Onde Nascem os Fortes: saiba tudo sobre a estreia da série
A produção da Rede Globo vai ao ar nesta segunda-feira (23/4)
atualizado
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Nesta segunda (23/4), na Globo, cartazes espalhados por todo o Brasil anunciam a estreia da supersérie Onde Nascem os Fortes. O crédito é de George Moura e José Luiz Villamarim. Trata-se do sexto trabalho da dupla, após o belíssimo filme Redemoinho, seriados e novelas que recolheram elogios e audiência, como O Canto da Sereia, Amores Roubados, O Rebu, Por Toda a Minha Vida.
Onde Nascem os Fortes é uma história original, em termos. “Resolvemos que queríamos voltar ao Nordeste, ao sertão, e o George teceu uma história impregnada de influências. Estão lá Lampião e Maria Bonita, o Conselheiro, Delmiro Gouveia”, explica Villamarim. “É um sertão que não é mais aquele da memória, mas vivo, um sertão em que convivem a poeira e o asfalto, os cavalos e as motos, os celulares e as picapes. E, dentro desse sertão, pode-se radiografar o Brasil, a questão do poder e do coronelismo.”
Villamarim é mineiro, Moura é pernambucano. Ambos vêm de famílias católicas, estudaram em colégios Maristas. Possuem as mesmas referências, influências e vivências. “A gente namorava no recreio, na igreja. Havia uma entrada lateral, a nave ficava deserta, escura e a gente ia para o amasso naquele ambiente de excitação e culpa. Então, quando eu escrevo o diálogo para Débora Bloch, como uma mãe que corre como uma oferenda a Deus, rezando pelo restabelecimento da filha, o Villa entende”, conta Moura.Para ele, Onde Nascem os Fortes veio como um desejo de mostrar que a modernidade no Brasil permanece presa ao arcaico e às velhas estruturas. Como todo capítulo inicial, o da supersérie é fragmentado, porque tem muitos personagens para apresentar. Mas alguns momentos/fragmentos ficam por conta do espectador.
Uma noite no sertão com apresentação da “Shakira sertaneja”. A movimentação é intensa: motos, cavalos, carros. É o emblema desse mundo que a série retrata. “Para mim, é decisivo”, diz Villamarim. “É a cena conceitual de abertura dos Fortes. Esse mundo em convulsão, transformação, está todo ali, naquela poeira de veículos e animais.” E Moura: “Eu estava no set naquela noite. Vi nascer o plano que você está falando, foi emocionante. Me deu uma coisa, uma emoção. Cheguei a chorar”. Tudo converge, no primeiro capítulo, para o confronto entre os personagens de Marco Pigossi e Alexandre Nero. O garoto arretado peita o poderoso das terras, que joga sobre ele seus capangas. Pigossi apanha, mas reage. Apanha mais. A fala de Nero: “Isso é para você aprender quem manda e quem é mandado”.
De repente, todas as histórias fragmentadas se organizam e fazem sentido. Pigossi desaparece e a irmã, Maria, inicia uma busca mítica por ele. Serão 53 capítulos, quatro vezes por semana – de segunda a sexta, exceto quarta, que é dia de futebol.
Moura avalia a diferença de escrever para cinema e TV. “Num filme, quando chegamos a 50 minutos, os conflitos já se encaminham para uma solução. Numa série, ou macrossérie, aos 50 os conflitos que vão delimitar a linha geral da história só começam a se esboçar.” Moura escreve, Villamarim filma. Discutem e trocam ideias, mas Moura não sugere como Villa deve construir a cena e o diretor também não interfere no diálogo.
De cara, a dramaturgia subverte o desenho dos personagens. Nero, que se chama Gouveia, como o mítico empreendedor do sertão, é pai dedicado, mas tem amante e faz enche de pancada aquele que ousou desafiar sua autoridade. Será ele o vilão da história? No final do capítulo, vestido de branco, surge o magistrado Ramiro (Fábio Assunção) praticando tiro ao alvo com rifle de mira telescópica. Assim fica difícil errar. “Todo dia é dia de caça, e de caçador”, diz o poderoso. O branco cria um arquétipo: será, em oposição a Nero, o personagem positivo da trama? Ramiro, o juiz, como inquisidor do sertão, é o senhor de tudo e inimigo mortal de Gouveia. Mocinho, bandido… As coisas não são tão simples. Vão se complicar ainda mais.
Maria, em busca do irmão, reviverá o arquétipo de Maria Bonita. Alice Wegmann é quem faz o papel, e Patrícia Pillar, como a mãe, vai se aproximar do juiz. Para complicar ainda mais, o magistrado tem um filho, Ramirinho, interpretado por Jesuíta Barbosa, e que é também a Shakira do sertão. O travesti evoca Visconti (Helmut Berger), emulando Marlene Dietrich em Os Deuses Malditos. Na abertura, o plano subjetivo da bicicleta, quando Maria cai, leva a outro, belíssimo que descortina a paisagem, o sertão. Ecos do deserto de David Lean, Lawrence da Arábia. “Parece presunçoso, não?”, pergunta o diretor. Na verdade, são coisas tão entranhadas no imaginário dele e de Moura que terminam vindo, naturalmente, a partir das sugestões do roteiro.