Séries mexicanas se modernizam na Netflix e viram sucesso no Brasil
Bem diferentes das produções dos anos 1980 e 1990 exibidas pelo SBT, as atuais produções trazem temas atuais e conquistam o público
atualizado
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Acompanhar o TOP 10 de visualizações da Netflix no Brasil mostra um caminho: produções latinas, sobretudo as mexicanas, tem forte apelo junto ao público brasileiro. Recentemente, séries como Quem Matou Sara? e Mãe Só Tem Duas figuraram entre as mais vistas, assim como Control Z, Monarca, Ingobernable e outros títulos.
A relação do público brasileiro com as produções mexicanas é antiga: ainda nos anos 1980, o SBT passou a exibir produções do país da América do Norte. A estreia dessas novelas ocorreu em 1982, com Os Ricos Também choram. Em seguida vieram sucesso como A Usurpadora, Maria do Bairro, Marimar, Privilégio de Amar e Rubi.
Nos últimos anos, porém, a produções mexicanas começaram a atrair o público mais jovem, que está conectado nas plataformas de streaming – além da Netflix, o Amazon Prime Video também têm séries mexicanas em seu catálogo, como Cuna de Lobos.
No streaming, seja na Netflix ou no Amazon Prime Video, as produções mexicanas, além de conquistarem grande audiência, tem construído uma nova imagem dessas novelas e séries junto ao público brasileiro: a característica de “dramalhões” perde espaço para temas modernos, que envolvem sexualidade, novas famílias, tramas adolescentes e outros assuntos contemporâneos. Tudo, é claro, com um bom romance de fundo.
Para a professora Maria Ângela Raus, especialista em Mídia, Informação e Cultura e doutorando em história econômica na Universidade de São Paulo, as produções mexicanas no ar na Netflix são as versões mais atuais da teledramaturgia mexicana, que mudou muito nas últimas décadas. “Temos que entender a produção neste contexto, eles tratam realidades do cotidiano”, diz, em entrevista ao Metrópoles.
Modernidade
A especialista, que atualmente dá aula na Faculdade de Tecnologia de São Paulo, os serviços de streaming aumentaram o acesso a novelas, séries e filmes de vários lugares, mostrando um acervo de produções audiovisuais mais diverso, atingindo outro público, mais contemporâneo.
Como exemplo, ela cita a compra pela Netflix de Rebeldes, uma das produções latinas mais famosas no Brasil. “Pelo o que já saiu [na imprensa] não será um remake, e sim uma segunda geração. É outro público, vai atingir uma nova geração”, opina.
O jornalista Cadu Safner, editor do portal Estrela Latina, parceiro do Metrópoles, acredita, também, que o acesso às produções mais modernas, com uma linguagem mais compatível aos dias atuais, marca o sucesso das séries mexicanas na Netflix.
“As produções latinas da Netflix tornaram-se refrescos no cotidiano das pessoas num momento em que buscava-se muito por novidades. Partindo disso, acho que a familiarização do público ocorreu porque boa parte dos roteiristas e diretores dessas séries fizeram longa carreira na televisão”, pontua Cadu.
Astros da TV no streaming
Tanto Cadu quanto Maria Ângela Raus concordam em um ponto: assim como tem ocorrido recentemente no Brasil, vários atores que fizeram carreira na televisão mexicana estão migrando para produções do serviço de streaming.
“Existem casos de atores consagrados que repetiram personagem em mais da metade da carreira, por exemplo Ana Martín e César Évora, uma espécie de Neusa Borges e José Mayer de lá. Ficaram estigmatizados como atores de um estilo só de personagem. Contudo, a migração da televisão para o streaming é um dos grandes atuais, pois estamos conferindo performances e atuações impecáveis de figuras bem populares, mas que jamais conseguiram desbravar tais papéis na televisão”, analisa Cadu.
A professora Maria Ângela Raus, além da mudança dos atores da televisão para a internet, pondera que o streaming também cria novos formatos no audiovisual, com diferentes elementos de narrativa, mais rápidos.
“Tem uma coisa de pegar as figuras conhecidas e as colocar nas plataformas. Porém, tem uma linguagem que é diferente, não é mais um novelão de 150 capítulos. São episódios mais rápidos, narrativas curtas. Tudo refletindo mudanças na forma de consumir”, conclui a acadêmica.