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Netflix: Inacreditável é forte relato sobre injustiça contra mulheres

A série de true crime da plataforma é a primeira de seu gênero a tratar de um crime de abuso sexual de maneira realística e não-gratuita

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Beth Dubber/Netflix
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1 de 1 UNBELIEVABLE_101_Unit_01125R - Foto: Beth Dubber/Netflix

A Netflix lançou, no dia 13 de setembro, a minissérie Inacreditável. E esse é realmente a melhor palavra para descrever tudo que acontece ao longo dos oito episódios – protagonizados por um elenco estrelado, que inclui Toni Collette (Hereditário), Kaitlyn Dever (Fora de Série) e Merritt Wever (Birdman).

A série conta a história real de Marie, uma adolescente que passou anos no sistema de adoção e finalmente está morando sozinha. Ela sofre a acusação de mentir às autoridades sobre um estupro que aconteceu no meio da noite e sem nenhuma testemunha nem provas físicas capazes de corroborar sua história. É como se seu agressor nunca tivesse estado em seu apartamento. Paralelamente, duas detetives se juntam para solucionar uma série de violências sexuais no estado de Colorado, nos Estados Unidos.

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Eventualmente, não apenas a polícia, mas também todos ao seu redor começam a duvidar da história da adolescente
Embora ela tenha se submetido a um exame, as provas em seu apartamento são insuficientes para corroborar sua história
A detetive Karen Duvall leva seu trabalho a sério, seguindo todas as pistas do caso
Embora trabalhe com casos pesados, a detetive Grace Rasmussen se mantém otimista após se juntar a Karen
Juntas, as detetives de condados diferentes conseguem mapear ataques similares em dezenas de locais no Colorado
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Logo no começo da investigação sobre o crime de Marie, dúvidas já são jogadas sobre ela

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Eventualmente, não apenas a polícia, mas também todos ao seu redor começam a duvidar da história da adolescente

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Embora ela tenha se submetido a um exame, as provas em seu apartamento são insuficientes para corroborar sua história

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A detetive Karen Duvall leva seu trabalho a sério, seguindo todas as pistas do caso

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Embora trabalhe com casos pesados, a detetive Grace Rasmussen se mantém otimista após se juntar a Karen

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Juntas, as detetives de condados diferentes conseguem mapear ataques similares em dezenas de locais no Colorado

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A série termina com a apreensão do criminoso

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O agressor não discriminava de acordo com idade - seus ataques pareciam aleatórios

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Lilly Darrow (Annaleigh Ashford) foi a única que conseguiu escapar do agressor ao pular do segundo andar de sua casa

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A série, com foco nas mulheres, pode ser uma das melhores da Netflix neste ano

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Além de ser uma das histórias mais difíceis de assistir, a trama ainda tem um toque de esperança, mas não o bastante para ter um final completamente feliz. Essa é uma experiência que fica com as vítimas pelo resto da vida. A narrativa é contada de uma forma que pode até ser um gatilho para vítimas de estupro pelo realismo levado à tela. Antes de assistir, saiba: você vai passar por muita indignação, raiva e agonia, mas não ficará satisfeito com o final da história. Essa não é a meta da série.

É fatigante assistir ao que aconteceu com Marie (Dever); desde seu estupro até à incompetência e dúvidas dos policiais que deveriam a estar ajudando. Ou mesmo o fato de que somente anos depois ela consegue justiça pelo crime cometido contra ela. O telespectador pode até sentir um pouco mais de esperança quando conhece a detetive Karen Duvall (Wever), que, além de ser atenciosa com outra vítima de estupro (interpretada por Danielle Macdonald, de Patti Cake$ e Dumplin’), demonstra ter consciência do peso do caso na vida das mulheres.

Outra grande ajuda no lado dos “mocinhos” vem da teimosa e talentosa detetive Grace Rasmussen (Collette), que também se dedica a encontrar um estuprador em seu condado. Por sorte, Karen vê semelhanças entre seu caso e o de Grace. Toni Collette foi a escolha perfeita para interpretar a detetive durona com um coração de ouro. Ela faz ótima dupla com Merritt Wever, a investigadora disciplinada com voz suave. Juntas, as mentes das mulheres se completam.

Apesar de todo o esforço, uma coincidência foi essencial na hora de solucionar o caso. Se Karen não tivesse percebido as similaridades entre os crimes, eles passariam batidos, como aconteceu com Marie e todas as outras vítimas do mesmo agressor.

Realismo

A série também se mantém realística. No primeiro episódio, após Marie ser interrogada por dois policiais, ela tem de fazer a perícia por violência física e conjunção carnal. A sequência é completamente clínica, sem adornos e de quebrar o coração. Ainda por cima, depois do exame, a jovem é avisada que ela pode começar a pensar em suicídio, e Kaitlyn Dever interpreta perfeitamente a dificuldade da vítima em se expressar.

A série também trata de abuso sexual sem ter cenas de violência gratuita. Os flashbacks de Marie mostram a noite do crime, porém, de sua perspectiva, se vê as coisas confusas, com medo, sem ar e tentando focar em um evento tão traumático. Isso acontece, igualmente, com outras mulheres e o seriado acerta ao mostrar que as reações: uma lembra apenas a voz do agressor, outra se recorda de tudo em detalhes, enquanto Marie tenta bloquear tudo.

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A atuação de Kaitlyn Dever foi fiel à personalidade real de Marie Adler
Dados

O show é importante não apenas para os Estados Unidos, mas em todos os países no mundo. De acordo com o Atlas da Violência 2018 (Ipea/FBSP) – a primeira vez que o Atlas apresentou uma análise sobre a violência sexual contra mulheres e meninas –, somente no Brasil em 2018 houve 49.497 casos de estupro registrados nas polícias brasileiras e 22.918 estupros nos registros do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso equivale a 135 estupros por dia.

O estudo ainda aponta que, entre 2013 e 2018, o número de registros de estupro no sistema de saúde dobrou, e cerca de 51% dos casos em 2016 vitimaram crianças com menos de 13 anos de idade. Em perspectiva internacional, nos EUA, apenas 15% do total dos estudos são reportados à polícia. Caso a taxa de subnotificação do Brasil fosse igual à americana, isso significaria que aconteceriam entre 300 mil e 500 mil estupros no Brasil a cada ano.

Apesar de não ser uma série divertida, na qual você “esquece” de seus problemas, Inacreditável é uma lição de vida. Não é algo feito para mulheres nem para homens; é um ensaio sobre a injustiça no sistema de justiça americano, que pode ser expandido no mundo inteiro. Tudo é contado de um modo no qual você vai se pegar pensando “não acredito”.

Avaliação: Excelente

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