Entenda a briga entre São Paulo e Rio pela Fórmula 1 em 10 capítulos
A disputa nos bastidores entre as cidades para receber o GP do Brasil terá uma nova etapa nesta terça-feira, às 13h30
atualizado
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A disputa nos bastidores entre São Paulo e Rio de Janeiro para receber o GP do Brasil de Fórmula 1 terá uma nova etapa nesta terça-feira, às 13h30. O governador João Doria (PSDB) e o prefeito Bruno Covas (PSDB) se reúnem no Palácio dos Bandeirantes com representantes da categoria para discutirem a renovação do contrato com São Paulo após o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmar que as chances de o GP ir para o Rio são de “99%”. A capital carioca possui um projeto em andamento para construir um autódromo, cujo projeto é de cerca de R$ 700 milhões.
Veja o passo a passo dessa história e entenda como a busca pelo Rio de Janeiro em reconstruir uma pista se tornou uma concorrência com São Paulo para receber o GP do Brasil de Fórmula 1 nos próximos anos.
1º capítulo: o fim de Jacarepaguá
A antiga pista, que foi palco da Fórmula 1 na década de 1980, foi fechada de vez em 2012 para dar lugar ao Parque Olímpico dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Desde então, a prefeitura passou a procurar um novo local para erguer o autódromo. No mesmo ano, o Exército cedeu um terreno 2 milhões de metros quadrados na Floresta do Camboatá, em Deodoro, mas o local precisava de cuidados especiais. Como por muito tempo o espaço era utilizado para guardar munições, havia restos de bombas e minas. O sinal de alerta ficou evidente em junho de 2012, quando soldados do Exército acenderam uma fogueira no terreno e houve uma explosão. Uma pessoa morreu e três ficaram feridas. Por isso, foi necessário realizar uma varredura e uma limpeza no local para se confirmar a viabilidade da construção do autódromo.
2º capítulo: a faxina no terreno
De 2012 a 2015, o Ministério do Esporte investiu R$ 60 milhões no trabalho de descontaminação do terreno do Exército em Deodoro. Ao longo de três anos, escavações de até 10 metros de profundidade e a atuação de 250 pessoas resultaram na retirada de cerca de 4 mil granadas enterradas, além de estilhaços de explosões antigas e restos de munições velhas.
3º capítulo: a prefeitura do Rio dá o primeiro passo
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), abre o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para receber propostas sobre a construção de um novo circuito, desde que os projetos cumpram as exigências técnicas de infraestrutura e cumpram requisitos ambientais. A concorrência ficou aberta por mais de um ano, sem que houvesse a aparição de interessados.
4º capítulo: a entrada do consórcio Riomotorsport
Em junho de 2018, o Consórcio Rio Motorsports, formado por mais de 60 profissionais, entregou um projeto de 700 páginas para a prefeitura. A proposta do grupo foi elaborada com a parceria do arquiteto alemão Hermann Tilke, o responsável por assinar os desenhos das pistas de autódromos como Yas Marina, em Abu Dabi, Sochi, na Rússia, e Sakhir, no Bahrein. O material passou nos meses seguintes por correções, análises, consulta pública e audiências até ser declarado pela prefeitura como o modelo vencedor para nortear a futura licitação, que só viria a ser lançada no próximo ano, em 2019. O projeto final tinha como detalhes a construção de uma pista de 4,5 km de extensão e 20 curvas, capacidade para receber até 130 mil pessoas, possibilidade de receber eventos como a Fórmula 1 e a Moto GP, mais a construção no espaço de uma arena multiuso. O custo seria de R$ 697 milhões.
5º capítulo: a mobilização política
Logo após ser eleito governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), assumiu como compromisso levar a Fórmula 1 para o Rio de Janeiro. Em novembro do ano passado, ele recebeu o chefe da Fórmula 1, Chase Carey, para uma reunião sobre o projeto carioca. O encontro serviu para as duas partes se aproximarem e combinarem de prosseguir com as conversas sobre o tema.
