Vince Carter desafia longevidade e a narrativa do veterano na NBA
Ao escolher passar os últimos anos da carreira em equipes em reconstrução, Vince tem feito os fãs repensarem o legado de uma estrela na liga
atualizado
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Injustamente ou não, anéis conquistados e títulos vencidos ainda são o divisor de águas na hora de discutirmos os grandes jogadores da história da NBA.
Karl Malone é o segundo maior cestinha da história da liga, durante quase 20 anos teve média de 25 pontos por jogo e foi a Finais da NBA, porém, aos 40, após 18 em Utah, abandonou o Jazz e seu parceiro de longa data, John Stockton, para se juntar a Kobe e Shaq em Los Angeles em busca do tão sonhado e elusivo anel. Charles Barkley, um MVP da liga, medalhista olímpico e um dos jogadores mais elétricos que a liga já viu, tentou montar um supertime em Houston, com Hakeem, Drexler (e depois Pippen) para buscar o título que lhe escapou em Philadelphia e Phoenix.
Há inúmeros outros exemplos, como Gary Payton em Los Angeles e Miami, ou Steve Nash com os Lakers, e não só de atletas no crepúsculo de suas carreiras. A geração atual parece ter aceitado que, para ser mencionada no mesmo patamar dos Hakeems, Shaqs, Kobes e Jordans da vida, é necessário adicionar campeão ao currículo.
Pense em LeBron em Miami, Durant e Cousins em Golden State, Davis em Los Angeles ou Paul George nos Clippers. Todas essas transações, embora cada uma tenha sua peculiaridade, carregam uma característica em comum: envolveram jogadores individualmente consagrados que ainda não haviam conseguido superar a última barreira coletiva.
Porém, seria essa a única forma de conseguir “respeito” ao legado profissional de uma atleta? Um veterano de 42 anos tem desafiado essa narrativa.
Escolhas
No último dia 5 de janeiro, Vince Carter se tornou o primeiro jogador a atuar em quatro décadas diferentes na NBA. O jogador estreou na temporada 1998-1999 na liga, atuando pelo Toronto Raptors. Nas pouco mais de seis temporadas que passou no Canadá, seu explosivo arsenal ofensivo e facilidade de cravar a bola na cesta lhe renderam o apelido de Vinsanity.
Após uma saída conturbada, Carter foi trocado para o New Jersey Nets, onde, entre 2004 e 2009, viveu seus últimos anos como um All-Star na NBA. Depois, pipocou em diversos times, quase sempre em esquadrões formados por jovens, em reconstrução e que não corriam nenhum risco de disputar playoffs.
Apesar de há muito tempo não ser mais uma estrela capaz de marcar mais de 20 pontos por jogo, Vince Carter se manteve um jogador útil conforme a idade foi avançando, saindo do garrafão para desenvolver um confiável jogo de perímetro (com exceção da atual temporada, em que ele tem chutado 27.4% para três, seus aproveitamentos nos últimos anos foram sempre acima de 34% com mais de 50% dos seus arremessos sendo de longa distância), além de fornecer a liderança e a experiência de um veterano. Duas habilidades apreciadas e úteis para candidatos ao título.
Nos últimos anos, quando teve a chance de cumprir um papel bem específico assinando com um time que brigaria na pós-temporada, como o Golden State Warriors, como foi especulado, Vince optou por Kings, Grizzlies e Hawks, despertando a incompreensão de fãs e jornalistas.
Os motivos de Vince Carter, no entanto, eram simples. Ele apenas queria jogar. “Senti que era a coisa certa. Eu provavelmente poderia ter escolhido qualquer time. Mas eu ainda quero jogar. Quaisquer minutos que eu conseguir, eu os quero. Eu gosto de ensinar. Eu farei isso por qualquer time. Essa não é uma questão, é apenas quem eu sou. Eu não tenho nenhum problema com a forma como as coisas são feitas hoje em dias. Apenas não é para mim”, declarou para um jornal de Atlanta.
A julgar pelas palavras que têm sido escritas sobre Vince e sobre a celebração feita em cada arena que o Hawks visita, as escolhas da antiga estrela têm sido eficientes em fazer fãs e imprensa valorizarem a estrela que não venceu um anel, mas que amou o jogo e sacrificou seu corpo e décadas de sua vida a seu serviço. A maior prova disso aconteceu no último dia 8 de janeiro, quando o Hawks foi a Toronto jogar contra os Raptors. Assim que entrou na partida pela primeira vez, Carter foi aplaudido de pé pela torcida que, durante tantos anos, o vaiava depois que ele deixou o Canadá. Há coisas que só o tempo pode fazer por você.
Vince Carter enters the game and gets a heartwarming reception from the Raptors crowd in what could be his final game in Toronto pic.twitter.com/Rg2sBHozLr
— TSN (@TSN_Sports) January 9, 2019