Sucesso do crime: casos sombrios viram aposta do streaming brasileiro
True crime ou adaptação de tragédias conhecidas se tornaram grandes sucessos nos serviços de streaming do Brasil
atualizado
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Rio de Janeiro (RJ) – Um rápido olhar pelos principais sucessos dos serviços de streaming no Brasil já dá uma pista sobre o que o público tem procurado. Na Netflix, Todo Dia a Mesma Noite virou um hit nacional, assim como Dahmer: Um Canibal Americano. Zapeando de plataforma, tem as duas temporadas de Dom no Amazon Prime Video. Mais um clique e chega Pacto Brutal – O Assassinato de Daniela Perez. O que isso tudo tem em comum? São produções que refletem crimes, seja relembrando o passado ou dramatizando criminosos e tragédias.
Pelos corredores da Rio2C, evento que reúne a indústria audiovisual no Rio de Janeiro, as produções true crime – aquelas que remontam a um caso real – e as adaptações ficcionais de tragédias são apontados como a grande aposta para o mercado brasileiro. É fato que o modelo não é novo, esteve presente na televisão nacional em diversos momentos, como no emblemático Linha Direta, que ganhará nova roupagem sob o comando de Pedro Bial, em 2023, na Globo.
No entanto, o interesse por esse tipo de produção tem se mostrado cada vez maior. Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo da Netflix Brasil, revelou que Todo Dia a Mesma Noite, série que relembra o incêndio da Boate Kiss, se tornou o conteúdo nacional mais visto da plataforma em 2023 e conquistou o posto de sexto seriado em língua não-inglesa no serviço de streaming. Dom, com Gabriel Leone, dramatiza no Prime Video a trajetória de um jovem carioca envolvido com o mundo das drogas. Após a primeira sequência bater recorde de audiência, o segundo ano está disponível no canal da gigante do varejo.
O sucesso também se reflete no caso de Pacto Brutal: o documentário sobre o assassinato de Daniella Perez se tornou a obra brasileira mais assistida da HBO Max. A Netflix, agora, prepara o lançamento de DNA do Crime, do diretor Heitor Dhalia, e com a atriz brasiliense Maeve Jinkings.
A produção é inspirada na investigação real da Polícia Federal sobre o assalto à base de uma transportadora de valores envolvendo brasileiros, no Paraguai, em 2017. “É para mostrar o andar de cima do crime no Brasil, que às vezes fica escondido, fora das telas. Terá muita ação e adrenalina”, comentou o diretor Heitor Dahlia.
A Warner Bros. Discovery, que controla HBO Max e outros canais do grupo, anunciou durante painel na Rio2C a produção de O Caso do Menino Henry Borel, fala da morte da criança de 4 anos, que tem a mãe e o padrasto como principal suspeito. A produção será baseada no livro Caso Henry – Morte Anunciada, da jornalista e advogada Paolla Serra.
“Nós seguimos na busca por boas histórias e que tenham uma forte relevância cultural e social: seja um tema novo e ainda não explorado ou as já conhecidas, mas que tragam uma perspectiva inédita”, revela Verônica Villa, responsável por produtos de não ficção da Warner. “Além do true crime, buscamos grandes histórias de superação, biopics de personalidades para os diferentes públicos, assim como formatos inéditos de reality show, que já fazem parte do DNA da Warner Bros Discovery.”
O sucesso do crime
Mabê Bonafé e Carol Moreira, criadoras do podcast Modus Operandi, um dos mais conhecidos do país sobre true crime, falaram sobre os motivos de o gênero ter tanto apelo junto ao público. “Tem dois pontos, um é que as plataformas de streaming aumentaram o acesso a essas narrativas. Outro é que eles são como uma montanha-russa, permitem você ter aquela adrenalina de conviver com um tema tão assustador, mas de uma forma segura”, opinou Moreira.
Mabê enfatizou a questão da responsabilidade na narrativa, para se evitar glamourizar os criminosos. “Hoje, temos várias maneiras de falar sobre isso. Antigamente, era muito sensacionalista, mas, atualmente, é possível abordar a questão por diferentes ângulos”, avalia.
A escritora e psicanalista Paula Febbe vai na mesma linha: “Podemos falar de tudo, desde que com responsabilidade. Assim, tudo pode ser feito”. Para Carol Moreira, esse senso precisa estar presente também na ficção sobre crimes, já que, segundo ela, esse gênero alcança audiências maiores.
Julia Rezende, diretora de Todo Dia a Mesma Noite, concorda com a avaliação. “Por meio do trabalho de cada um, construímos uma maneira muito respeitosa de contar essa história, encontramos a medida do trágico, um equilíbrio para não afastar as pessoas”, analisou.
Elisa Chalfon, diretora de não-ficção da Netflix Brasil, confirmou o interesse do público pelo gênero. Quando não se trata de uma versão ficcional de um crime, mas de um true crime clássico, a executiva entende que uma questão é essencial: o acesso.
“Quando estamos falando de um crime, a questão do acesso é essencial para tornar o produto factível, para viabilizar”, explicou a executiva. Vale lembrar que a Netflix é a responsável pelo true crime Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime.
*O repórter viajou a convite da Netflix