Netflix: o serviço de streaming que mudou a década da cultura pop
Nos últimos 10 anos, a empresa virou uma gigante do entretenimento e agora terá de enfrentar concorrentes de peso
atualizado
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2019 marca o encerramento da segunda década do século 21 e, sem sombra de dúvidas, chegamos à essa reta final com uma certeza: o tal do streaming mudou completamente os rumos da indústria do entretenimento nos últimos 10 anos. Gigantes do entretenimento e da tecnologia, como Disney, Amazon e Apple, entraram com força neste mercado que redefiniu a cultura pop. O começo de tudo se deu com uma locadora de vídeos: a Netflix.
É fato que a Netflix é a face mais visível da grande mudança da indústria cultural nesta década prestes a acabar. A empresa, que começou como um sistema de entregas de DVDs em domicílio, assumiu o papel de grande distribuidora e produtora de conteúdos audiovisuais. Na mais recente safra de lançamentos, estão a série The Witcher, protagonizada pelo hollywoodiano Henry Cavill, o filme O Irlândes, de Martin Scorsese, e Dois Papas, de Fernando Meirelles. O serviço hoje abriga produções com grandes nomes do mercado, como Anthony Hopkins, Ryan Reynolds e Robert De Niro.
No ano de 2013, a Netflix deixava de ser uma plataforma de distribuição de conteúdos para se tornar uma produtora, aos moldes dos estúdios. O serviço lançava sua primeira série original, House of Cards, que, com Robin Wright, Kevin Spacey e David Fincher no time, teve repercussão positiva imediata – mesmo que tenha terminado com desempenho bem abaixo do esperado. Desde então, no mundo dos seriados, foram diversos sucessos: Stranger Things, Orange is The New Black, BoJack Horseman, Demolidor, Unbreakable Kimmy Schmidt e Ozark. A maior parte delas devidamente indicadas e premiadas no Emmy ou Globo de Ouro.
O caminho, inevitavelmente, chegou aos cinemas. A Netflix passou a produzir filmes de diversos gêneros: a ponto de já ter faturado seis Oscar. Com destaque para o longa Roma, de Alfonso Cuarón, vencedor do troféu de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Sucesso de crítica, o serviço é também um incrível fenômeno de popularidade – com 158 milhões de usuários no mundo, dos quais 10 milhões são brasileiros.
“Somos uma empresa de entretenimento e, nos últimos 10 anos, estamos empoderando a experiência de entretenimento dos consumidores ao colocar o controle completo do que, quando e como assistir suas séries e shows favoritos, sem serem atrapalhados por anúncios e propagandas. Queremos que nossos assinantes possam desfrutar das melhores histórias do mundo em todos os gêneros e formatos, por isso nos empenhamos em trazer séries, filmes, documentários, humor e conteúdo para crianças e famílias com qualidade”, afirmou a Netflix ao Metrópoles, por meio de nota.
Mudança no mercado
O desempenho e popularidade da Netflix causaram uma grande alteração dentro da indústria: ao verem o crescimento do streaming, gigantes decidiram beliscar uma fatia do mercado. Assim, a Amazon criou o Prime Video, a empresa do Mickey apostou no Disney+ e a marca da maçã lançou o Apple TV+. Todos seguem o modelo criado pela precursora, oferecendo conteúdo original e um catálogo com grandes clássicos da televisão e do cinema – com ampla vantagem para a Disney, atualmente dona de um acervo enorme, acrescido recentemente do material da Fox.
Para Alexandre Kieling, professor e pesquisador da Universidade Católica de Brasília (UCB), a Netflix percebeu que o streaming era a grande mudança na indústria e esse movimento puxou outros players.
“O streaming é um sistema de distribuição que se encaixa à ubiquidade – esta noção de se consumir quando e onde se quer. Assim, surgiu outro movimento econômico, a integração das indústrias de hardwares [como a Apple e Amazon] com a produção de conteúdo”, explica Kieling.
No campo da produção, a consolidação dos serviços permitiu a expansão de mercados periféricos do entretenimento mundial. “Atualmente, as produções brasileiras, por exemplo, podem ser vistas globalmente”, aponta Kieling. “Acreditamos que mais pessoas mereçam ver suas realidades refletidas nas telas e que boas histórias podem surgir de todos os lugares e serem amadas no mundo todo. Desde 2016 investimos em produções de conteúdo brasileiro para levar aos nossos assinantes aqui, e nos 190 países onde estamos presentes, histórias verdadeiramente brasileiras”, informa a Netflix, que prevê investir R$ 350 milhões no audiovisual tupiniquim.
Liberdade
A palavra liberdade é quase sempre associada ao streaming. Não somente do ponto de vista dos consumidores: os produtores de conteúdo, por diversas vezes, afirmam que as séries e filmes podem utilizar-se de narrativas mais modernas e ousadas, quando comparado aos meios mais tradicionais da indústria, como o cinema e as televisões aberta e fechada.
Steven Strait, o James Holden de The Expanse, foi enfático ao falar sobre este tema em entrevista coletiva na Comic Con Experience 2019, em São Paulo. O ator, que viu a série ser cancelada por um canal tradicional e “salva” pela Amazon Prime Video, se disse mais livre.
“O streaming nos permite uma linguagem mais livre, com menos restrições do que a televisão. A atual temporada de The Expanse está cheia de conteúdos que seriam barrados. O streaming nos dá uma liberdade imensa”, avaliou.
Concorrência
Como toda precursora, a Netflix enfrentará, na próxima década, o desafio de enfrentar um mercado mais consolidado e com um número maior de concorrentes. Investindo em diversas áreas, ela enfrentará empresas que não vivem apenas de conteúdo – a Amazon é uma rede de varejistas, a Apple fabrica celulares e computadores e a Disney possui negócios em variadas áreas. E essa batalha acontecerá também em esferas locais.
Um dos exemplos mais recentes disso foi a entrada da Globo nesse mercado: a gigante brasileira criou o Globoplay, serviço que não apenas tem investido em produções originais, como conta com o enorme acervo da emissora, com foco especial nas novelas. Mesmo que, oficialmente, a Netflix diga que a expansão do mercado melhore a vida do consumidor, há sinais turbulentos no caminho.
No Brasil, por exemplo, a plataforma é a mais cara: sua assinatura mais simples é de R$ 27,90, enquanto as outras custam R$ 9,90. Nos Estados Unidos, estima-se que o Disney+, lançado nos EUA em novembro, teria retirado 1 milhão de usuários norte-americanos da Netflix.