Única brasileira na WNBA, Damiris Dantas luta por título e contra o racismo
Em sua 6ª temporada, a pivô está nos playoffs com o Minnesota Lynx e não hesita em se posicionar sobre assuntos fora do esporte
atualizado
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Em uma época em que diversos atletas negros têm usado suas vozes e plataformas em nome da igualdade e pedido o fim do racismo e da violência policial nos Estados Unidos, Damiris Dantas, jogadora do Minnesota Lynx, da WNBA, tem seguido o exemplo de seus companheiros de profissão e se revelado uma líder, também fora de quadra.
Em preparação para os playoffs da liga de basquete feminino dos EUA — seu Minnesota Lynx enfrenta o Phoenix Mercury, pela segunda fase, nesta quinta (17/9) –, Damiris concedeu uma entrevista coletiva. No bate-papo, além da temporada, a melhor de sua carreira até aqui, a ala/pivô falou sobre racismo e a importância da sua representatividade como única brasileira na WNBA atualmente.
“Comecei a me posicionar quando cheguei na WNBA e vi que toda atleta tinha sua própria voz e opiniões, defendia causas. Além disso, o meu time sempre nos abraçou e nos deu todo o suporte para falar junto à liga”, afirmou.
“Hoje estou muito ativa na minha luta e na minha causa contra o racismo. Eu tenho noção da minha representatividade, principalmente para minha família e pessoas que me acompanham. Recebo muitas mensagens de pessoas que se sentem representadas e acolhidas por mim. Recebi mensagens de meninas que começaram a jogar basquete por minha causa. Eu me sinto muito feliz por inspirar na vida delas, em todos os sentidos”, continuou.
Sobre representatividade, Damiris cita o exemplo de Janete, “a melhor jogadora de basquete do Brasil, tanto do masculino quanto do feminino”, como exemplo do porquê é importante continuar lutando. “Ela nunca teve o reconhecimento merecido, talvez porque ela é negra? Eu acho que sim, isso pesa muito. Por isso nós atletas temos que continuar nos posicionando e cobrando, para que as coisas possam mudar e tenhamos o reconhecimento que merecemos”.
Jornada
Damiris chegou à WNBA em 2014, quando foi draftada pela franquia de Minnesota, cidade que considera uma “casa” nos Estados Unidos e se diz bastante respeitada pela comunidade e sua treinadora, Cheryl Reeve. Até se firmar na liga, aos 27 anos, foi um longo caminho.
“Estou há seis temporadas na WNBA, e para chegar aqui é muito trabalho até conquistar espaço. Depois que a Syl (Sylvia Fowles) se machucou, ficamos sem uma pivô 5 e a técnica queria que eu chamasse mais responsabilidade. Então foi um desafio, o time tem me ajudado e os números foram melhorando. Estou feliz”.
E o desafio tem sido bem cumprido. Titular em 22 partidas, Damiris tem médias de 12,9 pontos e 6,1 rebotes. No mês de setembro, ela conseguiu seu recorde de pontos (28, contra o Chicago Sky, em jogo que acertou 100% de suas bolas de três em cinco tentadas) e rebotes (13, contra o Dallas Wings).
Esse bom desempenho lhe garantiu mais um ano de WNBA. “Esse era um dos meus objetivos, conseguir essa extensão com o Lynx. Fiquei surpresa de ter acontecido agora, antes de o campeonato terminar. É bom porque tira o peso das costas, já estou dentro, e agora posso focar em terminar a temporada bem”.
Foco
Apesar dos bons resultados conquistados até aqui, Damiris reconhece que tanto a cobrança para se posicionar quanto para desempenhar bem dentro de quadra pode ser estressante. “Conversamos sobre isso constantemente com a Associação de Atletas e também temos uma psicóloga nos acompanhando. Nesse momento da pandemia, estando longe de casa, é algo que a liga e, especialmente o Lynx, deram muita atenção. Além disso, sempre tive um acompanhamento de uma terapeuta para que eu possa estar bem mentalmente para desempenhar minhas funções em quadra”.
Mesmo com as dificuldades, Damiris está ciente da sua força e pretende seguir sua luta tanto dentro de quadra quanto nas bandeiras que defende. Além do racismo e da representatividade, fala também sobre a igualdade de gênero. Na entrevista, usou uma camisa “Ponha esportes femininos na TV”.
Antes de finalizar, ainda passou um recado para os patrocinadores e ligas do Brasil. “Precisamos de mais apoio, falta incentivo. Por isso, acredito, o atleta tem medo às vezes de se posicionar. Mas não pode parar. Talvez eu não venha a colher os frutos, apenas as gerações futuras. E essa é a nossa luta”.