“O Outro Lado do Paraíso” transformou “textões” em novela de sucesso
Em seis semanas, a produção mudou de atração-problema para queridinha dos diretores de Globo. Investir nas redes sociais foi aposta certa
atualizado
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Por que “O Outro Lado do Paraíso” saltou de novela-problema para um fenômeno de audiência no período de seis semanas? O motivo é um só: a vingança de Clara (Bianca Bin) representa aquela que todos nós gostaríamos de realizar.
O escritor Gore Vidal fala que, para ter uma resposta rápida do público, políticos tocam em “pontos quentes” (red buttons): aborto, drogas ou casamento entre pessoas do mesmo sexo. Walcyr Carrasco, em sua trama, aborda esses temas, frequentemente vistos nos textões das redes sociais. A tática está funcionando.Clara tem um motivo pessoal para atacar a sua lista de inimigos. Todos ajudaram Sophia (Marieta Severo) a roubar as minas de esmeraldas da moça. Eles também representam os arquétipos constantemente criticados nas redes sociais: o delegado pedófilo (Flávio Tolezani); o juiz corrupto (Luís Melo); a racista (Eliane Giardini); o médico gay e homofóbico (Eriberto Leão); o marido abusador de mulheres e estuprador (Sérgio Guizé); e a cunhada ladra de filhos (Grazi Massafera).
A mocinha de franja fashion está dando vazão a toda a insatisfação expressada nas timelines do nosso dia a dia. A gente replica notícias de políticos corruptos e de redes pedófilas. Pessoas de ímpetos mais violentos até pedem suas decapitações em praça pública, mas, para elas, Mercedes (Fernanda Montenegro) reza todo dia “que se mantenham no caminho da luz”.
Renato (Rafael Cardoso) pode até mesmo virar o “justiceiro” tão desejado nas redes sociais. Por um azar do destino, ao tentar ajudar Clara, ele quase a matou, fazendo seu nome entrar na maldita lista. Porém, como ele não tem nenhuma característica reprovável publicamente, deve escapar da lista de ódio da audiência.
Vilões e mocinha vivem a simbiose que explica o sucesso da novela. Apenas a vingança condenaria a novela ao fracasso. Há até um exemplo concreto dentro da própria história, a situação de Duda (Glória Pires). História que não repercute nem empolga.
Walcyr é um ótimo criador de tramas, principalmente de vinganças, mas os diálogos das suas novelas são osso duro de aguentar. A direção de Mauro Mendonça Filho é capaz de dar uma amenizada no problema.
Há uma expectativa na Globo de que a novela ultrapasse o sucesso de “A Força do Querer”. Ainda não dá para afirmar isso. Mas é visível: antes se reclamava da concorrência com as redes sociais, “O Outro Lado do Paraíso” mostrou como usar os famigerados textões para atrair audiência à novela das 21h.