The Chair: comédia da Netflix satiriza a universidade para falar do mundo real
Com Sandra Oh no papel principal, a série é uma das principais novidades de 2021: leia crítica
atualizado
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A passagem do tempo tem inúmeros significados. A ficção científica já explorou viagens ao passado e ao futuro. A psicologia nos ensina a focar no presente. E o entretenimento dá mais camadas interpretativas ao tema. The Chair, da Netflix, usa a comédia para explorar o assunto. Do envelhecimento aos novos acordos sociais, tudo está presente nos ágeis e excelentes seis capítulos da produção.
The Chair traz Sandra Oh – mostrando toda sua capacidade de comédia – como a professora Ji-Yoon Kim, primeira mulher a assumir como chefe do departamento de inglês da universidade de Pembroke. Ela é, igualmente, a primeira não-branca a ocupar o posto. No cargo de chefia, tenta levar o departamento para a contemporaneidade, aproximar a literatura dos anseios do estudantes atuais.
É no choque de gerações que The Chair coloca à prova sua própria leitura da passagem do tempo. Ao mostrar o embate entre os professores mais antigos, presos em seus dogmas e preconceitos, contra a nova geração, de mestres e de estudantes, que pretendem ter outras leituras sobre os “clássicos da língua inglesa”, a série arranca risadas e mostram o quão anacrônico ainda é o mundo acadêmico – assim como o jornalístico, o cinéfilo e por aí vai.
Nesse confronto, The Chair, criado por Amanda Peet e Annie Julia Wyman, explora temas atuais: racismo, machismo, etarismo, cultura do cancelamento e as novas formas de comunicação. Tudo isso em meio a um texto leve e muito inteligente, capaz de apontar para as incoerências de todos os lados do conflito – o que torna o fato de a série ter “apenas” seis episódios de 30 minutos ainda mais surpreendente.
É sensacional a cena em que, confrontado por alunos por uma piada sobre o nazismo, um professor (homem, branco e escritor famoso) se mostra incapaz de reconhecer suas falas, assim como o grupo (estudantes, jovens, indignados) não conseguem ouvir a divergência – em um diálogo que parece dois monólogos se confrontando. Uma sequência brilhante. O mesmo pode ser dito da construção da personagem Yaz McKay (Nana Mensah), professora negra, que reflete a mudança e a jovialidade no âmbito acadêmico.
Nessa construção do que é anacrônico e de como o tempo promove choque entre gerações, The Chair toca em temas complexos com inteligência e leveza, se mostrando um dos entretenimentos mais interessantes deste ano.