Opinião: na bola, jogadores europeus exigem respeito da NBA
Estigmatizados como jogadores lentos e sem atitude, atletas do velho continente têm roubado a cena na principal liga de basquete do mundo
atualizado
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O ítalo-canadense Hank Biasatti foi o primeiro atleta europeu a atuar na Associação de Basquete da América, liga que viria a se tornar a NBA. O fato aconteceu em 1946. Desde então, a presença do jogador europeu no principal campeonato de basquete do mundo aumentou em qualidade, quantidade e prestígio.
Prova disso é o resultado do NBA Awards, realizada na última segunda-feira (25/06/2019). A cerimônia, dedicada a reconhecer os principais jogadores da última temporada da NBA, terminou com os mais cobiçados prêmios indo parar na mão de atletas europeus.
O grego Giannis Antetokoumnpo levou o principal prêmio da noite, de MVP, dado ao Jogador Mais Valioso da liga; o esloveno Luka Doncic foi eleito o Melhor Calouro da temporada; e o francês Rudy Gobert ficou com o troféu de Melhor Defensor da temporada.
O reconhecimento é significativo porque, até pouco tempo atrás, o atleta europeu era visto como lento, sem atitude, um mal investimento. O próprio MVP desta temporada foi vaiado, em 2013, quando selecionado pela sua equipe. Luka Doncic, considerado um dos melhores prospectos dos últimos tempos, foi preterido por três times, que fizeram investimentos em atletas americanos menos refinados tecnicamente e mais desenvolvidos fisicamente, um resquício da NBA dos anos 1990, que valorizava esse tipo de jogador.
“Os times ainda se sentem apreensivos em escolher jogadores europeus nas primeiras posições do draft. Embora poucos admitam que estigmatizam prospectos europeus, é inegável que eles estão mais familiarizados com as estrelas do basquete local. Um executivo da NBA chegou a refletir que seus colegas têm mais receio de escolher um europeu em detrimento de um americano por medo da repercussão que isso possa causar”, escreveu a repórter da ESPN Mina Kimes, em um perfil sobre Luka Doncic meses antes de o esloveno entrar na liga americana.
Embora, de fato, tenham existido prospectos europeus que não conseguiram atingir o potencial e expectativa que havia em cima deles antes de entrar na liga – entre alguns exemplos famosos, Jan Vesely, Andrea Bargnani e Darko Milicic, escolhido em 2003, na frente de Dwyane Wade, Carmelo Anthony e Chris Bosh –, há outros tantos nomes que descreditam o mito do europeu fracassado.
Drazen Petrovic, Toni Kukoc, Vlade Divac e Arvydas Sabonis, por exemplo, tiveram êxito em uma época em que as regras da NBA ainda favoreciam um estilo de jogo agressivo, físico, focado dentro do garrafão.
A mudança de regras, que favoreceu um estilo de jogo mais fluido, técnico e mais próximo do que já se fazia no basquete internacional, coincidiu com a entrada de uma geração que não só influenciou a dinâmica do esporte mas também obteve vitórias como protagonista de suas equipes: Dirk Nowitzki, os irmãos Gasol, Tony Parker e Peja Stojakovic – todos são, hoje, campeões da NBA.
Assim como a geração anterior, a de Dirk abriu caminho para os nomes que, atualmente, brilham na NBA. Além de Doncic, Antetokoumnpo e Gobert, Saric, Nurkic, Capela e Jokic, no início de suas carreiras, já demonstram um imenso potencial e fazem a diferença em seus times. Isso sem falar nos jogadores sul-americanos, asiáticos, da Oceania e africanos (Paskal Siakam, do Toronto Raptors, foi eleito o Jogador que Mais Evoluiu na temporada).
Na temporada 1996-97, a NBA contava com 21 jogadores internacionais em toda a liga. No início da última temporada, eram 108, de 42 países diferentes. Pelo desempenho dos atletas nesta e nas últimas temporadas, a tendência é de que os estrangeiros abocanhem uma fatia ainda maior desse bolo nos próximos anos, estejam os executivos da liga bem informados ou não.