Onde Nascem os Fortes: diretores falam sobre a criação da série
José Luiz Villarim, Walter Carvalho e o roteirista George Moura comentam os bastidores da produção
atualizado
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A mais recente supersérie da TV Globo, Onde Nascem os Fortes, consolida a força dramatúrgica da emissora carioca. A direção minuciosa de um elenco estrelado, a narrativa sem maniqueísmos ambientada fora do eixo Rio–São Paulo e a fotografia do sertão da Paraíba são alguns dos ingredientes da bem-sucedida obra, encabeçada por três profissionais reconhecidos por obras como Amores Roubados (2014) e Justiça (2017): José Luiz Villarim, George Moura e Walter Carvalho.
Os três participaram de uma mesa de debates sobre os projetos televisivos dos quais foram parceiros ao longo dos últimos anos – parte da programação paralela da 20ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na Cidade de Goiás (GO). O Metrópoles conversou com eles.Com 53 capítulos assinados por George Moura em parceria com Sergio Goldenberg, Onde Nascem os Fortes agradou ao público e à crítica especializada desde a estreia. Ao escrever o enredo, focado na história de uma mãe em busca do filho desaparecido, Moura tinha entre seus objetivos falar do Brasil não cordial. “É o que chamamos de genealogia da ferocidade. O país no qual estamos vivendo hoje, da intransigência e da violência”, explica.
Segundo o roteirista, três personagens centrais foram o estopim para o desenrolar de toda a história: Pedro Gouveia (Alexandre Nero), representando a força do trabalho; Samir (Irandhir Santos), retratando a conexão com o divino; e Maria (Alice Wegmann), uma jovem simbolizando o coração em movimento. Para ele, desenvolver personagens críveis e com os quais os espectadores consigam se identificar é uma preocupação recorrente durante a escrita.
Um personagem não se constrói por si só. Você empresta muito de si nessa construção. Todos nós, na maioria das vezes, sonhamos em ser outra pessoa. E o norte dos meus personagens se dá nessa lacuna, entre quem ele é e quem gostaria de ser
George Moura
Atores entregues
O diretor-geral da série, José Luiz Villarim, afirma se sentir um intérprete das intenções do roteirista, mas com a liberdade de uma tradução livre. “Eu não escrevo, mas nós discutimos as cenas constantemente”, conta.
Para ele, atualmente, muitos perderam a paixão pelo ofício de atuar. Estão mais preocupados com o momento de ir embora e menos com a imersão. Por esse motivo, intérpretes como Irandhir Santos e Patrícia Pilar – que participou das séries Amores Roubados, O Rebu e, agora, de Onde Nascem os Fortes – são figuras repetidas nos sets de Villarim.
“Gosto de atores que cruzam a linha e estão entregues ao personagem. O Irandhir [Santos], por exemplo, é uma pessoa de outra ordem. Se pudesse, eu o colocaria em todos os meus projetos. Ele é a ‘maçã podre do bem’: assim como a fruta ruim estraga todo o cesto, ele arruma. As pessoas veem o que é um artista maior e se contagiam”, elogia.
Sem citar nomes, o cineasta conta ainda que, após apenas três dias de gravações, decidiu trocar a atriz que daria vida a Maria. “Eu me lembrei da Alice na hora, nós havíamos feito um teste e eu pirei na força dela. Ela já estava para fazer um outro papel e eu a convenci de dar vida a Maria”, relembra.
A luz vem do desejo
Em Onde Nascem os Fortes, a paisagem inóspita e repleta de poeira de Lajedo do Pai Mateus, no sertão da Paraíba, ganha vida com a direção de fotografia de Walter Carvalho. Captar a luz ativa e mantê-la viva durante os sete meses de gravação não se mostrou uma dificuldade para ele.
O diretor diz se guiar pela sabedoria de versos como o de João Manoel de Barros: “Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre”. Para Walter, esse poema soa como um conceito técnico de fotografia. “Como diz Ruy Guerra, a luz também vem do desejo”, considera.
Com atenção voltada aos futuros profissionais do cinema e audiovisual, Walter Carvalho finalizou o discurso com dicas para os estudantes. “Quando eu pego um texto para estudar do ponto de vista da fotografia, eu tenho de deixar parte sem ler, para no set trabalhar a partir do desconhecido. Pois, se não tiver esse espaço, as coisas acontecem na sua frente e você não vê”, conclui.
A repórter viajou a convite da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes do estado de Goiás