Heptacampeão, Hamilton vira referência contra racismo e extrapola F1
O ativismo do piloto na luta contra o preconceito racial ajudou a colocar pela primeira vez o tema em discussão na categoria
atualizado
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O inglês Lewis Hamilton se tornou heptacampeão mundial neste domingo (15/11) e confirmou nas pistas uma vitória que já conseguiu neste ano por atitudes fora dela. O ativismo do piloto na luta contra o preconceito racial ajudou a colocar pela primeira vez o tema em discussão na categoria e reforçou a imagem dele como uma figura comprometida com causas sociais.
O primeiro piloto negro da história da categoria vive um 2020 especial, ao ter superado o recorde de Michael Schumacher em número de vitórias e igualado o alemão na quantidade de títulos. Além disso, Hamilton também se destacou em ações antirracistas em variados momentos na temporada. A Mercedes o acompanhou e até deixou a cor prata de lado e pintou os carros de preto.
Em um ano marcado pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e pela intensa discussão sobre ações afirmativas, Hamilton teve papel bastante relevante ao levar a preocupação com o racismo a um ambiente novo: a Fórmula 1. E a categoria sentiu o impacto dessa novidade.
“O Hamilton leva a mensagem de que é possível se falar de racismo em todos os espaços, inclusive onde existe hegemonia branca. Ele abre espaço para que essa pauta seja ouvida onde não havia o costume de se debater”, disse o presidente da Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho.
Protesto em julho
O inglês teve atitudes públicas nos últimos meses e que causaram reações controversas na Fórmula 1. Em julho, ele tentou organizar um protesto coletivo para que os 20 pilotos se ajoelhassem antes da prova. Seis não aderiram.
Hamilton subiu ao pódio no GP da Itália com uma camiseta em que cobrava a prisão dos policiais responsáveis pela morte da jovem americana negra Breonna Taylor. Logo depois a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) proibiu o uso de outras vestimentas no pódio além do macacão.
“O posicionamento do Hamilton causou um pouco de incômodo. É um corpo negro em um local diferente. É a representatividade ainda solitária e destoante”, avaliou a professora da Faculdade de Educação e Presidente da Comissão Assessora de Diversidade Étnico-Racial da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Debora Jeffrey.
Homenagem para engenheira
A posição de protesto de Hamilton veio acompanhada em 2020 de uma atitude marcante. Depois de vencer o GP da Estíria, o piloto levou ao pódio como representante da Mercedes a engenheira de combustíveis Stephanie Travers, escolhida por ser mulher e negra. O inglês fez questão de mencionar o episódio como um símbolo de luta pela diversidade.
Mesmo com 13 anos de carreira na Fórmula 1, Hamilton ainda não conseguiu abrir as portas da categoria para outros pilotos negros. E deixar esse legado é um dos objetivos do inglês.
“As manifestações dele são de muita importância por causa daqueles que tentam minimizar o racismo. Pode ser muito comum a gente ouvir falar que não tem racismo no esporte. Quando ele se posiciona, ele diz que existe, sim, racismo em qualquer esfera”, afirmou o professor da ESPM, Fábio Mariano Borges, especialista na área de inclusão e diversidade.
Se por um lado a figura de Hamilton ajudou o racismo a ser debatido na Fórmula 1, por outro a própria postura fortaleceu o piloto. Segundo o professor de História Social da USP Marcel Tonini, ao se posicionar pela causa, o inglês conseguiu passar uma mensagem positiva e atrair um tipo de fã que não está ligado diretamente ao automobilismo. “Uma coisa leva a outra. As pessoas que nem acompanhavam passam a gostar dele pela forma como ele valoriza a identidade negra”, disse.