Temas sociais ganharão mais força em novelas após pandemia do coronavírus
Assuntos como a violência contra a mulher, que registraram alta considerável neste período, podem estar no roteiro das atrações
atualizado
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Muito além de entretenimento, as telenovelas carregam o importante papel de abordar temas de relevância social que possam interessar uma parte de seu público. Nos últimos anos, assuntos como a comunidade LGBTQ+, violência contra a mulher, pedofilia e outros são recorrentes nas principais produções das emissoras nacionais. Agora, mais um tema será assunto constante de produções televisivas: as consequências do coronavírus.
Seguindo indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, em março todas as emissoras suspenderam as gravações de suas novelas, programas ao vivo e de auditório. A medida tinha intenção de evitar aglomerações e disseminação do coronavírus. Agora, quatro meses após o começo do isolamento social, os canais estudam formas de voltar aos trabalhos seguindo protocolos de cuidado contra a Covid-19.
E uma coisa já podemos adiantar: de imediato, as novelas não serão mais as mesmas! Sem beijões, abraços e contato. Em entrevistas, Manuela Dias, autora de Amor de Mãe, deixou clara a intenção de abordar a Covid-19 na produção, porém, procura a melhor forma: “Por um lado, existe uma curiosidade de como os personagens se virariam na quarentena, mas acho que o vírus iria sequestrar a novela. Em vez de procurar Domênico, Lurdes estaria trancada tentando não pegar o coronavírus”, disse ao jornal O Globo. Daniel Ortiz, responsável por Salve-se Quem Puder, deve seguir na mesma linha.
Violência contra a mulher
Porém, muito além do coronavírus, um tema negativo que ganhou destaque com a chegada do isolamento social é a violência contra a mulher. Uma informação divulgada pelo jornal The Guardian em abril mostra que pelo menos 15 milhões de casos de violência doméstica estão previstos em todo o mundo este ano. Os pesquisadores esperam 15 milhões de registros adicionais a cada três meses em que o confinamento é prolongado.
Pioneira em abordar temas de relevância social em suas novelas, como aconteceu com o primeiro beijo gay em uma trama das 18h, a Globo não comentou se o tema estará em suas produções, mas adiantou que as gravações estão sendo preparadas visando o retorno. “Por enquanto, não temos como antecipar as tramas das novelas, pois as obras estão sendo adaptadas para que possam voltar às gravações em segurança”, disse a emissora em nota ao Metrópoles.
O jornalista Nilson Xavier, autor de Almanaque da Telenovela Brasileira (compre aqui), comentou que, para temas referentes à pandemia estarem incluídos nas novelas, é necessário saber se as produções serão retomadas em curto ou curtíssimo prazo. “No caso da Globo, se isso ocorrer – e considerando o histórico da casa – os temas serão abordados conforme o alinhamento político assumido pelas organizações nos últimos meses ou semanas”, afirmou Xavier.
Vida real vs Ficção
Pouco antes do início da pandemia, a personagem, de Amor Sem Igual, novela da Rede Record, Maria Antônia foi vítima de violência sexual. Como acontece diariamente com muitas mulheres, ela se sentiu culpada pelo ocorrido e resolveu não denunciar.
“Na novela, a Maria Antônia sofre um abuso sexual e, assim como muitas mulheres da vida real, ela se sente culpada por isso. A Poderosa [Day Mesquita] que incentiva ela a denunciar esse crime, e muitas mulheres precisam desse apoio e incentivo para tomar coragem e denunciar o seu agressor. Se a novela puder incentivá-las a fazer isso e a se curar emocionalmente também desses abusos, ficaria realizada”, conta Michelle Batista, atriz que dá vida à personagem.
“Acredito que ao retornar, teremos ainda resquícios desse acontecimento, que é muito marcante, e seus desdobramentos, imagino eu, acontecerão. A arte à serviço de questões como essa é o que me alegra muito”, completou.
Com as gravações suspensas bem em sua reta final, Michelle adiantou que a Record ainda não revelou ao elenco o que acontecerá no final da trama. “Imagino que muitas coisas mudem ou sejam adaptadas à nova realidade”, opina a atriz, que acredita retornar às gravações em agosto.
“Eu acho que a quarentena nos permitiu um mergulho muito profundo em nós, no mundo, nas questões que afligem toda a humanidade. Esse tempo pensei, sim, na minha personagem, em como ela é necessária para acolher e mostrar que mulheres não estão desemparadas. Inclusive os serviços de apoio e denuncia a violência estão ativos, mesmo no isolamento”, reflete. “Contudo, talvez eu não veja essa ligação direta com a minha interpretação e a pandemia. Mas espero sim que a gente saia dessa seres humanos melhores, mais preocupados, solidários e coletivos”, concluiu Michelle.