Crítica: The Last Dance revela rachaduras na imagem de Michael Jordan
Episódios 5 e 6 do documentário analisam como imagem cuidadosamente construída do jogador começou a sofrer rachaduras e afastá-lo do jogo
atualizado
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No final de 1991, após conquistar seu primeiro título com o Chicago Bulls, Michael Jordan parecia imbatível. A impressão foi reforçada depois do segundo título, contra o Portland Trail Blazers, de Clyde Drexler, e, principalmente, devido à sua performance nos treinamentos da seleção americana de basquete durante as Olimpíadas de 1992, em Barcelona.
Jordan era bonito, milionário, talentoso, e havia conquistado o respeito de Magic Johnson e Larry Bird, antigos reis do jogo. Um homem quase perfeito, certo? Quase. Os episódios 5 e 6 do documentário The Last Dance (Arremesso Final em português, disponível na Netflix) abordam as primeiras rachaduras na imagem de Jordan após um começo de carreira quase angelical.
“Republicanos compram tênis também”
Barack Obama, ex-presidente americano e um dos entrevistados para o documentário, refletiu que os Estados Unidos estavam prontos para abraçar um ícone negro desde que ele não se mostrasse controverso em questões de raça.
Jordan parecia estar a par da lição mesmo enquanto jovem, em 1990. A estrela se negou a apoiar publicamente Harvey Gatt, candidato negro a senador na Carolina do Norte, que concorria contra Jesse Helms, um notório racista. Sua justificativa: não alienar nenhum grupo de consumidor em potencial, alegando que “republicanos compram tênis também”.
A frase, que seguiu Jordan durante toda sua biografia, segundo ele, não passou de uma brincadeira. “Eu parabenizo caras como Muhammad Ali por defenderem seus ideais. Mas eu nunca me vi como um ativista. Eu me via como um jogador de basquete. Fui egoísta? Provavelmente. Mas minha energia era essa”, justificou, no documentário.
The Jordan Rules
O segundo grande arranhão na imagem de Jordan veio com a publicação do livro The Jordan Rules, do jornalista Sam Smith. A obra mergulha nos bastidores do Chicago Bulls de 1990/91. Apesar de a campanha ter terminado em título, o livro pinta um Jordan difícil de se conviver, tirano, intransigente e que praticava bullying contra os companheiros de time.
Para os Bulls, apesar do climão interno em relação a conversas que saíram do vestiário direto para as páginas de Smith, o livro foi usado como motivação para unir o grupo e buscar mais um título. Para Jordan, não passava de mais uma tentativa de “tirar um ídolo do pedestal por quem estava cansado dos patrocinadores, dos comerciais e da imagem de perfeição”.
Apostas
Nos playoffs de 1993, o Chicago Bulls enfrentou um sedento time do New York Knicks pelas Finais de Conferência. Após começar perdendo a série por 2 x 0, reportagens começaram a ser divulgadas que, entre um jogo e outro, Jordan teria passado uma madrugada apostando em um cassino em Atlantic City. A partir daí, seguiram mais matérias, denunciando Jordan por supostas dívidas em apostas.
Apesar de ter conseguido, mais uma vez, responder em quadra, superando os Knicks e, depois, o Phoenix Suns, para conseguir o seu terceiro título consecutivo, Jordan, mentalmente e emocionalmente, já não era mais o mesmo.
O peso da fama, a falta de privacidade e os constantes ataques da mídia a sua imagem, justificados ou não, começavam a tirar a alegria de MJ, fazendo uma ponte com a temporada 1997-98, quando o astro, confinado em um quarto de hotel, passava pela mesma situação.