Pesquisador: Silvio Santos fez de Jô o grande entrevistador do Brasil
Biógrafo de Silvio Santos, Fernando Morgado lembra que Jô Soares Onze e Meia, do SBT, foi um marco na vida do apresentador
atualizado
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Apresentador, ator, humorista, escritor e diretor, Jô Soares morreu na madrugada desta sexta-feira (5/8), aos 84 anos, deixando um grande legado na televisão brasileira. Segundo Fernando Morgado, consultor e professor de televisão, autor dos livros Silvio Santos – A Trajetória do Mito e Comunicadores S.A, duas palavras resumem o trabalho do “Gordo”: “Versátil e revolucionário”.
“Versátil porque foi capaz de trabalhar com diferentes artes e teve sucesso em tudo que se propôs a fazer. Revolucionário porque foi um dos responsáveis, juntamente com Chico Anysio e outros, por criar um estilo genuinamente televisivo de se fazer humor, além de se consagrar como um dos grandes entrevistadores do Brasil”, comenta.
Para o especialista, o sucesso de Jô teve uma contribuição importante de outro grande comunicador. “Jô Soares se tornou o principal entrevistador do Brasil graças ao Silvio Santos. A Globo, onde Jô trabalhava na época, não acreditava que o humorista fosse capaz de assumir um talk show de sucesso. E foi o Silvio que abriu as portas para lançar o Jô Soares Onze e Meia, cujo formato é claramente inspirado nos late shows dos Estados Unidos”, lembra o biógrafo de Silvio.
Segundo Fernando, o Jô Soares Onze e Meia não apenas deu audiência e faturamento para o SBT, como trouxe prestígio para a emissora, que ainda era encarada com certo preconceito pelo mercado. “O programa, por exemplo, se transformou no grande palco de debates e entrevistas na TV durante o processo de impeachment do Collor. Além disso, quebrou paradigmas por entrevistar figuras de todas as vertentes e falar de todas as emissoras, algo que a Globo, por exemplo, não permitia naquele tempo”.
A volta de Jô Soares para a Globo, em 2000, também foi marcante. “Na minha opinião, a primeira entrevista, feita com Roberto Marinho no jardim da mansão no Cosme Velho, foi uma demonstração de força que Jô deu para aqueles que, no passado, negaram a ele a chance de ter um talk show na emissora carioca”, analisa o especialista.
“Também é importante ressaltar o legado de Jô Soares para o humor. Na Record, Jô participou de momentos inesquecíveis, inclusive na Família Trapo. Já na Globo, entre os anos 1970 e 1980, foi um dos responsáveis pela criação de um humor verdadeiramente televisivo, usando mais a linguagem do próprio meio e abandonado alguns recursos herdados do rádio e do teatro de revista”, completa Fernando.