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O Outro Lado do Paraíso erra ao abordar estupro e pedofilia

Especialistas condenam a forma como os temas foram postos em debate. Violência sexual ganhou força nos últimos anos na TV

atualizado

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Laura sessão de hipnose red
1 de 1 Laura sessão de hipnose red - Foto: TV Globo/Divulgação

A maneira como a TV – em especial novelas e minisséries – aborda determinados temas pauta as discussões na sociedade. Há apenas quatro meses no ar, O Outro Lado do Paraíso tem feito pessoas de todas as camadas sociais refletirem sobre um assunto incômodo, porém necessário, a pedofilia.

Escrita por Walcyr Carrasco, a história da jovem Laura (Bella Piero) estuprada pelo padrasto (Flávio Tolezani) aos 8 anos de idade lembra casos da vida real, tantas vezes presentes nas manchetes dos noticiários.

Em O Outro Lado do Paraíso, o autor escreveu uma cena em que Clara (Bianca Bin) é estuprada pelo noivo Gael (Sergio Guizé) durante a lua de mel. A passagem causou polêmica, pois violência dentro do casamento ainda é um grande tabu para a sociedade. Em muitos relacionamentos abusivos, as mulheres sentem-se obrigadas a obedecer aos impulsos do marido.

Nos dois casos, o retrato das violências sexuais foram alvos de críticas por parte de especialistas. Na situação vivida por Laura, a moça procurou uma coach em busca de tratamento – quando o indicado é procurar de psicólogos e psiquiatras. O Conselho Federal de Psicologia afirmou, em nota oficial, que a emissora presta um “desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos” o sentimento de jovens vítimas de abusos sexuais na infância.

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Laura (Bella Piero) não é a única vítima do pedófilo
Traumatizada, a jovem não consegue entender o motivo que a faz ter tanto pavor do padrasto
Laura não consegue dormir ao lado do marido
Após lembrar das atrocidades, a vítima decide denunciar o criminoso
Desesperado, Vinícius pede perdão e diz amar a enteada
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Na Novela, Vinícius (Flávio Tolezani) estupra enteada dos 8 aos 10 anos

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Laura (Bella Piero) não é a única vítima do pedófilo

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Traumatizada, a jovem não consegue entender o motivo que a faz ter tanto pavor do padrasto

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Laura não consegue dormir ao lado do marido

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Após lembrar das atrocidades, a vítima decide denunciar o criminoso

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Desesperado, Vinícius pede perdão e diz amar a enteada

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Pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da psicologia habilitados para os cuidados com a saúde mental.

Conselho Federal de Psicologia

O Instituto Brasileiro de Coaching também se manifestou sobre a polêmica. “Trauma proveniente de abuso sexual não é, de fato, demanda para coaching”, explicou Marcus Marques, diretor-executivo da entidade.

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Cena do julgamento de Vinícius (Flávio Tolezani)

Estupro no casamento
A sequência de estupros contra Clara, exibida nas primeiras semanas do folhetim, também teve repercussão negativa. Isso porque a vítima não denunciou a violência nem buscou orientação sobre como proceder. “Apesar de servir para alertar a população, os autores têm retratado o tema de maneira muito grave. Algumas pessoas não estão preparadas para ver cenas tão fortes”, acredita a psicóloga Margareth Campo.

Outra abordagem equivocada: no desenrolar da violência, a personagem não denuncia nem se separa do agressor. Pelo contrário, submete-se a abusos cada vez mais graves, que culminam em violência física. Talvez por tamanha repercussão negativa, o autor tenha preparado a reviravolta no destino da protagonista, que já chegou a denunciar e mandar prender o ex-marido. “É necessário muito cuidado com assuntos tão delicados, sofridos e humilhantes. Eu penso que deveria haver um trabalho de conscientização nas comunidades antes de jogar nas novelas”, ressalta Margareth.

Outros enredos
Não é de hoje que cenas de violência sexual são retratadas em produções globais. Nos últimos seis anos, a frequência de tramas envolvendo estupros aumentou consideravelmente. Só em 2017, além de O Outro Lado do Paraíso, outras duas novelas recorreram ao tema: Os Dias Eram Assim e Malhação.

 

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Na série Os Dias Eram Assim (2017), Vitor (Daniel de Oliveira) dopa a ex-mulher Alice (Sophie Charlotte) e a estupra em um motel enquanto ela está inconsciente. A trama abordou a violência sexual outras duas vezes
Na juvenil Malhação (2017), Katarine, vivida por Talita Younan, foi violentada pelo padrasto Roger, interpretado por José Karini
Na série Justiça (2016), Débora é violentada durante o Carnaval por um desconhecido
A minissérie Ligações Perigosas (2016) foi muito criticada por romantizar uma cena de estupro
Em Verdades Secretas (2015), de Walcyr Carrasco, a personagem de Grazi Massafera é vítima de estupro coletivo na cracolândia
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O Outro Lado do Paraíso (2017) causou polêmica ao retratar estupro dentro do casamento. Mesmo no século 21, tema ainda é tabu

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Na série Os Dias Eram Assim (2017), Vitor (Daniel de Oliveira) dopa a ex-mulher Alice (Sophie Charlotte) e a estupra em um motel enquanto ela está inconsciente. A trama abordou a violência sexual outras duas vezes

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Na juvenil Malhação (2017), Katarine, vivida por Talita Younan, foi violentada pelo padrasto Roger, interpretado por José Karini

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Na série Justiça (2016), Débora é violentada durante o Carnaval por um desconhecido

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A minissérie Ligações Perigosas (2016) foi muito criticada por romantizar uma cena de estupro

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Em Verdades Secretas (2015), de Walcyr Carrasco, a personagem de Grazi Massafera é vítima de estupro coletivo na cracolândia

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Neidinha (Jessica Barbosa) protagonizou a primeira cena de estupro coletivo dos folhetins globais, na novela Em Família (2014)

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A secretária Laura (Marjorie Estiano) é assediada sexualmente pelo senador Laranjeiras (Dudu Sandroni), em Lado a Lado (2012)

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Tramas antigas
Na série As Noivas de Copabacana (1992), o psicopata Donato (Miguel Falabella) estrangulava mulheres vestidas de noiva em pleno ato sexual. Além de gerar debates sobre a violência contra a mulher, a trama chocou pela força das cenas para os padrões daquela geração.

A dramaturgia de Dias Gomes foi inspirada na história real de Heraldo Madureira, carioca que assassinava vítimas vestidas de noiva. Condenado, ele fugiu do manicômio judiciário onde estava preso.

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Miguel Falabella e Christiane Torloni em cena clássica de As Noivas de Copacabana (1992)

 

Há 38 anos, estreava a novela Coração Alado na TV Globo. O folhetim, de Janete Clair (1925-1983), chocou a sociedade brasileira ao levar ao ar uma cena de estupro, em plena ditadura militar. O capítulo mostrava Vivian (Vera Fischer) sendo atacada pelo cunhado Leandro (Ney Latorraca).

Em entrevista ao jornal O Globo de 28 de setembro de 1980, Ney chegou a dizer que não enxergava seu personagem como uma pessoa totalmente má. “Qual o homem que não se sentiria atraído por uma cunhada como a Vera Fischer?”, zombou.

Reprodução
Ney Latorraca e Vera Fischer protagonizaram primeira cena de estupro na TV brasileira, em Coração Alado (1980)

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