vai entender a língua, vai ler as críticas dos jornais. Espero que ele saiba separar. No último Mundial, ele usou um jornal antes do jogo, com críticas das jogadoras da Sérvia contra nós e ele vai fazer isso novamente.
O Morten Soubak sabe usar bem a motivação. Em 2013, ele apresentou uma medalha falando que vocês não ganharam e você partiu pra cima dele…
E toda equipe foi junto. Isso mostrou que a gente era equipe. Ele consegue muito bem motivar a gente, com a psicóloga esportiva, que faz um trabalho excelente antes dos jogos e ajuda a ele. Depois disso, cabe só a gente entrar em quadra e mostrar o resultado.
Vocês estão sentindo a mesma pressão que vôlei teve entre 2008 a 2012, de ter que ganhar tudo?
A gente sente isso. Mas a gente sabe que pode conquistar esses objetivos. O vôlei sempre foi uma inspiração muito grande para a gente. Depois do futebol era o segundo esporte do povo. E a gente segue sendo esquecido, mesmo depois do título. A gente se inspira neles (geração de 2004), pois queremos ganhar da mesma maneira que eles estão ganhando. Queremos muito repetir o feito deles.
O que falta para que no Brasil o handebol tenha o mesmo nível europeu e com campeonatos competitivos?
Estrutura. Realmente faltam patrocinadores. Lá fora é igual ao futebol. Tem clubes bons, estrutura, bons patrocinadores. Então tudo funciona mais fácil. Aqui falta isso. Se trouxermos o segundo título, talvez mude um pouco essa visibilidade e melhore o cenário nacional.
Você acredita que realmente possa acontecer essa mudança com um novo título?
Acredito. Que nem aconteceu com o vôlei, acredito que possa acontecer com a gente também.
Vocês tem as Olimpíadas pela frente, em casa. Como está esse sentimento?
Vai ser uma pressão enorme. Muito maior do que a do Mundial de 2011. A gente está no passo a passo. Vamos pensar no Mundial, que é o ‘último evento teste’ antes das Olímpiadas. Mas acredito que vai ser uma atmosfera boa. Em 2011 teve os ginásios cheios e foi inédito para a gente. E na Olimpíada vai ser mais ainda e com uma jogadora a mais em quadra.
Como você classifica a chave do Brasil no Mundial?
Vai ser bem complicada. Começamos contra a Coreia do Sul, que tem um estilo bem diferente do nosso e com uma defesa muito boa, mas tenho convicção que podemos fazer bons jogos. Alemanha e França será muito mais pegado, batendo com o nosso estilo. Além da Argentina que é uma rivalidade e o Congo, que é o mais fácil dos adversários.
Muitas pessoas veem o handebol como um esporte tranquilo, mas ele tem mais contato do que o futebol, com cotovelada, joelhada…
Puxada de cabelo (risos). Tem um pouco de agressividade sim. Os brasileiros as vezes acham que é até demais, mas estamos acostumadas. São contatos de frente, todas são meninas bem fortes, que aguentam o tranco (risos). Tem alguma outra bola que é perigosa, ou alguma menina mais maldosa que possa puxar por trás. Mas os árbitros estão evitando bastante esse tipo de situação mais perigosa. Dentro da normalidade, não nos machucamos.
Você se vê na expectativa de ganhar o prêmio do próximo ano?
Acredito que nesse ano não fico nem entre as cinco melhores. Passei o ano inteiro lesionada e comecei a jogar em setembro. Acredito que a Ana Paula tenha condições de estar entre as melhores. Mas depende muito de quem está julgando, qual campeonato eles estão assistindo.