Segundo Sol: cantores baianos vibram com força do axé music em novela
A nova dramaturgia da TV Globo é embalada por clássicos do ritmo da década de 1990 e início dos anos 2000
atualizado
Compartilhar notícia
A novela global Segundo Sol, mesmo antes de sua estreia já dava o que falar. Se no começo os comentários eram negativos – devido ao baixo número de atores negros no elenco –, atualmente, a trilha sonora repleta de clássicos do repertório carnavalesco tem arrancado elogios, inclusive dos próprios artistas soteropolitanos.
Todo ano a axé music é um dos ritmos mais tocados durante o Carnaval, Brasil afora. Porém, nos demais meses perde fôlego e posições no ranking para segmentos como o sertanejo universitário. Contudo, a dramaturgia da TV Globo está mudando esse cenário. De acordo com estudos realizados pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), algumas das músicas inseridas na trilha da novela estão sendo mais executadas em shows e também nas categorias de Música ao Vivo e Rádios.
“As canções ajudam a conduzir o enredo da novela, o que faz com que chegue ainda mas próximo do coração das pessoas. E é para isso que fazemos música, para tocar o público”, afirma Jammil.
Parte da trilha sonora de Segundo Sol, Rega é a oitava canção emplacada por Levi em uma novela da emissora carioca. “Me sinto muito honrado por fazer parte da seleção. Essa canção estava guardada e agora está transmitindo muitas mensagens boas para as pessoas, o que me deixa muito feliz”, considera Levi.
Em entrevista ao Metrópoles, Levi conta, ainda, ter voltado a assistir às novelas e enaltece as atuações e a boa vontade em retratar o Nordeste de culturas diversas e não caricatas.
Novas roupagens
A trilha sonora composta por canções de artistas como Gal, Caetano, Gil, Armandinho, Moraes Moreira, Magareth Menezes, Netinho, Daniela Mercury e BaianaSystem, entre outros, ganhou nova roupagem. Beija-Flor, do grupo Timbalada, agora soa na voz de Johnny Hooker. O Mais Belo dos Belos, sucesso de Daniela Mercury, tem forte interpretação de Alcione; e Beleza Rara, primeiro hit de Ivete Sangalo – quando a baiana ainda fazia parte da Banda Eva –, foi gravada pelo pagodeiro Thiaguinho.
Para o líder da banda Psirico, Márcio Vitor, ter cantores de outros segmentos emprestando talentos ao axé é uma bela e merecida homenagem. “Só sinto falta de mais canções atuais no repertório. Além de outros ritmos da Bahia, como o arrocha e o pagodão do Léo Santana, Harmonia do Samba e do próprio Psirico”, pontuou.
Do compositor Evandro Rodrigues, Baianidade Nagô também ganhou nova versão, sob a interpretação da cantora Maria Gadú. Assim como Vem Meu Amor, do Olodum, foi regravada pelo forrozeiro Wesley Safadão. Mas ouvir os conterrâneos do Baiana System no tema de abertura da novela foi o que mais agradou Márcio Vitor. “Aqui nós gostamos de axé, mas também gostamos de música eletrônica. É importante tirar alguns esteriótipos e a novela está fazendo isso muito bem”, explica.
Debate sobre direitos autorais
Há um mês, Segundo Sol também está retratando um assunto de extrema importância para muitos profissionais que vivem da música: o direito autoral. No enredo, o protagonista Beto Falcão (Emílio Dantas), um cantor que, após ser dado como morto, começa a ter suas músicas mais executadas em shows, rádios, bares e outros locais e sua família se reestrutura financeiramente quando começa a receber mais direitos autorais, devido ao sucesso póstumo.
Integrante do grupo intitulado Procure Saber – associação formada por músicos engajados nas questões de propriedade intelectual –, Márcio Vitor reforça a importante de tratar do tema em horário nobre. “Estão dando voz a muita gente, ainda temos compositores passando fome, sem receber os direitos”, garante o cantor.