Fernanda Montenegro revela história marcante no Conversa com Bial
Em íntima conversa com Pedro Bial, atriz traz lembranças do teatro e do marido Fernando Torres e comenta sobre a experiência de teatro
atualizado
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Dezoito entrevistas em 14 meses sobre seus quase 90 anos. Esse foi o tempo necessário para que as mais valiosas lembranças de Fernanda Montenegro pudessem ser compartilhadas com todo o Brasil, em um livro de memórias recém-lançado. No Conversa com Bial, desta quinta-feira (03/10/2019), a primeira dama da dramaturgia brasileira conta o que aprendeu e desaprendeu até aqui. Ao lado de Marta Góes, jornalista que colaborou na autobiografia Prólogo, Ato, Epílogo, Pedro Bial tem a honra de dar voz a tantos brasileiros e encarnar o carinho do público no programa dedicado ao talento e carisma da atriz.
Fernanda entra no estúdio ao som dos aplausos calorosos da plateia. A artista revela que tem as mãos geladas e que o frio na barriga ao subir em um palco nunca passa. “Sem isso, não tem vida”, revela Fernanda já deixando claro que ser atriz é mais do que apenas o seu ganha pão, mas a sua grande vocação. Ao ser questionada sobre o que a motivou a, finalmente, publicar uma autobiografia, Fernanda abre um pouco o coração ao revelar, com a sua entonação característica, que “foi para os netos.” Ela relembra então histórias antigas, a primeira sobre os seus pais imigrantes e a brasilidade adquirida até chegar a lição mais marcante que aprendeu com eles: a arte de sobreviver. Pedro Bial aproveita o gancho e lê um trecho do livro que conta quando, aos oito anos, a atriz pisou pela primeira vez no palco. O apresentador também pergunta curioso sobre a origem do verdadeiro nome da atriz, Arlette, em homenagem a uma atriz francesa da época.
Mas Fernanda Montenegro não teve apenas flores e glórias em seu caminho. No programa, a convidada conta do preconceito vivido, nos anos cinquenta, quando era obrigada a andar na rua com uma carteirinha que mostrava abertamente a escolha que tinha feio para a vida: ser atriz. A artista também recorda, com lágrimas nos olhos, a reação de seus pais quando souberam que o seu amor pelo teatro não era algo passageiro, já que vivia em uma época em que pertencer ao meio artístico não era motivo de orgulho. “La pelas tantas, eles entenderam. Eu tinha o teatro como ofício e isso nunca deixou de existir. Ser atriz é uma vocação, se você não fizer isso, simplesmente morre”, diz.
Em meio a diversos vídeos preciosos que contam a sua trajetória em cena e fora delas, a convidada se emociona quando Pedro Bial a faz lembrar dos amigos e entes queridos que já partiram. Em especial, de seu marido e companheiro, o ator e diretor Fernando Torres, falecido em 2008. “Fernando foi o responsável pela felicidade diante da minha vocação de ser atriz. Nunca tive impedimentos. Ele era um companheiro tão, ou até mais, vocacionado do que eu”, lembra. Sobre outros parceiros de profissão, como Nelson Rodriguez e Millôr Fernandes, Fernanda diz com a voz embargada: “Esses homens fazem falta. Mesmo com a censura que vivíamos na época, podíamos nos expressar.”
A jornalista Marta Góes, figura que embarcou com Fernanda na jornada do livro, também se junta à conversa de hoje. “Fernanda é única, uma pessoa especial. Para mim, foi um prazer incrível transcrever essas conversas. Que pena que o leitor não terá a oportunidade de ouvir a voz de Fernanda contando as histórias do livro”, revela a jornalista. No programa, Marta ainda revela uma declaração que ouviu da filha da artista, a também atriz Fernanda Torres: “Minha mãe não conhece o conceito de ócio. É uma formiguinha operária. Isso faz ela ser o que é.”
Com direção artística de Monica Almeida, o Conversa com Bial é exibido após o Jornal da Globo.