Bruno Schmidt relata drama com Covid-19: “Pensa se vai virar número”
O campeão olímpico de vôlei de praia passou quatro dias na UTI e conta ao Metrópoles sobre a experiência com a doença e planos para o futuro
atualizado
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Campeão olímpico na Rio-2016 e já classificado para os Jogos de Tóquio-2020, o brasiliense Bruno Schmidt acaba de superar o maior adversário que já teve. Após 13 dias internado com Covid-19 – quatro deles na UTI -, o jogador de vôlei de praia contou ao Metrópoles detalhes do drama que passou na cama de um hospital de Vila Velha, no Espírito Santo, até receber alta, há duas semanas.
No sábado de Carnaval (13/2), Bruno se sentiu mal e foi para o hospital. Com 25% da capacidade pulmonar afetada, ele foi internado prontamente. A saúde piorou consideravelmente e, com 70% do pulmão comprometido, ele precisou ir para a UTI. “Foi tudo muito novo para mim. Sempre cuidei da minha saúde, acostumado a ir em fisioterapia e ortopedia só quando sentia alguma dor e, do nada, ter uma internação como essa”, admite Bruno.
Recuperado da doença que já matou mais de 275 mil pessoas no Brasil, Bruno sabe que recebeu uma segunda chance na vida. Ele fez sessões de fisioterapia pulmonar para restaurar a capacidade respiratória, já foi liberado para trabalhar a parte física na academia e espera evoluir a cada dia. Sem pressão por uma volta acelerada. Veja a seguir o relato do drama do medalhista de ouro na Olimpíada e os planos até Tóquio 2020.
O que sentiu com a Covid-19
“É tudo complicado nessa doença. O momento da UTI foi o pior, momento que tudo passa pela cabeça e só passam coisas ruins. A confiança cai, você passa a duvidar da capacidade do seu próprio corpo, se vai virar um número, se vai entrar para a estatística. Meu principal medo era ser entubado, se ia ficar dois, três dias entubado, se meu corpo ia corresponder. A gente tem relatos de pessoas que ficaram um mês ou meses entubados.”
Isolamento na UTI
“O mais cruel da Covid-19 é que você é posto em isolamento. Então, a parte psicológica afeta muito. Foi a pior parte na UTI. Você tem consciência, mas do nada é impedido de muita coisa. Mostra como esse vírus é cruel. Você não sabe se a infecção vai cessar… Isso (falta de confiança) demorou três dias, mas os antibióticos fizeram efeito, minha confiança foi voltando e deu tudo certo.”
A saída do hospital
“A melhor sensação foi começar a retomar o contato com os familiares, minha esposa tomou conta disso, sempre municiando todo mundo. Tentava responder no meu lugar. Isso tudo ajuda muito. Ali foi uma vitória. Todo mundo torcendo, dá aquela sensação boa. Em casa, fui recebido pelos familiares, muito bom.”
Aprendizado
“Eu tenho minha competição dentro das quadras, mas venci uma duríssima fora delas. Essa é a sensação, de vitória contra um adversário duríssimo e que eu nem vi.”
Recuperação
“Tem um pouco mais de uma semana que saí do hospital, é fazer um trabalho de ganho respiratório, graças a Deus minha resposta tem sido ótima. Fui superando um degrau de cada vez. Menos de uma semana, liberaram para atividade. Eu perdi muita massa magra. Eu adoraria voltar com muita calma, mas tenho uma corrida contra o tempo, por causa dos Jogos Olímpicos.”
Preparação para a retomada
“Agora vem a cobrança de atleta, todo mundo querendo saber se eu volto, quando eu volto. Fui liberado oficialmente pelos médicos essa semana. Meus exames deram sem nenhuma avaria. E isso me deu confiança. Saber que depende somente de mim. Já voltei a fazer a parte de academia, essa recuperação me surpreendeu. Sei que só depende de mim. É ir com calma, para não ser acometido por uma surpresa, mas evoluir a cada dia. O Mundial confirmou umas três etapas para os próximos meses. Está todo mundo se virando para tentar criar ritmo de competição. No próximo mês, abril e maio, espero estar apto.”
Planos para a Olimpíada
“Me enxergo buscando o meu melhor, onde eu possa estar. É impossível comparar um ciclo passado com esse de agora. A minha meta, em quatro meses, é estar em plena condição de competir. Qualquer coisa que passe na minha cabeça agora, qualquer pensamento em até onde chegar, pode ser perda de energia. Preciso focar no melhor que eu puder estar.”