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True Crime: limite ético se torna tema de discussão nas produções

Baseadas em crimes reais, as produções de true crime se popularizaram nas plataformas de streaming com diferentes formatos e abordagens

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True crime toma conta do streaming nacional
1 de 1 True crime toma conta do streaming nacional - Foto: Arte/ Metrópoles/ Divulgação

As produções de true crime (inspiradas em crimes reais) estão cada vez mais populares nas plataformas de streaming. No Brasil, várias séries e documentários sobre o assunto estão sendo produzidos e conquistando o público.

Linha Direta, Todo Dia A Mesma Noite, A Tragédia das Meninas de Realengo e Isabella: o Caso Nardoni são alguns dos exemplos de conteúdos de true crime lançados recentemente que estão bombando, mesmo com dinâmicas diferentes.

Entretanto, a questão ética começou a se tornar um debate entre internautas e cineastas. Com a representação de fatos reais em produtos do streaming, os casos podem trazer ensinamentos ou podem ser tratados de forma banal por quem assiste.

Em entrevista ao Metrópoles, a roteirista Flávia Vieira afirmou que as séries e documentários precisam ser analisadas de acordo com as escolhas feitas pelos produtores.

“Toda a equipe envolvida em uma produção como essa [true crime] se verá diante de perguntas ao longo do desenvolvimento dos roteiros e será obrigada a fazer escolhas e tomar decisões narrativas. Na hora de fazer essas escolhas, é preciso ter um cuidado redobrado, porque você está lidando com a vida de pessoas reais, seja numa produção de documentário ou numa obra de ficção baseada em fatos reais”, conta.

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Isabella: o Caso Nardoni. Isabella Nardoni in Isabella: o Caso Nardoni. Cr. Courtesy of Netflix © 2023
Série Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio na Boate Kiss
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Isabella: o Caso Nardoni. Isabella Nardoni in Isabella: o Caso Nardoni. Cr. Courtesy of Netflix © 2023

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Qualidade das produções

As séries e documentários de true crime são, em essência, incômodos por se tratarem de casos reais. Em Isabella: o Caso Nardoni, por exemplo, as feridas e mágoas de vários familiares são ativadas nas entrevistas, mesmo que isso não traga um ganho informativo para a produção.

Flávia Vieira defende que não vale tudo pelo resultado final e que cuidados devem ser tomados. “A pergunta que eu me faço quando assisto a um documentário é qual leitura aquela obra me possibilita fazer sobre o fato, que sem ela eu não poderia fazer. Essa avaliação precisa ser feita dentro de cada processo e como em tudo que nós fazemos no audiovisual”, pontua.

Na série que retrata o caso da Boate Kiss, um grupo de familiares foi à imprensa dizer que não concordava com a reexposição do caso. As críticas caíram sobre a Netflix, que optou por fazer uma dramatização do caso com atores.

Daniela Arbex, que escreveu o livro homônimo da série, ressaltou a importância da obra mesmo após as críticas. “Eu consigo entender a apreensão, principalmente daquilo que eles ainda não puderam constatar. Eu acho que esquecer é negar a história. E, quando a gente esquece, a gente repete”, reflete.

A autora também afirma que recebeu diversas mensagens dos familiares sobre a série: “Houve muito mais mensagens de gratidão das famílias, de agradecimento e acolhimento do que essas reações [negativas], que são naturais e fazem parte do processo.”

Comportamento humano

“Eu acredito que quando tratamos de violência, estamos observando o comportamento humano e não é à toa que o mercado investe em histórias de filhos que matam os pais, pais que matam os filhos, isto é, casos que contrariam a compreensão daquilo que aceitamos enquanto sociedade.”

Flávia Vieira

Mesmo com tal comportamento humano, a roteirista não acredita que existam pontos negativos em contar essas histórias cinematograficamente. “Prefiro refletir sobre quem conta, porque conta e como conta e a partir daí observar como aquela obra dialoga com a nossa sociedade”, explica.

“Quando a gente fala de crime, inevitavelmente falamos de comportamento, de relações e sobretudo de poder. Por que algumas histórias são contadas e outras não? Por que jovens queimados no Rio Grande do Sul geram mais comoção do que jovens metralhados pela polícia no Rio de Janeiro? Não consigo dissociar a produção, o gênero, da cadeia produtiva do audiovisual e da sociedade de um modo geral”, finaliza.

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