6º capítulo: os obstáculos
Apesar da vontade dos governantes, o projeto do novo autódromo encontrou alguns problemas. Antes da licitação poder ser finalmente lançada, o Tribunal de Contas do Município (TCM) solicitou mais de cem correções ao texto inicial apresentado pela prefeitura. A Câmara dos Vereadores também apresentou um projeto de lei para transformar o terreno do Camboatá em Area de Proteção Ambiental (APA), por ser um dos últimos locais de Mata Atlântica em área plana na cidade. A licitação foi finalmente lançada em maio. Semanas depois, no mesmo dia em que foi anunciado o consórcio RioMotorsport como o vencedor da concorrência para construir o autódromo, o Ministério Público Federal entrou com um pedido de liminar para suspender o edital. O motivo: a expedição de uma licença prévia para comprovar a viabilidade ambiental do empreendimento. Por isso, mesmo com o anúncio da vitória no edital, o caso pode continuar com problemas na Justiça.
7º capítulo: o apoio de Jair Bolsonaro
No começo de maio, Jair Bolsonaro manifestou apoio ao projeto carioca. Durante evento no Rio de Janeiro, ele assinou termo de compromisso com a Fórmula 1 para construir o autódromo e afirmou que o GP do Brasil de 2020 já seria na capital fluminense. O posicionamento causou estranheza em São Paulo, principalmente por Interlagos ter acordo assegurado até o ano que vem para sediar a etapa brasileira da competição. As duas maiores cidades do País passaram a ter uma concorrência aberta pelo GP do Brasil de Fórmula 1.
8º capítulo: a reação dos paulistas
O governador de São Paulo, João Doria, e o prefeito da cidade, Bruno Covas, se mobilizaram para explicar que Bolsonaro se confundiu ao afirmar que o Rio de Janeiro já receberia a Fórmula 1 em 2020. Os dois políticos paulistas realizaram reunião no Palácio dos Bandeirantes para montar uma estratégia de negociação para ressaltar que para a corrida migrar para o Rio, a categoria teria de romper contrato e pagar uma multa pesadíssima. São Paulo quer manter a Fórmula 1 pois o evento gerou movimentou em 2018 mais de R$ 330 milhões em atividades turísticas. O esforço em renovar com a categoria levou Covas a convocar deputados federais paulistas para debater e organizar um plano de ações em Brasília com o intuito de provar a importância de continuar a receber a etapa brasileiras. O plano de São Paulo de privatizar o autódromo de Interlagos passou por uma mudança nesse período. A prefeitura decidiu alterar o projeto e prosseguir com uma concessão do espaço à iniciativa privada. A Câmara de Vereadores aprovou na última semana o texto do projeto.
9º capítulo: reuniões com dirigentes da F1
As autoridades políticas de Rio e São Paulo trataram também de buscar contatos com dirigentes da categoria. Os paulistas recebem no próximo mês o chefe da F-1, Chase Carey, para uma reunião. A pauta será a renovação do contrato para continuar com o GP do Brasil para depois de 2021 e, assim, vencer a concorrência com o Rio de Janeiro.Os cariocas, por outro lado, receberam na última a diretora de promoções e eventos da Fórmula 1, Chloe Targett-Adams para um jantar no hotel Copacabana Palace. Witzel e Crivella participaram do encontro. A conversa teve como intuito reforçar o esforço das autoridades locais em levar o GP do Brasil para a capital fluminense nos próximos anos.
10º capítulo: Rio com 99% de chances
O Grande Prêmio de Fórmula 1 do Brasil tem “99% ou mais” de chances de mudar de São Paulo para o Rio de Janeiro a partir de 2021. A declaração foi do presidente Jair Bolsonaro, que se reuniu com o diretor executivo da Fórmula 1, Chase Carey, e o governador fluminense, Wilson Witzel, na segunda-feira. “Nós não perderemos a Fórmula 1. O contrato vence ano que vem com São Paulo e resolveram retornar a Fórmula 1 para o Rio de Janeiro. Seria isso ou a saída do Brasil. Noventa e nove por cento de chance, ou mais, de termos a Fórmula 1 a partir de 2021 no Rio de Janeiro”, afirmou Bolsonaro. “Ninguém está tirando a Fórmula 1 de São Paulo. Ela está permanecendo no Brasil”, acrescentou. Pouco depois da declaração do presidente, Chase Carey não quis confirmar a mudança de São Paulo para o Rio de Janeiro. O diretor afirmou que está negociando, mas nada foi fechado. Declarou ainda que as conversas são privadas. “Estamos vendo a possibilidade de continuar a nossa participação no Brasil a partir de 2021. No momento, não temos nada fechado, estamos ainda em negociação. Não queremos eliminar qualquer possibilidade, estamos negociando com Rio de Janeiro, mas também com São Paulo”.