Segundo Sol: “cura gay” de personagem gera polêmica com os LGBTQ+
Não é a primeira vez que o autor João Emanuel Carneiro transforma personagens homossexuais em héteros em suas novelas
atualizado
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Desde a última semana, a trama que envolve a personagem homossexual da novela Segundo Sol, Maura (Nanda Costa), vem provocando discussões e sendo rechaçada por boa parte dos espectadores do romance global. Isso porque a policial, declaradamente lésbica desde os primeiros capítulos, está passando por uma “cura gay” e se envolvendo com o colega de trabalho Ionam (Armando Babaioff).
Na história de João Emanuel Carneiro, Maura começou a novela como amante de Selma (Carol Fazu) e com diversos dilemas morais, como o medo de assumir-se homessexual para os pais. Como acontece em diversos lares da vida real, a personagem de Nanda chegou a ser expulsa de casa pelo pai homofóbico e, enfim, pôde viver o amor livremente.
Vivendo juntas, o casal decidiu engravidar por inseminação artificial. Doador e melhor amigo de Maura, Ionam foi ganhando cada vez mais espaço na vida jovem, até os dois se beijarem, no episódio do último dia 25 de agosto. O casal bonito, pensado para conquistar o público, porém, teve repercussão oposta à desejada, ao menos na internet.
“Obrigada Rede Globo, por fazer a minha mãe acreditar que lésbica pode gostar de homem. É só aparecer o ‘homem certo’. Essa coisa de Maura e Ionam me dá nojo”, revoltou-se uma internauta, no Twitter. “Essa história de Maura ser lésbica e virar hétero/bissexual é um desserviço à sociedade”, corroborou outro telespectador.
Contraponto
Para o advogado e colunista do Metrópoles, Ítalo Damasceno, a novela não chega a prejudicar a causa e a luta por respeito da militância. “Eu acho que a novela não tem poder de atrapalhar. Ela teve um começo superpositivo, apenas ele se perdeu, está seguindo com uma posição equivocada”, acredita, e completa: “É também preciso lembrar que uma novela é um produto de sete a oito meses, e ao longo desse processo, ela vá se perdendo. Mas não é por causa dessa abordagem que as pessoas vão ficar mais conservadoras”.
Trajetória duvidosa
Esta não é a primeira vez que João Emanuel, retrata — de maneira equivocada — relações homoafetivas. Em Da Cor do Pecado, novela exibida pela emissora carioca em 2004, João criou Abelardo (Caio Blat). O rapaz gay vivia sendo humilhado pelos irmãos, por ser afeminado. O autor fez Abelardo virar lutador e terminar a novela “dividindo” a mesma mulher (Karina Bachi) com os irmãos.
Na trama de Cobras e Lagartos (2006) Tomás (Leonardo Miggiorin) também mudou de orientação sexual e terminou a história envolvido com Sandrinha (Maria Maya). Outro momento onde a ficção presta um desserviço a causa LGBTQ+ aconteceu em A Favorita (2008). Orlandinho, vivido por Iran Malfitano, era apaixonado por Halley (Cauã Reymond), mas acabou casando com Maria do Céu (Deborah Secco).