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Indígenas ocupam filmes e séries e mostram força de povos originários

Os povos indígenas ganham cada vez mais protagonismo no ramo do audiovisual e refletem a riqueza cultural do país também nas telas 

atualizado

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Foto: Globo/Reprodução
foto colorida de duas mulheres e dois homens indigenas de mãos dadas em um semi-circulo - metrópoles
1 de 1 foto colorida de duas mulheres e dois homens indigenas de mãos dadas em um semi-circulo - metrópoles - Foto: Foto: Globo/Reprodução

Era o ano de 2005 quando Alma Gêmea estreou na Globo e apresentou Serena, a jovem protagonista filha de uma indígena e um garimpeiro. Personagem vivida por Priscila Fantin, mulher branca sem nenhuma descendência indígena. A novela das seis é só um dos exemplos do quanto o audiovisual estereotipou, por muitos anos, os povos originários.

Agora, a mesma emissora que colocou nos papéis de indígenas nomes como Deborah Secco (Caramuru, A Invenção do Brasil), Stênio Garcia (A Muralha), e Cléo Pires (Araguaia), abriu espaço no horário nobre para que intérpretes  de variadas etnias apresentem a sua própria cultura aos brasileiros. 

Em Terra e Paixão, Walcyr Carrasco se redime da escolha em Alma Gêmea, e coloca no ar a primeira novela nacional com um núcleo inteiramente composto por representantes dos povos originários. Na trama, Daniel Munduruku interpreta o pajé Jurecê, que tem importante papel na vida dos protagonistas Aline (Barbara Reis) e Caio (Cauã Reymond). Ele tem dois filhos: Raoni (Mapu Huni Kuî) e Iraê (Suyane Moreira), e também uma neta, Yandara Guató (Rafaela Cocal). Rafaela é prova da importância dessa diversidade nas telas. 

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Jurecê (Daniel Munduruku)
Yandara (Rafaela Cocal)
Raoni (Mapu Huni Kui)
Iraê (Suyane Moreira)
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Núcleo de povos indígenas de Terra e Paixão tem quatro atores

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Jurecê (Daniel Munduruku)

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Yandara (Rafaela Cocal)

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Raoni (Mapu Huni Kui)

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Iraê (Suyane Moreira)

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“Quando crescemos vamos entendendo mais e nos percebendo mais. Quando criança, era mais leve [essa falta de identificação], mas ao longo do meu crescimento fui vendo poucos artistas em quem eu pudesse me espelhar e ver minhas raízes neles também”, afirma ao Metrópoles a descendente do povo Wassú Cocal. Entretanto, ela reconhece que existe uma crescente na ocupação desses espaços e reforça a importância dos pequenos passos.

“Furar a bolha dessa grande indústria do audiovisual, em geral, é um trabalho lento, mas possível, e já estamos fazendo isso. Hoje termos um núcleo indígena na novela das 21h da TV Globo é algo visto, notado e isso que precisamos, que reparem nossa cultura, tenham respeito pelos povos indígenas e que outros atores ganhem oportunidades.”

Quem também reconhece essa movimentação é a secretária do audiovisual do Ministério da Cultura, Joelma Gonzaga. Ela avalia que existe uma movimentação para criar narrativas protagonistas, tanto em frente, quanto por trás das câmeras. 

“O audiovisual é compreendido por estes grupos como ferramenta de luta, na defesa de seus territórios, na afirmação de suas culturas e realidades e como forma de enfrentamento e denuncia às violências que as comunidades indígenas estão expostas”, explica. 

Incentivo a produtos indígenas

A secretária também adianta que a secretaria vem trabalhando para fomentar a participação dos povos originários no audiovisual. A exemplo, ela conta que existia uma reserva de vagas nos editais lançados pelo órgão e que o edital curta afirmativo também passou a incluir pessoas indígenas em 2023 — antes ele era voltado apenas para negros. Entretanto, a resposta ainda tem sido fraca. 

“Reconhecemos que o percentual de inscritos ainda é pequeno, acentuando a necessidade de articulação de políticas de fomento à produção e a formação. Neste sentido, a Diretoria de Formação e Inovação da Secretaria do Audiovisual e a Diretoria de Formação Artística estão trabalhando na articulação do programa de formação de agentes mobilizadores indígenas”, detalha. Esses próximos passos visam encontrar um grupo que possa orientar políticas desenvolvidas na pasta de Joelma Gonzaga. 

Indígenas por trás das câmeras

Não é apenas nas telas que esses povos têm conquistado espaço. Além de fazer trabalhos como atores e atrizes, os indígenas também têm se destacado na produção e direção de projetos audiovisuais. Um deles é a série Cidade Invisível, que estreou a segunda temporada em março deste ano, na Netflix. 

Após críticas por uma primeira temporada sem representantes, a produção de Carlos Saldanha apostou na atriz Zahy Tentehar no elenco e na diretora Graciela Guarani. Em entrevista ao Metrópoles, ela reforçou que trazer indígenas para dentro da produção é uma forma de engrandecer o trabalho: “Só se tem a ganhar, com essas narrativas e olhares que abrangem toda a brasilidade”.

Os trabalhos indígenas também ganharam destaque em festivais de cinema durante o ano de 2023. No 34º Curta Kinoforum – Festival Internacional de Curtas de São Paulo, que ocorreu entre o fim de agosto e o começo de setembro deste ano, o filme Thuë Pihi Kuuwi — Uma Mulher Pensando, de Edmar Tokorino Yanomami, Roseane Yariana Yanomami e Aida Harika Yanomami; foi um dos 10 melhores curtas nacionais de acordo com a votação do público. 

mulher indígena com criança no colo e outra mulher indígena - metrópoles
Thuë Pihi Kuuwi – Uma Mulher Pensando, de Edmar Tokorino Yanomami, Roseane Yariana Yanomami e Aida Harika Yanomami

Outro título que se destacou em eventos do tipo foi produzido por Morzaniel Iramari. Mãri-Hi – A Árvore do Sonho conquistou o troféu É Tudo Verdade, no evento homônimo e também conhecido como Festival Internacional de Documentários, além do prêmio de R$ 6 mil dado ao Melhor Documentário da Competição Brasileira: Curtas-Metragens.

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