Abaixo de zero: conheça a Seleção Brasileira de hóquei no gelo
Após conquistar a medalha de bronze em 2015 no México, hóquei brasileiro se reestrutura para voltar a conquistar bons resultados
atualizado
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No dia 7 de junho de 2015, o Brasil assegurava medalha com uma goleada de 6 x 1 sobre a Argentina. Tivesse acontecido sobre um gramado, o feito seria comentado por anos a fio, e entrado para o hall da fama dos grandes jogos do esporte. Porém, você provavelmente não ouviu falar dessa partida porque ela aconteceu em uma superfície deslizante, a 10ºC negativos.
O resultado conquistado pela Seleção Brasileira aconteceu no Pan-Americano de Hóquei no Gelo disputado no México, e marcou o ápice do país na modalidade inventada, aperfeiçoada e adorada no Canadá.
Entre 2014 e 2017, com apoio da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) e a expertise do treinador norte-americano Jens Hinderlie, o Brasil participou de todas as edições do Pan-Americano da modalidade, sempre ficando entre os cinco primeiros colocados e chegando a mandar duas equipes diferentes (A e B) para o torneio de 2017. Resultados bastante expressivos para um país sem tradição no hóquei no gelo.
When it comes to inline hockey, team Brazil can dangle.
How does that translate to the ice? pic.twitter.com/Bon3suSFfg
— NHL (@NHL) October 3, 2019
“A maioria dos nossos atletas vêm do hóquei in-line”, explica Alexandre Capelle, presidente da Federação Paulista de Hóquei no gelo (FPHG), da Federação Brasileira de Ice Hockey e um dos principais fomentadores da modalidade no Brasil. Formado em educação física, Alexandre trabalha com hóquei há quase 36 anos, já tendo passado pelas funções de jogador, treinador e, agora, dirigente. “Começamos a praticar no gelo em 2007, com a criação da FPHG e, depois, também com apoio da federação, criamos a equipe que ficou conhecida como a primeira Seleção Brasileira de hóquei no gelo para disputar o campeonato Pan-Americano”, conta.
Hoje, Capelle ajuda a organizar campeonatos de hóquei in-line estaduais e nacionais, movimentando cerca de mil atletas de todas as categorias. “Este ano, participamos do Roller Games, em Barcelona, e conquistamos a 11ª colocação”. O Brasil participa de campeonatos mundiais in-line desde 1999, já tendo somado duas medalhas de ouro na Divisão I, duas de prata e três de bronze.
Momento atual
No momento, a Seleção Brasileira de hóquei no gelo vive uma espécie de hiato. Após as participações nos torneios Pan-Americanos, a equipe não contou mais com o apoio da CBDG. Em 2018 e 2019, um grupo de atletas do in-line, entusiastas do esporte, viajou para representar o país na LATAM Cup, disputada na Flórida (EUA).
“Captar recursos para reestruturar e retornar com um projeto de hóquei no gelo para o Brasil, essa é a missão agora”, afirma Salvador Neto, diretor de hóquei da CBDG. A exemplo de Alexandre Capelle, Salvador também tem uma vida dedicada ao hóquei. Começou como jogador de hóquei in-line (“muito limitado”) da Portuguesa, depois, passou a focar no gelo. Fez parte da Federação paulista em 2012 e, desde 2017, auxilia o projeto hóquei com a CBDG.
“O que dificulta o projeto no país são as exigências da IIHF (Federação Internacional de Hóquei no Gelo)”, ele explica. “Para fazer parte do ranking oficial da modalidade, os jogadores têm que comprar que disputam a liga nacional — que ainda não existe, no nosso caso, e somente jogadores com contrato de trabalho podem representar suas seleções em eventos oficiais”.
Salvador analisa que o hóquei vive um “timing” muito diferente das modalidades de gelo nas quais o Brasil tem chance real de participar ou já participou de olimpíada. “Apesar de o hóquei ser o verdadeiro ‘esporte de massa” do gelo, para a CBDG, tudo começa por ter a estrutura oficial no Brasil, pois, sem isso, o país não entra no ranking da modalidade e a CBDG não consegue justificar ao COB os gastos com o esporte”.
Outra exigência da IIHF para veicular um país à federação é a existência de um ginásio de gelo oficial, uma das prioridades atuais de Salvador. “Em janeiro, haverá a abertura do Centro de Prática e Treinamento de curling, patinação no gelo e hóquei no gelo, em São Paulo. Além de termos um espaço para treinar uma delegação para se classificar e competir bem no hóquei 3 x 3 nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2024, começaremos a criar uma demanda que justifique o investimento em uma quadra oficial de hóquei e patinação nas medidas corretas (1.800 m²)”, ressalta.
Próximas competições
Além do hóquei 3 x 3 nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2024, o próximo compromisso do hóquei brasileiro no gelo deve acontecer em outubro de 2020, em um torneio chamado Development Cup, que acontecerá em Füssen, na Alemanha. Ainda sem a alcunha de Seleção Brasileira, o grupo de entusiastas locais enfrentará time em condições parecidas com a situação da modalidade no Brasil. Entre eles, Marrocos, Andorra, Portugal e Irlanda.
“Temos um projeto de Lei de Incentivo para disputar este torneio. Ao mesmo tempo, estamos procurando uma pessoa com experiência real no hóquei no gelo para assumir os treinamentos”, explica Salvador. O antigo treinador, Krister Armstrom, um sueco, ex-jogador da 2ª divisão sueca, chegou a frequentar torneios de hóquei in-line em São Paulo para identificar atletas de alto nível que poderiam fazer parte da equipe. No entanto, ele precisou se afastar dos trabalhos.
Além da busca de um treinador e de recursos, os atletas convocados realizarão avaliações periódicas no Núcleo de Alto Rendimento de São Paulo, um instituto de pesquisa dos esportes mantido por Abílio Diniz. Com tantos esforços focados em fazer a modalidade “pegar” no país, é possível que o bronze vencido em 2015 seja só um degrau para voos ainda maiores da Seleção Brasileira de hóquei no gelo.