Por que “A Força do Querer” faz tanto sucesso? Especialistas explicam
Novela global lidera audiência na Globo e prova que o formato de folhetim se modernizou para alcançar novas plateias
atualizado
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O engajamento de “A Força do Querer” nas redes sociais – as “mesas de bar virtuais” que dão o tom do que passa na TV – prova que o formato de novela se modernizou. Com os melhores ibopes desde “Amor à Vida” (2013), a atração se encaminha para, quem sabe, virar um marco da teledramaturgia equiparável à “Avenida Brasil” (2012). Afinal, o que explica o novo fenômeno das 21h?
O Metrópoles consultou especialistas em televisão para entender o que torna a novela tão atraente para públicos variados. É a galeria de (quatro? cinco?) protagonistas femininas, de Jeiza (Paolla Oliveira) a Bibi (Juliana Paes)? Qual a contribuição do debate sobre identidade de gênero, que envolve tanto Nonato/Elis (Silvero Pereira) quanto Ivana (Carol Duarte)?
Para isso, enumeramos três qualidades que ajudam a explicar as ótimas médias de audiência e as conversas (sobre criminalidade, autodescoberta e empoderamento feminino) que o folhetim, escrito por Glória Perez e com direção artística de Rogério Gomes, desperta no público.
Novela sem vergonha de ser novela
Em tempos de atenção dividida – a TV compete com celular, tablet, redes sociais, serviços de streaming e séries do momento –, “A Força do Querer” vinga por não tentar ser outra coisa que não uma novela caprichada.
“A Glória Perez é uma autora que vai no folhetim rasgado, que não faz novela com vergonha de ser novela. Ela não duvida do gênero e vai fundo nisso”, acredita Patrícia Kogut, colunista do jornal “O Globo”.
Comentarista de cultura pop no “UOL” e observador sagaz da internet, o publicitário Chico Barney nutre opinião parecida. “O maior trunfo é se parecer muito com uma novela, sem invencionice de formato”. Mas será que as séries chegam a influenciar “A Força do Querer”?
“Não acho que as séries sejam um próximo estágio de evolução das novelas. Mas ficaram mais ágeis. Sofisticação dos roteiros e produção. O mesmo processo acontece com as novelas. É o caminho para competir com uma oferta cada vez maior de entretenimento. Você não pode mais se dar ao luxo de longos períodos de barriga. A atenção do público está dispersa”, explica.
Glória Perez, uma autora antenada com os tempos atuais
Dona de sucessos como “Explode Coração” (1995) e “O Clone” (2001), Glória Perez estava distante da faixa das 21h desde “Salve Jorge” (2012). Em grande estilo, o retorno reconfigura o folhetim para temas atuais, como protagonismo feminino e identidade de gênero.
“Ela gosta de falar sobre muitos assuntos diferentes ao mesmo tempo e consegue amarrar tudo de maneira bem satisfatória. As abordagens são extremamente humanas, e o elenco feminino é sensacional, daqueles que entram pra história”, opina Barney.
Patrícia vê Glória como uma autora íntima dos novos públicos e antenada com as redes sociais. “Imagino que essa questão da atenção dividida esteja na cabeça dela. Ela escreve com desenvoltura no Twitter. Acho que ela leva a novela para as redes sociais. ‘Salve Jorge’ não foi tão bem-sucedida, mas era sucesso na internet. Ela começou a falar de web em novela, foi pioneira nisso”.
Narrativa ágil: todos os núcleos interessam
Uma qualidade facilmente reconhecível de “A Força do Querer” é o poder de atração de praticamente todas as histórias narradas. “As tramas estão bombando ao mesmo tempo. Isso é raro de acontecer”, avalia Patrícia, lembrando que Glória disse uma vez que faria revezamento de núcleos no folhetim.
Barney também acredita na intensidade da narrativa. “Tem ritmo, é ágil. Muita coisa acontece por capítulo”. Outro mérito é como a Globo explora a internet para espalhar resumos, vídeos, participações especiais, bastidores e até dicas de moda em espaços como o portal “Gshow” e o streaming “Globo Play”. “A emissora tem se esmerado em oferecer seus conteúdos em todas as plataformas”.