Para onde vão? Especialista explica sumiço de produções do streaming
Marina Rodrigues opinou sobre o sumiço de produções do streaming e alerta sobre o futuro das platafornas
atualizado
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Nos últimos tempos, produções de grande sucesso andam “sumindo” das plataformas de streaming ou sendo canceladas de forma repentina, sem um aviso prévio por parte da empresa responsável por aquela produção. Mais recentemente, a HBO Max anunciou que removeria 36 produções do catálogo, incluindo o drama adolescente Generation, a série de antologia animada Infinity Train, o reality show de namoro com tema de férias 12 Dates de Natal e o spin-off de Vila Sésamo – as séries de Angélica e de Sandy também foram cortadas.
No momento, não existe uma definição sobre o destino das produções. Não dá para saber se eles serão disponibilizados em DVD ou serviços de aluguel, ou se a remoção tornará eles completamente inacessíveis.
É preciso lembrar que a Discovery comprou a Warner Media, assim ela também se tornou dona da HBO Max, que é um produto Warner. Sendo assim, o sumiço das produções é justificado pela plataforma como a preparação do streaming para a futura fusão. O fato é: para onde vão essas produções?
Desde o anúncio da fusão, filmes como Convenção das Bruxas, Locked Down, An American Pickle, Moonshot, Superintelligence e Charm City Kings e outros deixaram a plataforma, causando uma imensa indignação nos fãs das produções. Além disso, a Warner causou polêmica ao cancelar o filme da Batgirl — o longa já estava todo filmado e custou cerca de US$ 90 milhões para o estúdio.
Em conversa com o Metrópoles, Marina Rodrigues, produtora executiva com foco em políticas públicas para o audiovisual, explicou que alguns países, como Estados Unidos e Brasil, trabalham com acordos que “não preveem a possibilidade de licenciamento para outros canais de TV ou até mesmo outras plataformas”.
“O streaming ainda joga em um campo muito desregulado. Isso significa que em alguns países, como Estados Unidos e Brasil, os acordos geralmente não preveem a possibilidade de licenciamento para outros canais de TV ou até mesmo outras plataformas. Dessa forma, quando a empresa decide suspender uma obra do catálogo ou até mesmo cancelar uma série em curso, os autores não têm meios para preservar o produto ou ainda continuar recebendo por isso”, comenta.
Sobre o sumiço ostensivo e completamente sem aviso de produções da HBO Max, Marina opina: “Em grande parte isso se deve ao esquema de produção da Discovery. David Zaslav [CEO da Discovery Communications] é um executivo que gosta de jogar no campo do qual possui completo domínio, e isso aqui significa deter os direitos das obras no catálogo por todo o mundo, terceirizando essa obrigação quando necessário.”
Com as conjunturas formadas em torno do streaming mundialmente, isso pode fazer com que o consumidor receba muito menos conteúdo do que estava acostumado antes, tendo até mesmo que pesquisar para onde foi aquela série que ele tanto gosta. Para a empresa em si, significa redução de custos que ela não quer ter, especialmente no momento do qual o conglomerado precisa quitar dívidas adquiridas com a fusão.
Marina Rodrigues
Produções brasileiras
Apesar de os principais títulos a desaparecerem do streaming serem os americanos, as séries brasileiras também sofreram grandes impactos.
Na HBO Max, por exemplo, as séries Jornada Astral, com Angélica, e o Sandy + Chef, com a cantora Sandy, foram retirados do catálogo. O motivo é o mesmo: a fusão da Warner Media com a Discovery. Além disso, a plataforma adiou o projeto de novelas para o streaming.
Acontece que a HBO Max contratou grandes nomes da televisão brasileira, como Silvio de Abreu, Camila Pitanga, Raphael Montes e Antonio Fagundes para um trabalho de novela no streaming. Mesmo com o investimento, o desenvolvimento da novela vai ser pausado – sem data de retorno.
“É possível que [o sumiço e cancelamento de produções] se repita em países que ainda não regularam esse modelo de produção atual, pois não há nada hoje que garanta a visibilidade e o lançamento de nenhum produto. Entre os títulos afetados recentemente, não vemos quase nenhum europeu envolvido. Esse é um bom exemplo para demonstrar como certos governos estão bem mais na frente no entendimento da preservação das suas obras e suas ofertas para o público”, opina Marina.
A meu ver é um erro considerar que o Brasil está sendo valorizado pelas plataformas. Em 10 anos de atuação no país, o Brasil ainda produz menos para o streaming do que outros países europeus, por exemplo. Para mim só agrava a crise que foi instaurada com a falta de recursos públicos e garantia de um mercado regulado para o modelo.
Marina Rodrigues