Gregg Popovich guia os Spurs rumo à excelência dentro e fora de quadra
Posicionamentos do treinador fora de quadra são tão admiráveis quanto suas conquistas e títulos no basquete
atualizado
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O San Antonio Spurs ostenta uma sequência de 23 anos se classificando para os playoffs. Nesse período, a franquia venceu cinco títulos e ganhou uma merecida reputação de excelência e progressividade. Eles foram pioneiros no conceito de “tankar” para maximizar as chances de conseguir uma grande estrela — o que lhes rendeu Tim Duncan –, investiram em scouting internacional — selecionando Tony Parker e Manu Ginobili — e o técnico Gregg Popovich sempre pregou um sistema flexível, que maximiza o talento das peças disponíveis e influenciou grandes equipes, entre elas, o Golden State Warriors da última década.
Essa sequência de mais de duas décadas, no entanto, deve terminar em 2019-20. Os Spurs estão a quatro jogos do oitavo colocado, o Memphis Grizzlies, com oito partidas para serem disputadas. Entre as razões para isso, está a aposentadoria de seu mais simbólico e vencedor trio (Duncan, Parker e Ginobili), a saída traumática de Kawhi Leonard e as dificuldades naturais de repor o talento perdido à altura e reconstruir em um mercado pequeno e em uma liga tão competitiva como a NBA.
Embora, hoje, os Spurs sejam liderados em quadra por um par de estrelas cujos estilos parecem uma homenagem ao basquete dos anos 1990 e do começo dos 2000, fora dela, a franquia continua sendo referência em termos de progressividade.
Pioneiros
O time do Texas foi o primeiro a empregar uma mulher em sua comissão técnica. Desde que Becky Hammon assumiu seu lugar no banco ao lado de Popovich em 2014, 10 outras mulheres ocuparam posições de treinadoras em equipes da liga. “As pessoas dizem que eu quebrei a barreira do sexo na NBA. Mas, na verdade, quem fez isso foi o Pop. Ele sempre acreditou que a pessoa certa deveria ser contratada”, disse Hammon, em entrevista para a ESPN.
“Acreditar” e “fazer” a coisa certa é algo que parece vir com facilidade para Gregg Popovich, e não só em relação ao comando de um time de basquete. Popp é uma daquelas figuras que sabe o tamanho que tem e a influência que suas declarações carregam. Talvez, por isso, prefira economizar palavras em coletivas e entrevistas à beira da quadra para guardar toda sua eloquência e consciência para os assuntos que verdadeiramente importam.
Apenas no último mês, Pop criticou o comissário da NFL, Roger Goddell, por, na visão do técnico dos Spurs, ter se deixado intimidar por Trump; pela postura da liga de futebol americano em relação aos protestos de Colin Kaepernick (“A bandeira é irrelevante. Ela é apenas um símbolo que as pessoas usam por razões políticas”); e condenou a injustiça racial nos Estados Unidos após o assassinato de George Floyd por um policial em Minneapolis.
“Como uma pessoa branca, eu fico envergonhado de saber que esse tipo de coisa possa acontecer. Esse linchamento. Nós todos já vimos as fotos de pessoas negras penduradas em árvores. E nós acabamos de ver isso novamente. Eu nunca achei que veria isso, com meus próprios olhos, em tempo real”, disse o técnico, em um vídeo divulgado pelo San Antonio Spurs.
“We’re listening. We’re pressing pause to listen to our people. Please join us in our conversation.”
Welcome to #SpursVoices. pic.twitter.com/K5XgIIh359
— San Antonio Spurs (@spurs) June 3, 2020
Histórico
A preocupação de Pop com questões sociais e assuntos que afetam a sua comunidade e a de seus jogadores não vem de hoje. Em novembro de 2017, quando um atirador entrou em uma igreja do Texas e matou 26 pessoas, incluindo crianças, os Spurs disputaram uma partida e venceram: “Nós vencemos um jogo de basquete, mas considerando o que aconteceu hoje, isso é bem sem importância. Quando você pensa na tragédia que essas família sofreram, é difícil compreender. Então eu acho que falar sobre basquete esta noite é bem inapropriado”, declarou, em coletiva após o jogo.
Danny Green, que jogou para Gregg Popovich durante oito anos, afirma que um dos principais méritos do treinador é reconhecer que “o basquete é ótimo, mas que a vida é muito mais do que isso”. E talvez seja esse o principal legado de Pop.
Além de ter formado excelentes treinadores (Steve Kerr, Mike Budenholzer, Brett Brown estão entre os seus ex-jogadores e assistentes), Popovich também desempenhou um papel no desenvolvimento humanista de seus comandados, motivando paixões que vão além do basquete e criando um ambiente baseado na empatia. Observe David Robinson, e seu trabalho em comunidades carentes; ou, novamente, Steve Kerr e seus posicionamentos sociais; ou, mais recentemente, Lonnie Walker, que recentemente desabafou sobre experiências ruins do passado, incluindo estupro, abuso sexual e questões envolvendo saúde mental.
“É incrível como ele sempre se preocupou com o atleta enquanto indivíduo”, declarou para a Bloomberg Will Perdue, outros dos comandados de Pop, o treinador que instiga em seus atletas conhecimento histórico e dá livros de presente para eles.
Fã da NBA sempre escutaram, em slogans e comerciais, que o basquete é mais que um jogo. Gregg Popovich talvez seja um dos poucos que realmente entenderam o que isso realmente significa.