Populares, novelas são a nova aposta da Netflix no mercado brasileiro
Sucesso das produções latinas no mundo levou plataformas a investirem alto no gênero; o formato, no entanto, ainda é uma icógnita
atualizado
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Todas as semanas, uma enxurrada de novas séries e sequências são disponibilizadas pelos serviços de streaming — que, aliás, contribuíram bastante para a popularização do formato no Brasil. Mas no país em que nasceram ícones da dramaturgia como Odete Roitman, Nazaré Tedesco e Carminha, nenhum gênero foi capaz de unir os telespectadores brasileiros com tanta força como as novelas.
Não à toa, as plataformas começaram a se preparar para competir com a tevê aberta. A Netflix, por exemplo, já confirmou o interesse em produzir novelas no Brasil e contratou Elisabetta Zenatti, experiente produtora, com passagem por diversas empresas da área, para tocar a empreitada. Além disso, garantiu um um casting poderoso de ex-globais. Bruno Gagliasso, Giovana Ewbank, Camilla Queiroz, Marco Pigossi e Alessandra Negrini são apenas alguns dos talentos que abriram mão de contratos exclusivos com emissora carioca, mirando a projeção internacional que a gigante do streaming pode oferecer.
Procurada pelo Metrópoles, a plataforma, presente atualmente em 190 países, afirmou manter seu olhar atento à cultura de cada nação. No Brasil, além do sucesso inegável do melodrama raíz, a empresa observou que cinco dos 10 títulos mais assistidos na última década são de língua não-inglesa — produzidos aqui mesmo, na França ou Espanha.
“Por isso, estamos cada vez mais investindo em um conteúdo diverso, no Brasil e ao redor do mundo. E, além de oferecer os conteúdos preferidos de nossos assinantes, queremos, cada vez mais, que eles se identifiquem e percebam suas realidades refletidas na tela”, afirmou a Netflix em nota.
Para além do Brasil e dos países vizinhos, as produções latinas também provaram seu potencial fora do continente, o que também reflete em mais oportunidades para os artistas brasileiros. Club de Cuervos, no México, e 3%, no Brasil, foram as primeiras produções originais de língua não-inglesa da plataforma. O sucesso atingido por elas acabou sendo determinante para que o canal continuasse investindo em indústrias locais.
Outro título de destaque é Quem Matou Sarah, que o Metrópoles classificou como um bom e velho dramalhão latino-americano em crítica recente. Segundo dados da Netflix, a série mexicana atingiu cerca de 55 milhões de assinantes, se tornando o título de língua não-inglesa mais popular nos Estados Unidos em seus primeiros 28 dias de exibição. Também do México, Desejo Sombrio alcançou 35 milhões de assinantes pelo mundo no primeiro mês e ficou no Top 10 em 77 países como Brasil, Colômbia, França, Espanha e Estados Unidos.
Reprises e o apelo à memória afetiva
O Globoplay, que tem parte do catálogo da Globo, também vem atraindo assinantes com títulos que apelam para a memória afetiva. Desde 25 de maio, o serviço resgata a cada duas semanas, sempre às segundas-feiras, um clássico da Globo que marcou época e que volta para ficar, para ser visto e revisto a qualquer momento e em qualquer lugar.
Como se não bastasse a vantagem dos próprios títulos sob a concorrência, a plataforma comprou os direitos de exibição de uma série de produções latinas, que também são bastante prestigiadas no país. Para se ter uma ideia do sucesso, o remake da mexicana Rubi, que estreou no dia 14, ficou em primeiro lugar entre as séries na primeira semana de sua exibição, com 830 mil horas consumidas de 14 a 20 de junho. Bateu The Big Bang Theory (792 mil horas) e The Good Doctor (512 mil horas).
Newton Cannito, autor e roteirista de séries como Unidade Básica (Universal TV), 9mm (Fox/Netflix), entre outras, avalia positivamente as estratégias adotadas por ambas as plataformas, para fidelizar o público das novelas. “O acesso às plataformas têm chegado rapidamente às classes populares, acostumadas a consumir telenovela. A investida da Netflix já começou com a criação de um casting de starsystem algo fundamental para fidelizar o público à plataforma”, pontua Cannito.
“A estratégia da Globo também parece acertada. Ciente do poder de sua marca e da fidelidade de seu público, a Globo tem conseguido converter espectadores da TV aberta em assinantes da Globoplay, inclusive oferecendo telenovelas clássicas e conteúdo exclusivo do BBB”, acrescenta.
Mas como seria a produção de uma novela original para a plataforma? Essa, segundo o especialista, é uma questão que as empresas de streaming devem responder em alguns anos. “O formato da telenovela é ligado ao modelo de produção e exibição. Resulta em uma obra com uma imensa quantidade de capítulos e uma narrativa multiplot, com várias histórias simultâneas. O modelo de criação também influencia no formato, pois a telenovela é uma obra aberta, ou seja, uma obra que é escrita enquanto está sendo exibida . Isso permite mais interatividade com o público, que assiste diariamente e ao vivo”, explica.
“Será desse formato que a Netflix está falando ao falar de fazer telenovelas? Será que funciona? Não tenho certeza. A Disney já voltou a ideia de produzir seriados semanais, que também permitem a criação de narrativas mais abertas. Esse debate entre os modelos de produção e formatos de dramaturgia será um dos temas dos próximos anos e precisamos de pesquisas e testes para entender o comportamento das audiências”, completa.
Cannito aposta no surgimento de séries que dialogam com os temas e o enredo melodramático das novelas, atualizadas para um formato e uma linguagem mais ágil, típica das séries.”Conseguirão assim conciliar o público mais adulto, conhecedor e fã das novelas; com o público jovem acostumado com seriados”, opina.