Jô Soares apresenta a última edição do “Programa do Jô” nesta sexta
O apresentador que consagrou o gênero de talk-show no Brasil deixa lacuna a ser ocupada por outros humoristas
atualizado
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O “beijo do Gordo” nesta sexta-feira (16/12) marca a despedida do “Programa do Jô”, após 16 anos de Rede Globo. Jô Soares se tornou o símbolo dos talk-shows brasileiros, uma espécie de David Letterman nacional. O fim será marcado por uma conversa com o cartunista Ziraldo — o que já ocorreu outras 24 vezes.
A trajetória do humorista como entrevistador começou em 1988, no SBT, no programa “Jô Soares Onze e Meia”. Em 2000, ele estreou o “Programa do Jô”, na Globo. Ao todo, foram 28 anos de atrações diárias, com um total de 15 mil entrevistas.
Ao longo da carreira, Jô enfrentou temas políticos com a mesma naturalidade com que conversou com artistas e músicos. Já passaram pelo sofá do apresentador nomes como o ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev e o fundador da Microsoft, Bill Gates.“Jô é um personagem único na história da televisão do Brasil. Criou e atuou em alguns dos mais importantes e inventivos programas de humor exibidos na TV desde os anos 1960. E, a partir de 1988, no SBT, com o “Jô Soares Onze e Meia”, mostrou um talento enorme como apresentador de talk-show. Não inventou a roda, mas influenciou tudo que veio depois”, avalia o crítico de tevê Maurício Stycer, em entrevista ao Metrópoles.
Modelo cansando?
A inventividade elogiada de Jô Soares perdeu fôlego. O último quadro de destaque criado pelo humorista foi o “Meninas do Jô”, desenvolvido em 2005, para acompanhar os desdobramentos do escândalo do mensalão.
“A parte interessante residia na criação de um novo estilo de debate, que trouxe novas luzes para a discussão dos temas importantes da vida pública”, avalia o professor de Comunicação Social Cláudio Cardoso, autor de “O riso e o siso do Programa do Jô”.
No entanto, nos últimos 11 anos, Jô parece ter estagnado. O humorista não conseguiu remodelar o formato que o consagrou. Ele mesmo reconheceu esse problema. “Queria sair de forma digna e não de maneira melancólica. Deixar saudade e não incômodo”, declarou ao jornal O Globo.
Concorrentes
Até 2014, na tevê aberta, Jô Soares reinava sozinho. Nos últimos dois anos, nomes como Danilo Gentili (“The Noite” – SBT), Rafinha Bastos (“Agora é Tarde”, na Band), Fábio Porchat (“Programa do Porchat”, na Record) e Marcelo Adnet (“Adnight”, na Globo) mergulharam no modelo e apresentaram novas propostas.
“É um buraco que não será nunca preenchido. O Jô é tão incrível que precisou de três pessoas para pegar esse bastão, eu, o Adnet e o Danilo — e agora o Bial (cotado para substituí-lo na Globo)”, avalia Fábio Porchat, em entrevista ao Uol.
Despedida controversa
Em sua última temporada, Jô Soares viveu em uma montanha-russa de emoções. O anúncio da despedida gerou comoção em parte do público.
Algumas entrevistas, no entanto, tiveram recepção controversa. Ainda em 2015, o apresentador conversou com Dilma Rousseff (veja vídeo aqui). Em meio a um clima de tensão política, Jô Soares foi alvo de inúmeras críticas, sofrendo ameaças.
Neste ano, ele conseguiu poucas vezes ganhar números expressivos de audiência. Uma delas foi no bate-papo com Faustão, quando o “Programa do Jô” registrou 10,2 pontos no Ibope.
O apresentador recebeu diversas críticas pelo tom agressivo adotado em algumas edições. Na última terça-feira (13), ele atacou o cantor Marrone e tentou várias vezes roubar o protagonismo dos entrevistados. Em outubro, Jô se desculpou com os pesquisadores Bruno Paes, Esther Solano e Willian Novaes após bater boca com eles durante entrevista sobre os black blocs.